Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 

humberto luiz peron

 

18/05/2010 - 15h09

Palavras de ordem

HUMBERTO PERON
Colaboração para a Folha

Comprometimento, garra, coração e guerreiro. Parece que nos últimos tempos essas palavras se tornaram as qualidades mais importantes procuradas em um jogador de futebol. Não vou dizer que esses predicados sejam desprezíveis, principalmente hoje com os times cada vez mais equilibrados, mas existem vários atributos que são muito mais importantes em um jogador de futebol.

Eu prefiro antes de tudo que os jogadores do meu time sejam craques, tenham talento e habilidade para numa única jogada driblar um guerreiro perna-de-pau e decidir a partida. O que me deixa chateado é que boa parte dos torcedores parecem que está encantada com os chamados jogadores comprometidos.

Fico perplexo quando o público vibra com um zagueiro ou volante, sem ninguém por perto, dando um chutão para as arquibancadas --se for de bico e o jogador sacudir os braços, aí o estádio vai ao delírio. Fora os que vibram como um gol quando um volante arranca tufos de gramado para dar um carrinho num lance sem nenhum propósito.

Essas pessoas esquecem que time só formado por jogadores esforçados falham sempre nos momentos decisivos.

O que poucos percebem é que é muito difícil transformar um jogador esforçado num cara que desequilibre uma partida, mas é extremamente simples fazer um talento ter todas as características de um gladiador.

Desculpe, aos adeptos do futebol de resultados, mas aqui sou obrigado a dar um exemplo do que aconteceu na preparação da Copa de 1982. Todos sabem que Sócrates nunca foi um atleta e dificilmente estava com o preparo físico em dia.

Mas, para o Mundial da Espanha, o jogador, que era o capitão da equipe, por acreditar no trabalho da comissão técnica, se preparou como nunca na parte física --inclusive parou de fumar no período-- e mostrou uma disposição incomum, dando vários carrinhos, como um autêntico volante, durante aquele Mundial.

Todos os problemas que tivemos na última Copa do Mundo, quando tínhamos vários talentos, mas nem um pouco preocupados em ganhar o Mundial, fez florescer esse tendência de se procurar jogadores que honrem a camisa que vestem antes de qualquer coisa.

Só que quem pensa assim pequeno esquece que quem deve passar os sentimentos de comprometimento e garra aos jogadores é quem os comanda.

Por exemplo, quando os convocados para o último Mundial perceberam que a comissão técnica não tomou nenhuma atitude quando vários deles se apresentaram fora de forma já perceberam que estariam livres para fazer o que eles bem entendessem. Como não foi criada uma unidade entre os jogadores --os convocados se dividiram em vários grupos--, o time ruiu.

'Nas Copas de 1958 e 62, que vencemos, tínhamos dirigentes muito bons. Tanto o Dr. Paulo Machado de Carvalho [chefe da delegação] e o Carlos Nascimento [supervisor] tinham confiança nos jogadores e nós, neles. Eles nos davam todo o apoio para que os atletas só se preocupassem em jogar bem. Em 1954 e 1966 sofremos com a desorganização dos dirigentes', resume o lateral Djalma Santos, que disputou quatro Mundiais, ganhou dois e perdeu dois.

Pela frase do lateral percebe-se que a confiança entre quem comanda e os subordinados é que faz um time funcionar --ou não-- e assim se cria o comprometimento. Esqueça se o time ficou isolado na concentração, ou se os treinos tiveram ou não a presença de público.
Ninguém lembra, por exemplo, que na Copa de 2002, os jogadores tiveram, no mínimo, tantas folgas quanto tiveram em 2006. Mas eles sabiam que havia um comando forte e que quem não desempenhasse no campo iria perder a vaga no time.

Não posso acreditar num futebol em que o comprometimento vale muito mais que o talento.

Até a próxima.

É sempre bom lembrar que o Campeonato Brasileiro está em andamento e que os pontos conseguidos agora vão fazer a diferença no final do torneio. Mesmo num torneio tão longo, não dá para esperar até o final da Copa do Mundo para os times começarem a pensar o que querem fazer. Assim, mesmo apresentando um futebol ruim, é bom destacar as duas vitórias iniciais do Corinthians, principalmente a conseguida contra o time misto do Grêmio, em Porto Alegre. Pois vai ser muito difícil que outra equipe vença os gaúchos no Olímpico.

ERA PARA SER DESTAQUE
Mais uma crise no Palmeiras. Isso já não é mais novidade. É impossível um clube que pretende disputar algum título ter de enfrentar vários problemas como o que está acontecendo no clube nos últimos tempos --nenhum quando o clube vence há um momento de paz. Também não se pode esquecer a incapacidade da diretoria, que não consegue administrar os problemas que surgem e muito menos tomar as decisões corretas nos momentos difíceis, como, por exemplo, contratar Antônio Carlos para ser técnico do clube.

humberto luiz peron

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve às terças-feiras no site da Folha.

 

As Últimas que Você não Leu

  1.  

Publicidade

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página