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humberto luiz peron

 

06/04/2010 - 15h06

Nossa praia não é o pragmatismo

HUMBERTO PERON
Colaboração para a Folha Online

Confesso que passei boa parte do meu tempo de folga no último feriado pensando em futebol. No meu ócio, o principal assunto foi a seleção brasileira. Gastei horas de caminhadas pensando qual seria a razão de o time de Dunga, que ganha tudo e de todos, não me agradar.

Não consigo me animar e nem fico extasiado com as apresentações do time. Muito menos acho um time fantástico, como muitos gostam de dizer, ou pelo menos querem nos fazer acreditar.

O fato de eu não gostar da forma que o time atua nem de longe me faz torcer contra a seleção de Dunga ou distorcer fatos. Como já disse, seria um louco se contestasse os resultados do nosso treinador e a capacidade de construir um time e um grupo de jogadores desde que ele assumiu o cargo.

O que não me agrada na seleção brasileira é o pragmatismo que o time mostra durante as partidas. Irrita o time jogando sempre no mesmo padrão tático de um forte sistema de marcação no meio-campo. A gente só constata algum brilho no nosso time, quando o time adversário nos dá espaço para jogarmos nos contra-ataques. E isso se reflete até na convocação dos jogadores.

É inegável que atualmente são preferidos aqueles jogadores que realizam cegamente o que é pedido ou que fazem o trabalho de operários em detrimentos daqueles que podem sair do esquema determinado.

Acho muito válido um time ter as características de marcar muito bem e ter um desenho tático muito bem definido, mas no caso da seleção brasileira tem sempre que sobrar espaço para a improvisação e jogar ofensivamente, principalmente pela qualidade dos nossos jogadores de armação e atacantes.

Até aceito que seleções como Alemanha e Itália sejam pragmáticas e tenham disciplina militar rigorosas, pois é a única maneira de esses times conseguirem ter sucesso, pois no máximo conseguem ter entre seus convocados dois ou três jogadores de excelentes qualidades técnicas. Mas, para a seleção brasileira isso não basta.

Tudo bem que ganhamos a Copa de 1994 jogando de uma maneira muito parecida com a que o nosso time joga agora. Mas o time comandado por Carlos Alberto Parreira, que é a grande referência do técnico Dunga, também não encantou e não tem momentos memoráveis.

Ouso dizer que o lance mais lembrado do time tetracampeão mundial foi o pênalti errado pelo italiano Roberto Baggio. Nada mais coerente do que isso, pois o time de 1994 jogava muito bem se aproveitando os erros dos outros.

Eu acho que nós temos um erro grave de analisar o futebol. Apesar de adorarmos o futebol bem jogado e ofensivo, foi criado um conceito de que times que jogam bonito ganham uma ou outra partida, mas não ganham campeonatos. O que na verdade é uma grande falácia.

A derrota do Brasil na Copa de 1982 tem muito a ver com isso. O trauma da nossa derrota para a Itália --que também era um grande time, não caia na mentira que os italianos só davam pontapés e marcam forte e deslealmente- marcou profundamente uma geração de torcedores, principalmente aqueles que eram adolescentes na época.

É o que acontece agora. Nosso futebol é comandado por técnicos que foram forjados naquela decepção --o próprio técnico da seleção brada que a geração de 1982 jogou bonito, mas não ganhou nada e a geração dele é que ganhou um título mundial.

Também temos jornalistas que ficaram atraídos pelo pragmatismo e que só ele nos leva aos triunfos.

Podem perceber, muitos adoram elogiar os treinadores que armam sistemas defensivos fortes. Muitos só conseguem enxergar técnicos bons como aqueles que conseguem parar o adversário. Alguns adoram chamar isso de 'nó tático'. Até os comentários são sempre feitos de como os times precisam melhorar na marcação.

Não podemos esquecer que armar um time apenas para destruir e marcar e jogando apenas nos contra-ataques é uma tarefa relativamente fácil. O complicado é armar um time que consiga furar o bloqueio do adversário com jogadas rápidas.

Cito um exemplo claro. Nossos técnicos mais aclamados até hoje sofrem --e cansaram de perder títulos -- para enfrentar equipes fracas que utilizam o esquema de duas linhas defensivas de quatro jogadores nas competições continentais.

Errado também quem pensa que pragmatismo é o único sinônimo de organização. Não é necessário ter apenas um pensamento cartesiano para se conseguir ordem e estrutura.

O futebol brasileiro nasceu para jogar ofensivamente. Podemos ganhar todos os títulos possíveis, mas nunca vai agradar uma seleção brasileira que joga 'à italiana', ou se preferirem atuando de uma maneira pragmática.

Até a próxima

Já passou da hora de se repensar a forma de disputa dos Campeonatos Estaduais. Do jeito que está não é mais possível. Não adianta começar o torneio com os times com apenas uma semana de treinamento. O pior é que os maus resultados iniciais acabam prejudicando as equipes durante todo o ano. Por exemplo, não faltam casos de times que mudaram suas comissões técnicas após derrotas nos Estaduais. Já que diminuir o número de clubes é impossível, o ideal seria que os times que disputam o Brasileiro pudessem entrar mais para frente nessas competições. Sem dizer que a preparação reduzida e a maratona de jogos no início da temporada acabam prejudicando o desempenho das equipes nos torneios mais importantes do início de temporada, que são a Copa do Brasil e a Libertadores --também por isso, nos últimos anos os clubes brasileiros não conseguem o título continental.

Falando em Estaduais, são vergonhosas as constantes trocas de locais das partidas, no Campeonato Paulista. Como acontece faz tempo no futebol carioca, os grandes clubes praticamente não atuam mais como visitantes quando enfrentam times do interior. As partidas são sempre levadas para campos ditos "neutros". Além de causar um ddesequilíbriotécnico no torneio, essas mudanças perdem uma das aspirações mais antigas dos times do interior paulista, que era subir para que os grandes clubes pudessem jogar na sua cidade. Se o problema é financeiro é um claro sinal que o torneio não é rentável. A questão das condições dos estádios também não deve ser aceita, já que se um time não tem um campo em condições de sediar um jogo de Série A não deveria se permitir o acesso do clube.

humberto luiz peron

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve às terças-feiras no site da Folha.

 

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