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humberto luiz peron

 

10/08/2010 - 14h28

O discurso só vale com vitórias

HUMBERTO PERON
Colaboração para a FOLHA

Eu não tenho mais a mínima paciência para ficar ouvindo discursos de dirigentes, técnicos e de boa parte dos companheiros de imprensa dizendo que um determinado clube está desenvolvendo um projeto de longo prazo e que nada vai fazer o time mudar o que foi planejado.

Esses belas - e bem intencionadas - declarações não passam de uma besteiras que não vão dar em nada.

No Brasil, ainda vale - vai ser assim por muito tempo - a cultura do resultado. (Nem preciso ir muito longe, até a partida contra a Holanda, quase três quartos da torcida brasileira aprovava Dunga no cargo de treinador da seleção). Nenhum plano, por mais correto que possa ser, tem chances de continuar se a vitória não aparecer o mais rápido possível, de preferência na próxima partida.

Como só a vitória vale é comum observar como muitos mudam de opinião e discurso de maneira muito rápida, numa covardia sem tamanho que só servem para iludir o público e a audiência. Difícil é ver alguém dizer que estava errado no seu pensamento e opinião - são poucos que fazem isso. É muito mais fácil mudar o discurso e chutar o vilão do dia.

Um lance pode transformar, por exemplo, o treinador genial em um mentecapto. O mesmo vale para jogadores e dirigentes. Hoje, o jogador que abusa dos dribles é considerado a "essência do futebol brasileiro". Amanhã, na derrota se transforma apenas numa "simples foca amestrada". O diretor competente e cirúrgico na hora de contratar se torna, de uma hora para outra, naquele que só contrata bagulhos. E por aí vai.

Nos últimos dias temos vários exemplos dessa mudança repentina de discursos. Falo da situação dos técnicos Ricardo Gomes e Luiz Felipe Scolari - poderia registrar mais vários casos, mas deixo para vocês lembrarem.

Vamos ao caso de Ricardo Gomes e a eliminação do São Paulo na Copa Libertadores.

Nunca achei que o treinador fosse o ideal para o time paulista. Mesmo com passagem pelo futebol europeu tivesse condições de dirigir um clube de ponta do nosso futebol. Mas, a boa campanha - para alguns - no Brasileiro do ano passado, fez que alguns considerassem o treinador como o ideal para o time - não vamos esquecer que vários que se dizem bem informados diziam que Ricardo Gomes teve seu nome cotado para ser técnico da seleção após o Mundial da África do Sul.

Mas, tudo que se falava de Ricardo Gomes mudou depois da eliminação são-paulina. O treinador que era exaltado por sua educação no trato dos jogadores, de repente, se transformou num frouxo que não tinha nenhum comando. Ele que foi estrategista na vitória sobre o Cruzeiro, no Mineirão, foi o covarde na partida no Beira-Rio.

Aliás, é preciso dizer que o São Paulo jogou de maneira muito similar quando enfrentou o Cruzeiro e o Internacional fora de casa. Recuado, dando espaço e tentando jogar no erro do adversário, nos contra-ataques. Nas duas partidas, Rogério Ceni foi muito acionado e precisou fazer defesas importantes, mas o problema é que no jogo em Porto Alegre, o Internacional errou muito pouco e alguns jogadores do São Paulo jogaram muito mal, principalmente Hernani e Fernando, que decidiram a partida na casa dos mineiros.

Outra coisa, se o São Paulo consegue fazer mais um gol no Morumbi, todos iriam dizer que Ricardo Gomes foi muito inteligente, pois perdeu de pouco fora de casa e garantir a classificação em casa - receita que Telê Santana e Luiz Felipe Scolari cansaram de usar nos títulos continentais que conquistaram.

Agora já começam as críticas ao trabalho de Felipão, no Palmeiras, pois o treinador demora em conseguir sua primeira vitória comandando o time. Se antes ele seria a pessoa que colocaria a pessoa no caminho das vitórias novamente, agora não pairam desconfianças. O problema do Palmeiras não treinador, o time continua com carências em algumas posições fundamentais como um zagueiro e um centroavante. Aí, mesmo um técnico competente com Scolari vai ter problemas.

No nosso futebol, o julgamento de um trabalho é feito apenas pelo último resultado.

Até a próxima.

DESTAQUE
A conquista do Santos na Copa do Brasil, o segundo título do clube na temporada. Título merecido do time que apresentou o melhor futebol no país em 2010 e que mostrou que é possível jogar ofensivamente e conseguir ganhar campeonatos. Agora, com a vaga na próxima Copa Libertadores é preciso que o clube encontre uma maneira de manter - o que não será nada fácil - boa parte dos seus principais jogadores. Outro desafio é que com a vaga assegurada no principal torneio intercontinental o time não se acomode, pois a Copa Sul-Americana vai dar aos jovens santistas a experiência de jogar um torneio internacional que poder ser fundamental para que o clube tenha sucesso na Libertadores-2011.

DEVERIA SER DESTAQUE
Fluminense, líder, e o Corinthians, segundo colocado, estão abrindo uma vantagem considerável sobre os demais clubes no Campeonato Brasileiro. Enquanto os líderes conseguem resultados importantes, as outras equipes não conseguem uma sequência de bons resultados e quando ensaiam uma reação acabam perdendo pontos em jogos considerados fáceis. Se no ano passado, a disputa pelo título envolveu quatro clubes até a última rodada, em 2010 teremos uma disputa bem mais restrita. Em tempo: não vale dizer que o torneio está no início, pois o torneio já passou da 13ª rodada.

humberto luiz peron

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve às terças-feiras no site da Folha.

 

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