Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 

humberto luiz peron

 

16/06/2010 - 13h52

A primeira rodada

HUMBERTO PERON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A primeira constatação depois dos 16 primeiros jogos da Copa do Mundo é que 32 seleções é um número excessivo para um Mundial. Com tantos países no evento, a Fifa está acabando com o apelo que a competição mais importante do planeta tem. Uma Copa do Mundo sempre foi sinônimo da excelência do futebol.

Com tantos países chegando à Copa do Mundo, até as eliminatórias perderam seu encanto. Atualmente é muito difícil que uma seleção de tradição fique de fora do Mundial e nos vários continentes já foi criada uma elite, pois são sempre os mesmos países que conseguem a classificação.

Do jeito que está a Copa do Mundo atualmente, a primeira fase se transformou no que era as eliminatórias. O grande charme de um Mundial são os confrontos entre equipes de tradição, por isso a Copa só começa a partir das oitavas de final, ou seja, o Mundial atualmente tem o mesmo formato do torneio de 1934, quando 16 equipes disputaram o campeonato em mata-mata.

Mas, a grande verdade é que na primeira rodada a Copa foi uma decepção. Não falo baseado na baixa média de gols. Aliás, o número de gols nunca foi sinônimo de bom futebol. Os primeiros jogos do Mundial-2010 mostraram um nível técnico ruim e vários erros de fundamentos. Por exemplo, o número de passes errados --mesmo os mais simples e curtos-- está muito elevado.

Faltou também ousadia para os times. Mesmo com a maioria das equipes com formações teoricamente ofensivas --4-3-3, quando estão com a bola, e 4-5-1 no momento de se defender, os times pouco procuraram o gol.

Não é nenhum crime jogar na defesa. Alguns times, como a Suíça, que têm a vocação de jogar na retranca, e outros fracos, como Nova Zelândia, Honduras e Argélia, precisam se defender. Mas não custava nada que times com bons destaques individuais e superiores aos seus adversários procurassem tomar mais a iniciativa do jogo.

Não concordo com aqueles teóricos que dizem que no início uma seleção tem que ser mais cautelosa. Mesmo com a ansiedade de estreia, penso que o normal seria os times arriscarem logo no primeiro jogo, pois além de surpreenderem os adversários, mesmo com uma derrota no início ainda teria dois jogos para correr atrás da classificação.

Diante dessa situação ficamos com o seguinte cenário. As seleções não arriscam no primeiro jogo. Na segunda partida, uma derrota pode custar caro. Na rodada final da primeira fase, o time não parte para cima porque uma vitória simples basta. Nas fases de mata-mata as equipes não podem jogar ofensivamente porque tomar um gol significa a eliminação. Portanto, a expectativa de um bom futebol só vai acontecer depois do final do mundial.

Também me decepcionaram os times africanos. Durante muito tempo foi falado que as seleções da África precisavam de arrumação tática. Hoje esses times contam com organização, mas não têm futebol --nem a irresponsabilidade que sempre caracterizou os jogadores africanos. Hoje os times do continente da Copa vivem uma crise de identidade, pois perderam a técnica e não conseguem se adaptar aos sistemas defensivos.

O time que mais me agradou na rodada inicial --deve ser o pensamento de todos-- foi a Alemanha. Jogando um futebol simples. Com um lateral avançando de uma vez, com volantes saindo para o jogo e usando as pontas quando atacam, os alemães mostram força.

Além disso, os germânicos mostraram um armador de jogadas típico, o habilidoso Oezil --que foi o melhor jogador até agora do Mundial-2010. Com o seu pé esquerdo ele cansou de deixar os atacantes alemães na cara do gol. Talvez a sua atuação soberba foi o principal fator para que a Alemanha jogasse tão bem.

Gostei também de alguns momentos do time da Argentina. Apesar da fragilidade da defesa, os argentinos mostraram que contam com vários talentos no setor ofensivo. Aliás, dos candidatos a craques da Copa, Messi foi o melhor atuou. Ele procurou o jogo, fez boas jogadas individuais e travou um grande duelo com o goleiro da Nigéria. Destaque também para o Chile, de Bielsa, que coloca o time para jogar no ataque.

Já a seleção brasileira teve uma atuação dentro do que eu esperava. Tivemos --e vamos ter sempre-- dificuldades com um time que joga retrancado como o Coreia do Norte. Temos enormes problemas no setor de criação de jogadas --Kaká é muito mais um meia-atacante do que um armador.

Ganhamos a partida, com a conhecida força de ataque de Maicon, que abriu a contagem e, depois, decidimos o jogo da maneira que a atual seleção brasileira gosta de jogar: no contra-ataque.

Podemos ganhar a Copa jogando dessa maneira já que a concorrência não é forte, mas não vamos mostrar muito mais do que apresentamos na partida de estreia.

Vamos esperar uma melhora na segunda rodada.

Até a próxima.

humberto luiz peron

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve às terças-feiras no site da Folha.

 

As Últimas que Você não Leu

  1.  

Publicidade

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página