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francis pisani

 

19/07/2012 - 16h01

Na África do Sul, tecnologias de informação e comunicação não são prioridade

A África do Sul tem sucessos reais no campo das tecnologias de informação e comunicação (TIC), mas não parece disposta a transformá-los em eixo estratégico de seu desenvolvimento, o que é lamentável.

Comecemos pelos sucessos.

O PayPal nasceu da fusão de duas empresas, das quais a X.com foi criada pelo sul-africano Elon Musk, hoje mais conhecido pela Tesla, fabricante de carros esporte elétricos e sobretudo pela Space X, a primeira empresa privada que conseguiu colocar em órbita e recuperar uma nave espacial (22 de maio de 2012).

Mark Shuttleworth fez fortuna vendendo o programa de criptografia que criou à VeriSign. O capital assim obtido permitiu que se tornasse o primeiro sul-africano a ir ao espaço e criar uma fundação que financia "mudanças inovadoras na sociedade". Fundou e dirige a Ubuntu, produtora de um sistema operacional de fonte aberta fácil de instalar em computadores.

A Mxit.com é uma plataforma de chat, pagamentos e jogos que conta com mais de 50 milhões de usuários e atualmente opera em mais de uma dezena de países, principalmente no hemisfério sul.

Também devemos acrescentar que os serviços de Web da Amazon foram idealizados e desenvolvidos por Chris Pinkham, na Cidade do Cabo.

Mesmo assim, depois de ter passado uma semana lá, a impressão que me restou foi a de que as TIC não representam prioridade estratégica no país.

Aquilo que três de meus interlocutores me disseram serve de exemplo.

Responsável pelos setores industriais da Agência de Inovação de Tecnologia de Pretória, Pontsho Maruping administra o apoio governamental à inovação nos campos da energia, mineração, métodos industriais avançados e às TIC --que ficam em quarto lugar. "Para ser honesta", ela diz, "creio que não conferimos maior importância a isso porque temos capacidade suficiente de gerar enfoques inovadores em outros setores". As TIC são valorizadas sobretudo por sua contribuição transversal, mas Maruping reconhece que "a coordenação sem dúvida não é tão boa quanto deveria".

Do outro lado do país, Walter Baets dirige a Escola de Pós-Graduação da Universidade da Cidade do Cabo. Ele diz que as TIC "constituem uma ferramenta barata de desenvolvimento, com custos de acesso muito inferiores aos de outros setores". Mas reconhece que "não existe reflexão suficiente sobre o uso das tecnologias de informação na inovação social", terreno ao qual tenta orientar seus alunos. A incubadora que está tentando criar quer reservar um terço de seu espaço a projetos de tecnologia -ou seja, estes não têm prioridade estratégica.

Andrea Bohmert comanda a Silicon Cape Initiative, comunidade de empresas iniciantes da Cidade do Cabo, o que obviamente a posiciona entre aqueles que se lamentam por o país não fazer o suficiente. Ela atribui parte dessa indiferença ao fato de que se trata "de um setor 90% branco e 90% masculino, e para o governo isso não significa prioridade". Ela também considera que as TIC são mais apreciadas pelo seu papel como facilitadoras, e que "a prioridade para o governo é aquilo que possa mudar imediatamente a vida das pessoas. Ainda que lamente, compreendo o quadro geral".

E ela não é a única. Mas há algo de pior: essa postura pode contribuir para reduzir a liderança do país na África. A revista "Economist" questionou em edição recente a capacidade da África do Sul para se manter na liderança. A Nigéria, por exemplo, tem petróleo e uma população três vezes maior.

Já o Quênia, muito menor, parece claramente apostar na tecnologia da informação como eixo de desenvolvimento. Um elemento que será preciso levar em conta com mais e mais frequência na análise geopolítica das regiões do planeta.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

francis pisani

Francis Pisani viaja pelo mundo para descobrir o que está sendo feito de inovação tecnológica ao redor do planeta. Com longa experiência na cobertura da área, ele tenta, por exemplo, descobrir se a próxima Apple poderá aparecer na África, na Ásia ou na América Latina. Acompanhe o projeto em francês, espanhol e inglês.

 

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