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humberto luiz peron

 

09/02/2010 - 13h57

Gostamos de futebol bem jogado

HUMBERTO PERON
Colaboração para a Folha Online

Responda rápido. Quando você disputa peladas com os colegas, qual é o mais difícil de driblar: aquele que faz o papel de zagueiro e chega com tudo ou o que tem classe para jogar? Com certeza você respondeu o habilidoso. E isso é a mais pura verdade. O zagueiro bruto pode chegar mais duro, se antecipar em algumas bolas, mas no confronto direto é uma presa fácil para ser batido. Já aquele que tem habilidade parece adivinhar o que você vai fazer e, muitas vezes, com um leve toque com o bico da chuteira te desarma.

Fiz essa introdução para escrever que times que jogam bonito, com vários jogadores habilidosos, podem tomar a bola do adversário. Também é equivocado dizer que um time que joga ofensivamente não sabe se defender.

Talvez essa tese tenha surgido com a derrota na Copa do Mundo de 1982. O fracasso do time sensacional armado por Telê Santana criou um trauma tão grande que até hoje alguns pragmáticos adoram afirmar que times que procuram o gol a todo instante podem ganhar algumas partidas, mas não ganham campeonatos. Isso nunca foi --nem será-- uma verdade.

É lógico que nem sempre existe a possibilidade de se armar um time que jogue para frente. Muitas vezes, não se tem elenco para isso e os treinadores precisam armar suas equipes para obter o melhor resultado possível. Isso é válido, ganhar títulos assim, mas passando a festa da volta olímpica esses times caem no esquecimento.

Todas as lembranças de grandes times que temos são de equipes que jogavam um futebol bonito. Procure lembrar um time que te marcou. Garanto que na hora veio a lembrança de uma equipe que jogava ofensivamente e que marcava muito gols.

Por exemplo: por mais que o time de 1994 tenha tido um comportamento brilhante e conseguido o quarto título mundial, confesso que aquele time não me traz nenhuma lembrança especial. Talvez, um ou outro gol de Romário. Mas ainda me encanta o time de 1982.

Depois de algumas lembranças volto à questão de jogar ofensivamente e ser vulnerável na defesa. Existe uma coisa que poucos percebem. Só a possibilidade de enfrentar um time ofensivo faz o treinador adversário armar a equipe com a postura mais defensiva. Com jogadores leves é mais fácil marcar a saída de bola do adversário ou correr atrás dos adversários para tomar a bola.

Times que encantaram o mundo sempre tiveram sistemas defensivos bem seguros. Desculpe voltar de novo no tempo, mas a seleção de 1970 sabia se defender muito bem quando não estava com a posse de bola. O time voltava com todos os jogadores para marcar no seu campo e dificultava a ação dos adversários.

Quatro anos depois, a Holanda usava muito bem a saída da defesa em bloco para tirar o espaço dos adversários. Aquele time conseguia ser tão compacto que se você observar imagens ou fotos da época vai conseguir observar dez jogadores de linha num espaço não muito superior de 30 metros, ou seja, um time compacto.

Aqui vou ser obrigado a fazer outra interrupção. Imagino que você já deve estar fazendo a seguinte pergunta: se o Brasil de 1982 e a Holanda de 1974 eram times fantásticos qual a razão de eles terem perdido os títulos? Bom, a resposta para essa questão é bem simples: os dois acabaram perdendo para grandes seleções. Tanto a Alemanha de 1974 quanto a Itália de 1982 eram times excelentes e que contavam com jogadores extraordinários.

Aqui no Brasil todas as equipes que dominaram o nosso futebol nas últimas décadas, além de marcarem bem, conseguiam ter segurança na defesa. Isso passa, por exemplo, pelo Inter (meados da década de 1970), o Flamengo campeão do Mundo em 1981, o São Paulo com os inúmeros títulos tendo Telê Santana como treinador no início da década de 1990, o Palmeiras do ataque de mais de 100 gols no Paulista de 1996, o Cruzeiro que ganhou tudo em 2003.

Vamos pegar o time atual do Santos. A equipe de Dorival Júnior é o time que todo mundo gosta de ver jogar no momento. É um time que procura o ataque o tempo inteiro. Dos pés dos seus jogadores há sempre a possibilidade de sair uma jogada espetacular. Mas já observo que muitos dizem que o time é vulnerável e que tem problemas na defesa.

Como estamos falando da equipe da Vila, vamos lembrar que o time do Campeonato Brasileiro de 2002, que encantou pelas jogadas ofensivas, marcava muito bem. Uma rápida passada pelas partidas finais daquele campeonato mostra o poder defensivo da equipe. Na primeira partida da decisão, por exemplo, o time de Emerson Leão não deu nenhuma chance ao Corinthians e venceu por 2 a 0.

Está certo que um gol de letra vale tanto quanto um gol de cabeça feito após um chuveirinho, mas vibramos muito mais com o feito com arte. E é verdade que no futebol o que é importante é o resultado final, mas ganhar dando espetáculo é muito mais divertido.

Até a próxima.

A convocação de Dunga para o amistoso contra a Irlanda decreta que Ronaldinho não estará presente na África do Sul. O técnico vai apostar nos jogadores que conquistaram a Copa América de 2007 e a Copa das Confederações no ano passado. Isso explica a convocação de alguns atletas que não estão jogando bem, como Júlio Baptista, Josué, Doni. Já a convocação de Gilberto é um sinal de que o treinador ainda não escolheu quem será o nosso lateral-esquerdo no Mundial.

Na formação do time do Corinthians para 2010 ainda existe dúvida de como será o setor de armação, mas não se discute que Jorge Henrique é titular absoluto. O jogador consegue fazer muitas funções em campo durante os 90 minutos. Ao mesmo tempo em que é um atacante perigoso que marca gols decisivos, recua para jogar como meia e marcar os volantes quando não atua como ala cobrindo os avanços dos laterais.

humberto luiz peron

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve às terças-feiras no site da Folha.

 

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