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humberto luiz peron

 

24/03/2010 - 13h01

O óbvio e o básico

HUMBERTO PERON
Colaboração para a Folha Online

Técnicos --e até jornalistas-- adoram gastar vários minutos tentando descrever a formação tática das equipes. Acho importante que uma equipe tenha uma boa organização em campo, consiga ter várias opções ofensivas e, ao mesmo tempo, seja muito eficiente na marcação.

Mas, o que me deixa perplexo é que os treinadores, na ânsia de descobrirem novas fórmulas para surpreender o adversário, não conseguem que o seu time faça o básico para que uma equipe possa ter sucesso.

Segue cinco pontos básicos para uma equipe ter sucesso em um futebol tão equilibrado como o de atualmente.

Centroavante tem que ter a função de marcar gols - Vamos esquecer essa mania de centroavantes que atuam fora da área e que tentam abrir espaços para os companheiros.

O jogador que atua na posição pode fazer isso eventualmente dentro da partida, mas a função primordial do camisa 9 ainda é fazer gols. Também não vamos exigir que um centroavante sirva de pivô ou garçom para os companheiros.

Está certo que várias equipes que fizeram sucesso funcionavam bem com um centroavante não goleador. Mas esta situação é exceção e não regra. Não é sempre que você vai encontrar um Tostão ou um Evair para escalar na função. Por isso, não devemos exigir do principal atacante grande refinamento técnico. O que ele precisa saber é fazer gols --e não precisa ser de placa-- e ter muita presença de área para incomodar os zagueiros.

Também não vejo sucesso quando uma equipe atua sem um centroavante fixo, com dois atacantes rápidos que procuram as laterais do campo. Acho que assim, o time fica sem referência na área e, geralmente esses atacantes cruzam a bola para ninguém.

É preciso chutar ao gol - É impressionante como algumas equipes ficam muito tempo com a bola e não têm a iniciativa de finalizar. Não sei se é medo de errar, mas a impressão que fica é que poucos jogadores arriscam.

O que poucos percebem é que com os times jogando cada vez mais fechados, um chute de média distância pode decidir uma partida. É fundamental que os volantes e meias que jogam de frente para a meta adversária tenham intimidade para finalizar. Há lances que eles estão livres, com a torcida implorando a finalização, e eles optam pelo passe burocrático para o lado.

Não concordo com aqueles que dizem que há jogadores que não sabem chutar. O que falta nesses atletas é treino. Talvez se gastassem um pouco mais de tempo em práticas de finalizações com os nossos jogadores de meio-campo --principalmente volantes-- eles teriam mais confiança em arriscar. O problema é que só se treinam volantes para que eles marquem e tenham preparo físico para cobrir os erros de seus companheiros.

Jogar pelas pontas- Esse preceito é um dos mais velhos do futebol --por isso, um dos mais verdadeiros. Mas ele é muito pouco utilizado pelos times, que insistem em tentar furar o bloqueio do adversário jogando pelo meio.

Está certo que não se utilizam mais ponteiros, mas é extremamente viável jogar pelos lados do campo. Sempre sobra espaço para se jogar pelos lados do campo. Repare, no próximo jogo do seu time, nas inúmeras vezes que o lateral faz a ultrapassagem e fica livre, mas o meia prefere levar a bola para o meio.

Por meio de triangulações entre um lateral, um meia e um atacante é relativamente fácil chegar à linha de fundo para fazer um cruzamento. Em muitas oportunidades nem é preciso três jogadores para levar vantagem. Um jogador do meio e mais um lateral já é o suficiente para enganar o marcador.

As jogadas pelas laterais são fundamentais para que um time faça jogadas de viradas de bola que pegam sempre um jogador livre do outro lado do campo, já que a defesa tende sempre a se deslocar em direção ao lado que está a bola.

Usar a melhor jogada - Eu não acho nenhum erro se o time tiver uma jogada forte que use várias vezes numa partida. Não consigo entender quando se fala, por exemplo, que um time só sabe fazer gols em cruzamentos.

Se o time tem isso como diferencial, deve usar o máximo na partida. Quem tem que ficar preocupado com seu ponto mais forte é a outra equipe. Está certo que cabe ao treinador conseguir arrumar outras formas de o time fazer gols. O que não pode é que ele acabe com a principal arma da equipe e não consiga armar nenhum outro lance mortal.

Aqui o mesmo vale em usar os jogadores nas posições certas e nas funções que eles atuam melhor. Não adianta tentar usar um atacante rápido para seguir o lateral do adversário que depois ele não terá pernas para fazer a jogada no ataque.

Cobrar escanteio para área- Não me conformo. Um time treina a semana inteira jogadas de escanteio, os zagueiros atravessam todo o campo para ir à área do adversário e, do nada, um jogador teima em bater o escanteio para um companheiro que está de costas para área.

É lógico que as chances de sair algo errado são enormes.

O menor dos equívocos é o impedimento, pois quem recebe a bola sem saber o que fazer, devolve a bola para o cobrador. Mesmo se ele não estiver fora de jogo não vai conseguir fazer o melhor cruzamento, pois vai estar marcado. O pior vai ser um contra-ataque que o time vai sofrer com a defesa toda aberta.

Sei que escrevi várias obviedades, por isso não me conformo porque os times não tentam fazer isso. E se você perceber os times que mais nos encantam --Santos e Barcelona são bons exemplos agora-- são aqueles que fazem bem as coisas mais simples do futebol.

Até a próxima.

É impressionante o que o argentino Messi, do Barcelona, está jogando. Faz tempo que não aparecia um jogador que desequilibrasse tantas partidas como ele está fazendo no momento. Não há esquema tático ou marcador capaz de pará-lo. Vamos esperar que ele consiga chegar ao Mundial demonstrando a mesma forma física e técnica do momento. Pois até lá, Messi vai enfrentar uma maratona de jogos decisivos e não podemos esquecer que a Copa do Mundo é disputada no final de temporada europeia, momento que os jogadores dos principais clubes já passaram pelo auge da sua forma.

Temos que sempre elogiar o Santos, seu futebol bonito e suas goleadas espetaculares. Mas no atual Campeonato Paulista é digno de nota a excelente campanha do Santo André. A equipe do ABC sempre figurou entre as quatro mais bem colocadas e já está praticamente classificada para as semifinais. Mérito para o técnico Sérgio Soares, que remontou a equipe, que foi rebaixada no Campeonato Brasileiro, e armou um time que marca forte, mas ao mesmo tempo busca sempre o ataque e joga com muita velocidade. Pelo que está jogando o Santo André vai criar muitos problemas para quem o enfrentar nas semifinais.

humberto luiz peron

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve às terças-feiras no site da Folha.

 

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