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humberto luiz peron

 

30/11/2010 - 13h19

Não acreditem nisso

HUMBERTO PERON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Fico perplexo em perceber que muitas pessoas acreditam que o sistema de pontos corridos é uma fórmula que favorece manipulação de resultados. Também pudera no ano passado tivemos jogos suspeitos no final do torneio e agora nas rodadas finais de 2010 a "entrega" de partidas é o assunto mais comentando entre os torcedores.

O que precisa ficar bem claro é que facilitar as coisas para um adversário --acho o termo entregar muito pesado-- acontece em qualquer tipo de regulamento. As grandes alterações de resultados da história do esporte aconteceram em torneios que não eram disputados no sistema de pontos corridos.

Só para lembrar três grandes armações alemãs em Copas do Mundo.

Na Copa de 1954, a Alemanha escalou um time misto contra a Hungria na primeira fase. Levou uma goleada, mas na partida houve a contusão de Puskas --os alemães deram várias pauladas no tornozelo do húngaro--, o principal jogador da Hungria, que inclusive jogou a final daquele Mundial, contra a própria Alemanha, totalmente baleado.

Em 1974, a então Alemanha Ocidental, já classificada para a segunda fase, teria perdido para a então Alemanha Oriental, para evitar um confronto precoce com Brasil e Holanda. Mais uma vez, a tática deu resultado e o time venceu o torneio.

Em 1982, outra marmelada, na partida entre Alemanha e Áustria. Como a vitória dos alemães, pela contagem mínima, classificava as duas equipes, a partida logo após o gol germânico, logo nos minutos iniciais, se transformou num espetáculo horroroso com as duas equipes tocando a bola para o lado.

Não vou ficar apenas no futebol e aí nem precisamos ir muito longe. Todos lembram que no Mundial de Vôlei desse ano a seleção masculina de vôlei escalou um time que não tinha condições de bater a Bulgária --inclusive com um levantador improvisado-- perdeu a partida e teve um caminho mais fácil para chegar ao tricampeonato.

Não me consta que o Mundial de Vôlei seja disputado no sistema de pontos corridos. É bom dizer que não foi só o Brasil que utilizou esse expediente no Mundial, outras seleções perderam partidas para conquistarem vantagens nas fases mais agudas do campeonato.

Quem afirma que os pontos corridos favorecem a manipulação de resultados esquece que na última rodada de uma fase de classificação uma equipe pode entregar uma partida para tirar um rival da disputa ou até para escolher um time mais fraco para enfrentar na fase eliminatória.

O que eu quero dizer é que num torneio com "mata-mata" a entrega de resultados tem papel muito mais forte do que nos pontos corridos, principalmente quando o torneio tem 38 rodadas.

Vamos pegar o exemplo do Corinthians. Os torcedores do time reclamam da pouca disposição de seus rivais São Paulo e Palmeiras nas partidas contra o Fluminense - realmente são-paulinos e palmeirenses entraram em campo contra os cariocas sem o mínina intenção de vencer, aliás, com a mesma falta de vontade que o Corinthians jogou contra o Flamengo no ano passado.

Mas, só para falar das últimas rodadas, se o Corinthians tivesse vencido o Vitória, time que luta contra o rebaixamento em Salvador - missão que Fluminense e Cruzeiro cumpriram - ele não precisaria dos resultados de seus rivais.

Engraçado que mesmo com o Campeonato Brasileiro sendo disputado no sistema de pontos corridos desde 2003 muitos analisam o torneio como se tivéssemos em um torneio com "mata-mata", ou seja, só se lembram das as últimas rodadas.

Já escrevi aqui e vou repetir. Os principais rivais do Corinthians - Palmeiras, São Paulo e Santos - ajudaram muito o time de Parque São Jorge no torneio.

No confronto contra os seus tradicionais adversários, o Corinthians 16 pontos dos 18 possíveis. Enquanto o Cruzeiro vai fazer, no máximo, oito pontos --se ganhar do Palmeiras na última rodada-- contra os rivais paulistas do Corinthians. Já o Fluminense conseguiu 11 pontos. Ou seja, se o Corinthians não ganhar o torneio, não deve culpar seus rivais.

Existem muitos motivos para aqueles que querem mudar a fórmula de pontos corridos, mas com certeza essa teoria que só nos pontos corridos existe times que facilitam em alguns jogos para prejudicar um rival não se sustenta.

A "entrega" ou não de partidas não é um problema do regulamento do torneio. A questão está na falta de ética, caráter e profissionalismo da quase a maioria de dirigentes e alguns jogadores e técnicos, que adoram se comportar como um grupo de torcedores imbecis e insanos --que adoram desrespeitar a história de seus times-- que todo clube tem.

Várias pessoas afirmam que entendem que os torcedores peçam para o time perder uma determinada partida, já que existe a rivalidade. Eu acho isso uma grande bobeira. Quem entende assim está dando suporte para as armações.

Eu como torcedor, já escrevi isso aqui num texto chamado "O Meu Time" (http://www1.folha.uol.com.br/colunas/futebolnarede/798515-o-meu-time.shtml) não quero que o meu clube saia derrotado em qualquer circunstância. Vai contra a essência contra qualquer torcedor querer a o revés do seu time. O torcedor quer ver seu time ganhar sempre e pouco importa quem o time dele vai ajudar.

Existe situação mais prazerosa do que ver a torcida de um rival comemorando o gol do seu time? Isso vai ser motivo de brincadeiras eternas e isso vai ficar muito mais marcado do que o possível título que o rival possa ganhar.

Títulos se conquistam todos os anos, mas ver um torcedor rival gritando o nome do nosso time dificilmente acontece.

Mais pitacos em: www.twitter.com/humbertoperon

DESTAQUE
O Fluminense, que ficou muito perto de conquistar o título brasileiro. Uma vitória contra o rebaixado Guarani já basta e só uma daquelas grandes surpresas - que só no futebol acontece - tira a taça das Laranjeiras. Talvez o pior adversário do Fluminense deva ser a ansiedade de fazer um gol a qualquer custo e decidir a partida o mais rápido possível. Para Corinthians e Cruzeiro só resta o trabalho de vencer suas partidas contra Goiás e Palmeiras, respectivamente, e torcer por um tropeço --improvável-- do time de Muricy Ramalho.

ERA PARA SER DESTAQUE
Além da disputa pelo título ainda teremos dois confrontos diretos decisivos. Em Porto Alegre, Grêmio e Botafogo lutam pela chance de ficar em quarto lugar e ainda sonhar com uma vaga na próxima Copa Libertadores. Um jogo que tem tudo para ser interessante com duas equipes que fizeram campanhas excelentes. O time carioca sempre se manteve entre os primeiros e os gaúchos fizeram um segundo turno primoroso e digno de nota, com um aproveitamento de pontos inacreditável. Já Vitória e Atlético-GO jogam o direito de continuar na Série A em 2011.

humberto luiz peron

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve às terças-feiras no site da Folha.

 

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