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francis pisani

 

06/12/2012 - 07h00

Diásporas criativas 2: o papel dos "estrangeiros" na inovação

DE SÃO PAULO

Em cada escala da minha viagem ao redor do mundo da inovação, encontrei pessoas vindas de outras partes determinadas a resolver os problemas de um lugar e/ou aproveitar as oportunidades que ele oferece.

O sudeste da Ásia e a China parecem atrair especialmente esses jovens "knowmads".

Em Saigon, onde visitei a fábrica de chocolates de Vincent Mourou e Samuel Maruta, pude também entrevistar Bryan Peltz. norte-americano fundador da VNG.com.vn, a maior companhia on-line do Vietnã, agora envolvido com uma nova companhia, a Klamr.to, cujo aplicativo permite organizar atividades entre amigos.

Em Manilha, conversei com o canadense Stephen Jagger, cofundador da PayRollHero.com, para otimizar a produtividade "com alegria", e com o alemão Christian Besler, vice-presidente da Kickstart.ph, uma empresa cuja missão consiste em ajudar os empreendedores locais de tecnologia.

Em Cingapura, o britânico Hugh Mason me explicou sua aposta nos jovens empreendedores da região por meio do fundo Joyful Frog Digital Incubator.

Em Hong Kong, Andrea Livotto, italiano que estudou no Reino Unido, acaba de lançar o Perpetu.co (que permite a um usuário controlar sua página de Facebook depois de sua morte), enquanto o norte-americano Jonathan Buford levou ao mercado a Makibox, uma impressora 3D vendida por US$ 300.

A esses "expatriados" é preciso acrescentar os jovens que retornam aos seus países depois de estudar no exterior. Como Jing Zhou, que voltou a Nova York a Xangai, terreno mais fértil, segundo ela, para inovações capazes de perturbar o status do mercado, como o Pondora, seu projeto de rede social reservada a mulheres e limitado, para cada usuária, a si mesma e suas três melhores amigas.

Há também os "retornados", professores que, depois de trabalhar por muitos anos fora de seus países, retornam a eles para beneficiá-los com a experiência adquirida. Esse é o caso, no Egito, de Adel Youssef, membro do programa de pesquisa do Google que retornou à Alexandria para criar o site Intafeen.com, plataforma de geolocalização voltada ao mundo árabe. Em Manilha, esse é o caso de Paul Rivera, cidadão norte-americano nascido nas Filipinas que retornou ao país de origem para ajudar a lançar o Kalibrr.com, site que ajuda jovens filipinos a avaliar suas capacidades antes de saírem em busca de empregos.

O papel chave exercido por estrangeiros é um dos traços característicos do Vale do Silício. Consideremos alguns deles. O Yahoo foi cofundado por Jerry Yang, nascido em Taiwan. Nascido na Rússia, Sergey Brin é um dos fundadores do Google. O Instagram, por sua vez, se beneficiou da experiência do brasileiro Michel Krieger, um de seus cofundadores, que estava concluindo seus estudos na Universidade Stanford. E não devemos esquecer o finlandês Linus Torvalds, criador do Linux, que se radicou na Califórnia aos 27 anos.

As estatísticas são impressionantes: 24% das empresas iniciantes criadas no Vale do Silício entre 1980 e 1988 tiveram cidadãos da Índia ou China entre seus cofundadores; no período 1990-2005, 52% das empresas iniciantes tinham estrangeiros entre seus fundadores (26% dos quais indianos).

Mas entre 2005 e 2014 a proporção decaiu a 44%, diante das restrições à imigração impostas pelo governo dos Estados Unidos - um assunto que interessa a muita gente. Por quê?
Porque os imigrantes contribuem, ao participar dessas empreitadas, com a diversidade indispensável a produzir um clima propício à inovação. Constituem pontes naturais entre redes distintas, que contribuem para o enriquecimento. Uma posição estratégica.

A mistura é, em si, tão promissora que há quem se dedique a promovê-la, a fim de extrair dela o máximo benefício possível.

A The Indus Entrepreneurs (TIE) é uma rede indiana na qual profissionais que conquistaram sucesso em outros países (especialmente no Vale do Silício) servem como mentores a outros profissionais que tentam seguir o mesmo caminho. A organização já conta com 13 mil membros e 57 unidades locais em 14 países.

No Rio de Janeiro, a 21212.com (nome que combina os códigos telefônicos do Rio e de Nova York) é uma rede de aceleração de crescimento criada pelo norte-americano Benjamin White e pelo brasileiro Frederico Lacerda para facilitar que as culturas de ambas as cidades extraiam o máximo proveito das experiências e oportunidades que cada qual pode oferecer.

O exemplo mais audacioso vem da Startup Chile, que para romper o isolamento geográfico de seu país oferece a cada ano bolsas de US$ 40 mil a empresas iniciantes de todo o mundo, sob a condição de que seus fundadores passem seis meses no Chile, com o objetivo de enriquecer o ecossistema da inovação.

Nem todos os países vivem a mesma situação territorial do Chile, mas sem dúvida todos sairiam ganhando ao atrair talentos provenientes de outras partes, como demonstra o Vale do Silício.

Tradução de Paulo Migliacci

francis pisani

Francis Pisani viaja pelo mundo para descobrir o que está sendo feito de inovação tecnológica ao redor do planeta. Com longa experiência na cobertura da área, ele tenta, por exemplo, descobrir se a próxima Apple poderá aparecer na África, na Ásia ou na América Latina. Acompanhe o projeto em francês, espanhol e inglês.

 

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