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humberto luiz peron

 

22/09/2009 - 14h08

O crítico e o torcedor

HUMBERTO PERON
Colaboração para a Folha Online

Todo mundo já sabe para que time eu torço. Também nunca escondi --nem faço questão-- de fazer isso. Mas, semanalmente, recebo mensagens de leitores que expõem suas críticas, mas gostam de exaltar minha imparcialidade. E lógico que existem aqueles que me chamam de corintiano, são-paulino, colorado, flamenguista ou vascaíno, mas aí todos estão errados.

Mas todos os elogios ou insinuações erradas do time de minha preferência funcionam como um excelente parâmetro se eu estou fazendo bem o meu trabalho. Ou seja, saber diferenciar muito bem o que é ser torcedor e qual a função de crítico.

Eu não seria um crítico se eu nunca tivesse sido um torcedor. Já disse neste espaço como sou viciado e gosto de futebol. Não poderia escrever nada sobre esporte se em algum momento eu não tivesse sido um torcedor.

Mas, felizmente, quando estou na frente do teclado procuro --e preciso-- me desligar de qualquer paixão do meu clube. Até porque se eu escrever os maiores elogios --ou críticas-- ao meu clube iria perder a credibilidade com os leitores.

O torcedor, por exemplo, tem todo o direito de chamar um árbitro de ladrão. Até porque para o apaixonado os apitadores vão sempre roubar o seu time. Em qualquer situação. Não há fã que não veja pelo menos três pênaltis não marcados por partida a favor do seu time. O crítico não. Ele deve analisar e observar o lance. É lógico que ele tem que dar sua opinião e passar para o público porque o árbitro tomou tal decisão.

O que o crítico nunca pode é tentar distorcer o que aconteceu. Se a imagem mostrar que foi pênalti, por exemplo, o jornalista não deve nunca tentar mudar a realidade do lance para tentar provar que a sua opinião está certa. O jornalista precisa saber que não dá para fazer polêmica em lances que não há o mínimo espaço para a discussão.

Mesmo o tratamento com os jogadores tem de ser muito diferente. O torcedor tem todo o direito de ter uma relação de amor e ódio com seu ídolo. É totalmente aceitável que o torcedor aplauda um jogador em uma jogada para, cinco minutos depois, gastar todo seu repertório de palavrões com o mesmo atleta. Já o jornalista não pode ser assim. Ele tem que ter um equilíbrio para analisar o que o jogador faz em campo.

Tem que ter a sensibilidade para saber, por exemplo, que um atleta está jogando mal por ele ter um problema físico --o jornalista tem a obrigação profissional de saber isso, o torcedor não--, ou por estar tentando fazer uma função, dada pelo técnico, que ele não tem condições de executar.

Dentro dessa relação com os jogadores, o crítico precisa se policiar muito para não ter uma atitude de torcedor. É muito comum para os fãs enaltecerem ao máximo os craques do seu time e tentar acabar com os jogadores do adversário. Jornalista não deve fazer isso nunca.

Por isso, acho que os jornalistas não podem ter uma relação de amizade com os atletas. A relação pode gerar algumas boas informações, mas com certeza vai levar algumas distorções quando o crítico precisar fazer algum comentário do atleta.

Desde que não existam tentativas de agressão física, o jornalista é obrigado a entender a paixão do torcedor. Quem dá uma opinião precisa saber que sempre vai existirá um grupo que não vai concordar com ela.

Em caso de receber uma mensagem ríspida, ele tem que tentar desarmar o espírito do torcedor, dizendo que ele não entendeu o que foi escrito --às vezes a culpa é do crítico que não conseguiu passar direito a mensagem que gostaria. Não custa nada encerrar o assunto com uma mensagem educada.

Em resumo: no futebol o torcedor é a paixão, já o critico tem que ser a razão. Pelo menos, teria que ser assim.

Até a próxima.

Para quem quiser conferir pitacos diários confira no meu Twitter

Para o Campeonato Brasileiro, que a cada rodada vê a briga pela liderança ficar mais acirrada. Se até há algumas rodadas quase todos afirmavam que a luta pelo título estaria restrita apenas a Palmeiras, São Paulo e Internacional, agora isso já deixou de ser a realidade, principalmente porque esses três times perderam vários pontos importantes nas últimas rodadas. Pelo menos mais três times passaram a ter chances reais. São eles o Goiás, que pode não ter a tradição mas tem um time bom e sabe atuar como poucos quando joga no campo do adversário; o Atlético-MG, que teve um momento ruim, mas mesmo assim continua perto dos líderes e vai crescer mais quando todos os seus reforços estiverem na forma física ideal; é bom também não esquecer o Grêmio, que mesmo mais longe dos líderes tem um excelente elenco e que está triturando seus adversários quando joga em casa.

Sempre existiu na história do nosso futebol jogadores com um incrível potencial, mas que nunca deslancharam porque nunca levaram suas carreiras a sério com inúmeros casos de indisciplina e pouco empenho nas partidas. Um exemplo típico do que falo é Léo Lima, agora no Goiás. Poucos jogadores têm a facilidade de jogar com a cabeça erguida e capacidade de enxergar o jogo como ele, pois sempre tenta um passe que vai deixar o companheiro em excelentes condições. A partida que ele fez contra o Corinthians beirou a perfeição. Agora, Léo Lima, que já perdeu várias oportunidades na carreira, precisa de vez ser um jogador regular e decidir se quer marcar seu nome na história ou se prefere ser um mísero reserva de um time de Série B, o que acontecia quando ele estava no Vasco.

humberto luiz peron

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve às terças-feiras no site da Folha.

 

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