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humberto luiz peron

 

13/10/2010 - 12h54

Cada jogo tinha sua história

HUMBERTO PERON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Não faz muito tempo, uma das coisas que me dava mais prazer --também por ser uma missão complicada-- era analisar e comentar uma partida de futebol.

Cada jogo tinha várias mudanças de esquemas e situações durante os 90 minutos. Pequenas --e grandes-- alterações táticas e de posicionamento, que faziam o ritmo da partida mudar totalmente. Também havia substituições que surpreendiam e transformavam o andar do jogo e, que realmente, poderiam ser classificadas como mudanças.

Ou seja, um minuto de distração para quem estava analisando o jogo e você poderia perder o detalhe que fez mudar o resultado. Cada partida se tornava um desafio para ser analisada, pois era difícil prever o que aconteceria.

Hoje, tendo que acompanhar semanalmente as partidas do nosso futebol, é fácil perceber que todas estão com um roteiro bem definido.

Não há surpresas, antes de a bola começar a rolar, você já sabe exatamente o que irá acontecer, períodos das mudanças e, sem muito esforço, é fácil descobrir as substituições que serão realizadas.

Pode reparar, mas o que eu vou narrar abaixo é que acontece nas partidas do Campeonato Brasileiro.

Começa o jogo e o time da casa toma a iniciativa. Fica um bom tempo no campo de ataque, mas não consegue criar uma jogada de perigo. Toca a bola, a gira de um lado para o outro, mas não tem objetividade nenhuma.

Esses toques de bola improdutivos para o lado surgiram de uma má interpretação de um conceito que é preciso manter a posse de bola. Só que, aqui no Brasil, os times ficam com a bola nos pés, mas não evoluem. Principalmente no início das partidas é comum times precisarem mais de 40 segundos e vários passes para sair de uma determinada zona do campo.

Já o time visitante fica só se defendendo e esperando a chance de criar um contra-ataque.

E o cenário pode ficar assim, até o final de jogo, se ninguém conseguir achar um gol. Desculpe a expressão "achar um gol", pois é isso que acontece no nosso futebol atualmente. Infelizmente, os times brasileiros só conseguem marcar gols em três condições.

A primeira é em jogadas de bolas paradas, como cruzamentos em faltas e escanteios ou nas cobranças de infrações diretas --por isso, os jogadores mais importantes dos times são aqueles que têm facilidade e habilidade em bater faltas e escanteios. O outro modo de se marcar é os cruzamentos altos para área.

A terceira maneira marcar um gol é no contra-ataque. Como os times não contam com nenhum planejamento ou padrão para atacar, eles deixam muito espaço para o adversário aproveitar. Sem muito esforço e habilidade é relativamente fácil criar uma chance explorando os enormes espaços deixados pelo adversário.

Quando há um raro gol marcado de outra maneira, por exemplo, após uma jogada individual, ficamos dias o classificando como o gol do ano.

Se, na partida, o time da casa achar um gol, vai ser ele que vai recuar esperando o adversário para contra-atacar. Aí o cenário se inverte, com os visitantes cruzando bola para a área e tentando cavar uma falta para criar uma chance de gol.

Já se o gol achado acontecer para o time visitante, o time mandante vai se mandar mais para o ataque e deixar ainda mais a defesa desprotegida. Resultado: uma infinidade de bolas chutadas para área e mais espaço para os contra-ataques. Assim, o time visitante fica senhor dos rebotes, domina o jogo, faz o segundo gol e ganha o jogo.

Falei das substituições repetidas logo no começo do texto, mas o repertório das alterações dos nossos treinadores é muito pequeno; independente do que está acontecendo no gramado, as trocas são sempre as mesmas.

Quando o time está perdendo já se tornou clássico tirar um dos laterais para se colocar um meia-atacante ou um atacante --isso acontece sempre até os 20 minutos do segundo tempo. Já a troca clássica para os últimos minutos de partida é aquela que se troca um dos atacantes por um jogador especialista no jogo aéreo. Nada mais do que isso.

Já quem está ganhando segue o padrão de sempre colocar um atacante veloz para puxar os contra-ataques - alteração feita por volta dos 20 minutos da etapa final. Já nos dez minutos derradeiros é sempre a mesma coisa. Sempre entram um volante marcador e um zagueiro para reforçar a defesa.

O futebol só é tão popular porque sempre apresentou surpresas. Mas, infelizmente, nos últimos tempos, as partidas de futebol estão ficando cada vez mais previsíveis e iguais.

Até a próxima.

Mais pitacos em: www.twitter.com/humbertoperon

DESTAQUE
Adilson Batista não resistiu ao mau momento do Corinthians. Em um período muito curto, o treinador saiu de herói, aquele que fez o time jogar mais do que no tempo de Mano Menezes e que comandou as melhores partidas no ano --vitórias fora de casa contra Fluminense e Santos-- para ser o único responsável pela queda de rendimento do time. A queda do treinador se deve a muitos fatores, como a contusão de vários jogadores e escalação equivocada de alguns atletas. Adilson Batista é um bom técnico, mas na hora que precisou administrar uma série de problemas --que também é função do treinador --num time em que as turbulências são fortes e que sempre surgem palpiteiros, não teve competência para manter o barco no rumo certo.

ERA PARA SER DESTAQUE
Desde que começou a ser usado o sistema que nenhuma peça de uniforme pode ser igual ao do adversário, o Santos evita jogar de camisa branca e calção preto --que, segundo alguns dirigentes, faz o time ficar parecido com o Corinthians. Por isso, o time já usou calções de padrões inusitados, como um xadrez e outro cheio de estrelas. Ultimamente, quando o time praiano joga contra um time que tem calções brancos, o time utiliza a camisa listrada para fazer conjunto com o calção preto. Essa mania santista --vamos chamar assim-- já causou alguns problemas, como por exemplo, na partida contra o Fluminense, quando os dois times entraram em campo com suas camisas listradas, dificultando a visão dos jogadores e de quem via a partida pela TV.

humberto luiz peron

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve às terças-feiras no site da Folha.

 

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