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humberto luiz peron

 

16/02/2011 - 12h35

Eles já gostaram mais do futebol

HUMBERTO PERON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O pior que pode acontecer para um profissional é ele trabalhar apenas por obrigação. É aquele momento que ele vai para sua atividade com a missão de fazer o mínimo possível, para não ser mandado embora e voltar no dia seguinte. Não dá um sorriso, não faz nada além do programado, não gosta de falar do que faz e nem demonstra o mínimo carinho com que fazem.

Alguns, com talento, conseguem disfarçar melhor, fazem suas tarefas no automático, com a intenção de ficar livre o mais rápido da tarefa e, quando a terminam, vão embora o mais rápido possível.

O que eu descrevi acima acontece em qualquer ramo profissional, mas como aqui falamos de futebol, afirmo que os jogadores de futebol profissional atualmente gostam bem menos de sua profissão que aqueles que estavam na ativa não faz muito tempo.

Aqui não falo daquelas baboseiras como amor à camisa, profissionalismo, nível intelectual dos jogadores. Falo do amor a profissão e ao jogo.

Quando você fala com algum jogador aposentado, independente condição financeira dele no momento, ele diz com alegria dos tempos de jogador. Gosta de contar histórias do que acontecia nos bastidores e vestiários, mostra respeito da carreira ao recordar o tempo que precisava dividir o lanche com o companheiro para ir treinar nas categorias de base, lembra perfeitamente de jogos, fala com respeito de companheiros e das malandragens que o futebol cada vez mais profissional - será mesmo? - não permite mais.

Para não ficar apenas em histórias é sempre bom dizer que no campo os jogadores também mostravam mais prazer. Qualquer treino era muito mais alegre do que é hoje. O jogador mostrava satisfação em treinar com bola, ele queria ter contato com a pelota o maior tempo possível.

Quando atividades acabavam, diferente de hoje quando os jogadores correm o mais rápido possível para os vestiários, eram formadas várias rodinhas de atletas e membros da comissão técnica que conversavam sobre futebol - e nesses grupos se juntavam jornalistas. Várias jogadas que decidiram jogos foram criadas nesses bate-papos informais, sem dizer os problemas que eram resolvidos.

Talvez o jogador não ame tanto o futebol porque existem várias atividades que o afastem do esporte. Muitos deles precisam estar em vários eventos longe dos campos, como lançamentos de produtos, desfiles de modas, lançamentos de boneco. E essas atividades em paralelas tiram do jogador a atenção do que eles deveriam ter com sua profissão.

Também é preciso dizer que atualmente o jogador se cansa muito mais rápido da profissão. Não faz muito tempo -- eu sei que tenho voltado muito ao passado neste texto, mas é preciso fazer a comparação - o menino se divertia com o futebol, antes de tentar a chance em um clube. Hoje isso não acontece. Perto dos 10 anos, alguns garotos já têm a vida de um jogador profissional. Portanto é natural, que perto dos 25 anos eles já não aguentem mais o futebol, já que para eles o esporte nunca foi um prazer e sempre foi uma obrigação.

É bom pensarmos nisso. O nível técnico futebol caiu muito porque estamos criando jogadores que não amam e não sentem prazer em jogar futebol.

Até a próxima.

Mais pitacos em: www.twitter.com/humbertoperon

DESTAQUE
A melhor definição para um jogador parar foi dada pelo mestre Zizinho - para quem não sabe o jogador foi o maior ídolo de Pelé. Ele dizia: "Decidi parar quando eu percebi que eu dava um drible no zagueiro e, logo depois, ele já estava na minha frente. Dava mais uma finta e não me livrava dele, então tinha que driblá-lo de novo". Isso já estava acontecendo com Ronaldo. O craque que sempre conseguia fazer o impossível - é só ver seus vários renascimentos após as suas graves contusões -- e aparecer como o salvador sentiu que não tinha mais condições de fazer isso. No final do ano passado, quando o corpo cansado e baleado não conseguiu ajudar o Corinthians na reta final do Brasileiro e agora, contra o Tolima, quando ele pouco pode fazer. Ronaldo merece todas as homenagens, pois foi um atacante excepcional, tem uma coleção de títulos considerável e termina a carreira como o jogador que fez mais gols em Copas do Mundo.

ERA PARA SER DESTAQUE
O São Paulo e os são-paulinos sempre se orgulharam de dizer que tinham dirigentes que fugiam da mediocridade das pessoas que dirigem o nosso futebol. Mas, ao aceitar receber e ficar com a famosa "Taça das Bolinhas", o clube mostrou que é comandado por dirigentes tão ruins quanto os outros clubes. Ao ficar com a taça, o clube renegou todo o seu passado de tentar mudar o rumo do nosso futebol. Ao receber o troféu, quem dirige o time atualmente esqueceu que o clube teve papel fundamental na criação do Grupo dos Treze e na organização da Copa União - cujo campeão foi o Flamengo. O São Paulo não vai ser maior em ter o troféu no seu memorial, mas perdeu muito da sua credibilidade em aceitar ficar com o a taça. Mais uma situação patética do nosso futebol, assim como foi recente unificação dos títulos brasileiros.

humberto luiz peron

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve às terças-feiras no site da Folha.

 

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