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humberto luiz peron

 

04/08/2009 - 14h00

Não vai dar certo

HUMBERTO PERON
Colaboração para a Folha Online

Depois de algum tempo acompanhando futebol, qualquer um percebe o que vai dar certo --ou não -- durante uma partida ou na montagem das equipes. O engraçado é que mesmo a experiência dizendo que muitas atitudes não vão dar certo, treinadores (principalmente), jogadores, dirigentes e árbitros escolhem, quase sempre por teimosia, o caminho errado, que só vai levar a um resultado que não é esperado. Segue alguns exemplos.

Armar um time superior tecnicamente ao do adversário
Quando você tem um time melhor do que o rival, o caminho mais fácil para a vitória é de se impor, fazer pressão no adversário e explorar os pontos fracos do inimigo. Isso é básico no futebol, mas na maioria das vezes acontece exatamente o inverso. Os nossos treinadores, principalmente quando atuam como visitantes, armam suas equipes de maneira semelhante ao do time adversário. Ou seja, ao respeitar demais o outro time igualam seu time com a ruindade da outra equipe. Além de diminuírem o potencial do seu clube, dão moral para o time fraco. Talvez por isso, aqui no Brasil, em quase todas as rodadas do Campeonato Brasileiro temos times que estão nas últimas posições na tabela surpreendo os líderes.

Arrumar a defesa antes de tudo
Esse preceito é usado quando um treinador assume uma equipe que está sofrendo muitos gols e perdendo várias partidas. Com esta frase feita ele parece ter alvará para armar um time na retranca. Realmente, só pensando em se defender o número de gols que o time toma diminui --no lugar de levar dois tentos, passa a tomar apenas um--, mas continua perdendo. O pior é que tem gente que acha que isso é uma evolução. O que um treinador novo tem que fazer quando assume uma equipe é melhorar seu desempenho no todo, principalmente achar maneiras de a equipe conseguir também ser mais eficiente no meio-campo e no ataque.

Contratar um jogador de idade que vive boa fase em clube pequeno como salvação
Nada contra dar oportunidade a jogadores com mais idade. Um jogador pode ser rodado e cair muito bem num time de maior expressão. O que não da certo é esperar que determinado jogador, com bom tempo de carreira, que sempre foi comum, só porque vive um raro momento de sucesso vai conseguir salvar um time com problemas. Não se torna craque de um dia para outro principalmente um jogador que já tenha mais de 28 anos e que ainda não estourou.

Acreditar que jogadores podem fazer com sucesso em outras posições
Não é porque um meia consegue chegar bem no ataque e finaliza muito ao gol do adversário que ele terá sucesso jogando como atacante. Técnicos insistem em colocar seu meia mais habilidoso como atacante, mas essa improvisação não dá certo. A equipe acaba perdendo um jogador importante no meio-campo e não ganha um atacante. Quem joga de meia está acostumado a jogar de frente para o adversário, partindo com a bola dominada e tentando o drible. Agora, como o atacante, ele fica fácil de ser marcado, pois precisa receber a bola e girar o corpo para tentar fazer a jogada. Sem dizer que ele está acostumado a sempre voltar para ajudar na marcação e nunca está posicionado para o contra-ataque ou para fazer companhia para o outro atacante da equipe. Também nunca dá certo tentar transformar aquele volante que só sabe tomar a bola em homem de criação da equipe.

O parceiro prefere o sucesso da equipe que o retorno do seu investimento
Fico pasmo como os dirigentes ainda acreditam que os parceiros estão mais interessados nos resultados técnicos dos clubes onde eles colocam seus jogadores do que em obter grandes lucros nas negociações dos atletas. É lógico que quem coloca dinheiro na compra dos direitos de um jogador que ter o seu lucro o mais rápido possível. Qualquer proposta que gere lucro já é aceita pelos investidores. Eles não vão querer saber a condição do time, se ele pode ser campeão e que o atleta pode estar mais valorizado no final da temporada. Os investidores querem o retorno mais rápido e preferem ter o lucro garantido agora, quando o atleta está em evidência, já que num futuro próximo o atleta pode se machucar ou cair de rendimento. Para quem investe em jogadores, quanto mais rápido o retorno melhor.

Juntar dois goleadores fixos na área no mesmo time
Não adianta, por mais que se tente isso não funciona. Além da vaidade que evita, em muitas oportunidades, o passe para o companheiro mais bem colocado, os dois atacantes fixos na área acabam se tornando um alvo fácil para a marcação dos adversários. Os dois artilheiros não gostam de se deslocar para receber a bola --o centroavante fixo gosta de ficar na área esperando a bola chegar, a falha de um zagueiro ou um rebote do goleiro.

Árbitro tenta deixar o jogo correr
Está certo que os árbitros brasileiros marcam muitas faltas durante uma partida. Mas eles apitam porque o jogador brasileiro faz muitas faltas. É lógico que todos preferem que a partida fique mais corrida, mas o problema é que os árbitros que tentam não parar tanto o jogo fazem isso sem nenhum critério. Eles não param a jogada num lance de contato, mas menos de dez segundos depois apitam falta num lance semelhante. Nem os auxiliares entendem os critérios dos árbitros. É só reparar. Num jogo que o árbitro libera o contato físico, quando o mesmo tipo de jogada acontece no canto do gramado, já aparece o auxiliar agitando a bandeira e marcando a infração. Também esse tipo de arbitragem sem critério é muito mais rigorosa em lances dentro da área que na faixa central do gramado.

Já disse aqui que o futebol é simples, mas não faltam pessoas que tentam inventar onde não se cabe inovação.

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Até a próxima.

O São Paulo, de Ricardo Gomes, vem melhorando de produção nas últimas partidas, inclusive conseguindo bons resultados fora de casa como o empate contra o Inter e os triunfos contra o Barueri e Vitória. Além disso, o time fez uma partida muito boa contra o Grêmio. Mas ainda é cedo para saber se a equipe vai conseguir a mesma proeza do ano passado, quando tirou uma enorme diferença de pontos e ficou com a taça. Também não se pode esquecer que no atual campeonato o aproveitamento dos líderes está maior do que no ano passado, o que também é um obstáculo para a arrancada do São Paulo.

Como se tornou comum a alteração dos lugares das partidas do Campeonato Brasileiro, seria uma atitude de bom senso que a CBF e os clubes que solicitaram a mudança verificassem as condições do local para onde eles vão levar suas partidas, principalmente a condição do gramado. O que se viu nas partidas entre Corinthians e Palmeiras, jogada em Presidente Prudente, e Atlético-PR contra Fluminense, em Londrina, foram gramados ruins, que não estavam preparados para suportar a chuva e atrapalharam o andamento das partidas.

humberto luiz peron

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve às terças-feiras no site da Folha.

 

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