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humberto luiz peron

 

26/01/2010 - 15h14

Saldos do recesso

HUMBERTO PERON
Colaboração para a Folha Online

Uma das constatações que podemos chegar após o período de férias e nesse início de temporada é que está cada vez mais difícil para um time brasileiro contratar reforços. Quando eu digo reforços, penso naqueles jogadores que chegam, vestem a camisa e vão resolver o problema que o time tem na posição. O movimento de transações e o trânsito de atletas foram altos, mas é duro afirmar qual o clube que realmente fez as contratações que deixaram os torcedores rivais com inveja. A maioria dos clubes trouxe jogadores para compor elenco e torcem para que um ou dois atletas acabem vingando.

Na verdade, acontece que o mercado de jogadores que os clubes brasileiros podem contratar está muito limitado. Atualmente só é possível contratar jovens que ainda são promessas e que não conseguiram lugar em países dos leste da Europa, veteranos que já estiveram na Europa ou Oriente Médio e antes do final de carreira ainda conseguem espaço para jogar no futebol brasileiro, apostas em jogadores desconhecidos da América do Sul, e, por causa da Copa do Mundo, jogadores que estão encostados na Europa que sabem que atuando no Brasil podem garantir sua vaga no próximo Mundial mais fácil do que ficando encostados em seus clubes --esta quarta via depois do segundo semestre não vai mais existir.

Por isso, mesmo que se um clube tivesse milhões de dólares para investir ele não conseguiria formar um esquadrão. Duvido que com a escassez de craques no mercado, mesmo com a valorização do real, que nos dias de hoje, uma equipe com um aporte de dinheiro similar ao que o Palmeiras teve da Parmalat em meados da década de 1990, conseguiria formar um time de nível parecido com aqueles que a cogestão conseguiu formar e que conseguiu ganhar vários títulos.

A falta de opções para contratar bons reforços denota um processo que está acontecendo no nosso futebol e que não estamos dando a devida atenção. Já faz alguns anos que o futebol brasileiro não consegue revelar bons jogadores. Ou seja, a nossa fonte de jogadores está secando.

Os talentos estão indo muito cedo para a Europa e não têm chances de amadurecer aqui. Muitos jogadores que tinham muito potencial de brilhar foram seduzidos por um punhado de dólares e foram para o exterior e acabaram se perdendo na carreira. Não acho que os meninos não possam ir ganhar dinheiro, mas seria muito mais garantido para eles se fossem para o Exterior depois de fazer carreira aqui no Brasil e ganharem um pouco mais de experiência para suportar a pressão de jogar em qualquer clube grande do Velho Continente.

Outra grande questão que me fez pensar muito nas férias foi outra tendência que está em curso no futebol brasileiro e que poucas pessoas também estão percebendo. Dentro de 15 ou 20 anos não teremos mais tantas equipes grandes no futebol brasileiro. Com a implantação do sistema de pontos corridos e com o Campeonato Brasileiro tomando quase todo o nosso calendário, vamos acabar, aos poucos, com potências regionais e vamos acabar tendo times nacionais, pouco importando onde está localizada a sede do clube.

Talvez, os grandes clubes brasileiros e que vão brigar realmente por títulos fique reduzido a um clube reduzido de seis ou sete times. Vai se criar um abismo muito grande em termos de quantidade de dinheiro arrecadado, qualidade de elenco entra essa pequena elite e os demais clubes brasileiros, situação que acontece nos principais países do Mundo.

Pode não parecer, mas se você perceber vai ver que as cotas de patrocínio crescem cada vez mais, mas são destinadas para um número bem menor de clubes. Cabe aos dirigentes, de clubes que ainda tem grupos de milhões de torcedores, encontrarem maneiras para que suas equipes passem esse período de transição e continuem sendo grandes.

O ócio acabou e a bola já está rolando. Boa temporada para seu clube em 2010.

Até a próxima.

Dunga foi contratado para fazer uma renovação na seleção brasileira e está indo muito bem na sua missão. Só que agora, faltando poucos meses para o início da Copa do Mundo, o técnico vai sofrer inúmeras pressões para convocar alguns jogadores que o treinador e a CBF têm sérias restrições, principalmente pelo que aconteceu no Mundial de 2006. Casos de Ronaldinho, que vem jogando no Milan; Roberto Carlos, que vai ter uma exposição enorme jogando pelo Corinthians e pela carência de bons laterais que atuam pela esquerda; sem dizer o centroavante Ronaldo.

Os jogos finais da Copa São Paulo mostraram que o torneio ficaria muito mais interessante se não fosse disputado por quase uma centena de clubes. Seria muito melhor para todos, inclusive para os atletas, que houvesse oportunidade de se observar as equipes que têm condições de revelar jogadores e que são mais fortes tecnicamente. Também seria muito bom se a Federação Paulista de Futebol não fizesse que a Copa São Paulo sofresse a concorrência do início do Campeonato Paulista de profissionais, já que boa parte do interesse no torneio acaba quando as equipes principais entram em campo.

humberto luiz peron

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve às terças-feiras no site da Folha.

 

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