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humberto luiz peron

 

02/11/2010 - 12h43

A seleção que eu tentei imitar

HUMBERTO PERON
COLABORAÇÂO PARA A FOLHA

Acho estranho passar um domingo sem futebol, como no último. Sinto falta da expectativa das partidas da tarde que me faz perder quase todo o dia pensando em futebol.

No último domingo, sem jogos do Campeonato Brasileiro, tive um daqueles raros dias que consigo observar detalhes que passam pela minha frente todos os domingos, mas que com os meus pensamentos nos jogos acabam passando despercebidos.

Caminhando por um parque vi vários meninos jogando futebol. Em, três ocasiões, com grupos diferentes, vi a mesma cena. Antes de fazer uma finalização observei dois meninos, na faixa de 10 anos, e um adolescente perto dos 15 anos, imitando todo o ritual que o palmeirense Marcos Assunção faz antes de chutar uma falta. Não faltava nenhum detalhe, como a passada da bola na camisa e os ajustes nas meias e nas chuteiras.

Pronto. Ao ver essas cenas, tinha alguma coisa sobre futebol para ocupar meus pensamentos por alguns minutos naquele domingo sem futebol. Em poucos minutos comecei lembrar os jogadores que eu tentei imitar - com seus trejeitos e características - durante as peladas. Assim, como faziam aqueles meninos.

Dessas lembranças, que me renderam boas lembranças e boas gargalhadas solitárias, consegui formar um time, que aqui escalo para vocês:

Leão - Do melhor goleiro brasileiro da década de 1970 não me limitava apenas imitar seus saltos para fazer as defesas. Tentava e nunca conseguia repetir os longos lançamentos como os braços para os seus companheiros - seus arremessos precisos acabavam no peito de um companheiro no centro do gramado. É lógico que nunca consegui mandar a bola além da intermediária e a maioria dos lançamentos acabou em lateral para o adversário. Eu imitava Leão com perfeição nos vários rolamentos no chão que ele dava após levar um gol ou fazer uma defesa, que acabava valorizando o esforço do arqueiro em tentar evitar o gol do adversário.

Nelinho - Impressionado com a maneira que o lateral conseguia bater na bola, com força, precisão e muito efeito, tentava sempre observar ver com que parte do pé o jogador acertava na pelota. Mas, sempre faltava algo, quando dava efeito na bola, ela não ganhava velocidade e quando saia forte a direção do chute era totalmente equivocada.

Luís Pereira - Ao imitar o grande zagueiro acabei criando alguns problemas. Aos adversários acertei vários tornozelos tentando imitar os carrinhos precisos que Luís Pereira tinha como características. Em minha postura, ao tentar reproduzir a maneira do zagueiro andar, passei um tempo andando curvado. Finalmente ao tentar reproduzir as arrancadas do defensor para o ataque fiz os times que eu joguei tomar muitos gols.

Amarildo - Antes de qualquer coisa é preciso lembrar que Amarildo foi quarto-zagueiro do Palmeiras na década de 1980. Ele fez o único gol do time na final do Campeonato Paulista de 1986. Aqui a imitação foi influenciada por amigos que diziam que eu parecia o zagueiro por ser canhoto, chutar forte - e acertar pouco o alvo - e ser magro como o zagueiro.

Vladimir - A capacidade de marcação do lateral do Corinthians sempre me chamou a atenção. Dificilmente um ponta conseguia levar vantagem sobre ele. Tentava observar a maneira que ele se colocava para enfrentar os adversários e qual o momento que ele dava o bote preciso para tomar a bola do adversário.

Clodoaldo - Além de capacidade de movimentação e marcação do volante santista, sempre eu tentava imitar a característica que ele tinha quando estava para receber um passe. Acho que por instinto o volante, mexia a cabeça para os dois lados e já sabia, antes da bola chegar, o que faria. Eu achava incrível isso. Nas minhas tentativas de imitação, muitas vezes, ao sacudir a cabeça, acabava esquecendo a bola, que ficava para o adversário.

Falcão - Talvez o mais elegante jogador que eu vi jogar. Além de ser craque, Falcão tinha um estilo muito bonito de jogar, sempre correndo com as pernas bem esticadas e sempre olhando para frente, mesmo com as bola nos pés. A postura era fácil de reproduzir, já o futebol...

Sócrates - O meia representava que o jogador não precisa ser um atleta para ser craque. Genial, ele conseguia fazer lances geniais sem grande esforço. O melhor exemplo disso são os precisos toques de calcanhar, que ele usava como solução e não como firula, como todos aqueles que o imitavam. Ele também poderia participar pouco das partidas, mas nos segundos que aparecia ele era decisivo. Por fim, Sócrates nos mostrava que um jogador de futebol não precisa ser um alienado e pode ter participação ativa no que acontece no país.

Carlos Alberto Borges - Ele surgiu como uma das grandes revelações do nosso futebol no início da década de 1980, pela sua rapidez e mobilidade em campo. Mas, depois de ser atingido por raio, durante um treino no Palestra Itália nunca mais apresentou o futebol que o levou para a seleção. Eu imitava o meia, principalmente na maneira de correr, com os dois braços dobrados junto ao corpo.

Casagrande - Quando apareceu no Corinthians, no início de 1982, o centroavante mostrava que era possível um cara que acabara de sair da adolescência fazer sucesso no futebol. Ele também representava a havia espaço para a rebeldia e a liberdade que esperávamos ao gostar de rock, usar cabelos longos, camisa para fora do calção e as meias arriadas. Os gols e a sua forma de jogar erram imitados, mas quem o imitava - como eu - gostava de copiar sua atitude.

Edu - Qual o canhoto, como eu, não gostaria de ter a habilidade do ponta santista? Seguramente ele foi o jogador que teve o maior repertório de dribles do nosso futebol. Era capaz de no mesmo lance aplicar uma finta curta num adversário, para no lance seguinte, usando a velocidade, aplicar o drible da vaca no zagueiro que chegava para fazer a cobertura do primeiro. Diziam que Edu conseguia fazer um drible no espaço de uma folha de sulfite (tamanho A4, para os mais novos). Confesso que prendi folhas no chão para tentar um drible num espaço tão diminuto e nunca consegui, mas Edu realizava dribles naquele espaço, tenho certeza.

Que o futebol continue sempre criando ídolos que nos dê vontade de imitá-los.

Até a próxima.

Mais pitacos em: www.twitter.com/humbertoperon

DESTAQUE

Se craque é aquele aparece nos momentos decisivos, o meia Conca, do Fluminense, mostra que é o grande jogador do Campeonato Brasileiro. Além de jogar todas as partidas do time até aqui, o jogador tem sido decisivo para o Fluminense, fazendo gols e jogadas nos momentos que mais precisa. E isso não aconteceu apenas partida contra o Grêmio, mas em todo o torneio. Os grandes momentos do Fluminense no Nacional coincidiram com grandes atuações de Conca.

ERA PARA SER DESTAQUE

Achei correta a convocação de Ronaldinho Gaúcho. A presença do jogador do Milan entre os convocados vai servir de referência para os novos. A chamada do jogador do Milan para o jogo contra a Argentina, também revela que Mano Menezes sabe que o trabalho de renovação é importante, mas é importante ter jogadores experientes em jogos contra adversários como a Argentina. O nosso treinador já percebeu quanto os bons resultados, mesmo em amistosos, são importantes para que ele possa ter tranqüilidade no cargo.

humberto luiz peron

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve às terças-feiras no site da Folha.

 

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