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humberto luiz peron

 

14/04/2011 - 11h37

Os melhores devem jogar

HUMBERTO PERON
COLABORAÇÃO PARA FOLHA

Uma das funções básicas de um treinador de futebol é armar sua equipe para que os melhores jogadores tecnicamente possam jogar. Cabe ao técnico encontrar soluções para conseguir escalar atletas que "não podem jogar juntos".

Não concordo com a expressão acima, pois acho um desperdício, com a carência de talentos que temos no momento, deixar um grande jogador no banco, mesmo sendo acima da média, porque ele tem características similares a outro jogador do time.

Acho isso ruim, pois gera desconfiança entre os jogadores, por mais que eles neguem uma disputa. Em qualquer partida, aquele que é escolhido como titular já sabe que, na primeira bola que ele errar, a torcida já vai pedir a entrada daquele que ficou na reserva.

Jogadores de boa qualidade técnica são muito mais inteligentes e versáteis. Quando bem orientados, conseguem desempenhar com sucesso outras funções e até mudar algumas de suas características.

Talvez, o melhor exemplo disso aconteceu na Copa de 1970, quando a seleção brasileira conseguiu juntar no seu ataque cinco craques: Jairzinho, Gerson, Tostão, Pelé e Rivellino. Jogadores que muitos afirmavam que nunca conseguiriam jogar juntos, principalmente a dupla Pelé e Tostão - que foi inteligentemente montada na seleção por João Saldanha, em 1969, e que Zagallo, depois de muitas experiências, acabou usando naquele Mundial.

Os cinco jogadores tiveram de se adaptar para que o time brilhasse. Tostão teve de jogar de costas para os zagueiros, preparando bolas para os companheiros e abrindo espaço para os outros atacantes. Jairzinho explorava sua velocidade pelos dois lados do campo, enquanto Rivellino fazia o trabalho de armação se revezando com Pelé nas jogadas pelo lado esquerdo, e Gerson atuou mais recuado, como um segundo volante, para ter espaço para realizar seus precisos lançamentos.

Para não deixar o time tão vulnerável na defesa, os cinco também ajudavam muito no sistema defensivo, quando o Brasil perdia a bola, todos voltavam para o campo de defesa e cercavam os adversários.

Ok. Estou falando de cinco fenômenos e de uma seleção brasileira em que o técnico pode escolher os jogadores que ele bem entenda. Mas em clubes também é possível fazer isso.

No grande Flamengo do início de 1980, os treinadores Claudio Coutinho e depois Paulo Cesar Carpegiani acharam o lugar ideal para seus craques. Por exemplo, na época se dizia que Zico e Tita não teriam espaço no mesmo time.

Foi achada a solução de colocar Tita como um falso ponta-direita, e os dois faziam um revezamento perfeito pelo setor. Inclusive, Tita ajudava na marcação do meio-de-campo para dar mais liberdade para Zico.

No lado esquerdo, foram escalados Júnior, Lico e Adílio, que se revezando no setor fazendo a função de atacantes e fechando a marcação no setor. Era difícil dizer quem era o ponta, o lateral e o meia.

Não faz muito tempo, Vanderlei Luxemburgo achou uma maneira de encaixar, no meio-de-campo do Corinthians, os jogadores Rincón, Vampeta, Ricardinho e Marcelinho. O colombiano se adaptou muito bem como volante, e o time, além de ter no setor jogadores que sabiam jogar, também ficou muito sólido.

No próprio Corinthians, em 2009, Mano Menezes conseguiu formar um time tendo três atacantes - Ronaldo, Dentinho e Jorge Henrique -, e conseguiu que os dois últimos, quando o time perdia a bola, voltassem para marcar os adversários.

Com o Santos, do primeiro semestre do ano passado, aconteceu a mesma coisa. O treinador Dorival Júnior montou uma equipe com os melhores jogadores que tinha tecnicamente e, além do futebol bonito, ganhou os títulos da Copa do Brasil e do Campeonato Paulista.

Poderia citar vários casos em que jogadores com características similares atuaram juntos e com sucesso. No clube para o qual você torce isso já aconteceu várias vezes.

Mas atualmente temos bem claro essa questão no Palmeiras, com Valdívia e Lincoln.

Acho que há espaço para que os dois possam jogar juntos. Bastaria Lincoln jogar um pouco mais recuado, na armação de jogadas, e Valdivia um pouco mais perto dos atacantes.

Com isso, o arrumado Palmeiras ganharia um jogador a mais no meio-de-campo que sabe passar a bola e é capaz de fazer uma jogada individual. Para resolver o problema de marcação, bastaria um dos dois recuar um pouco para marcar a saída de bola de um dos laterais.

Luiz Felipe Scolari, que é um treinador inteligente, deve estar pensando, por mais que ele negue, em usar Valdivia e Lincoln juntos. Principalmente quando ambos estiverem em totais condições físicas.

Até porque, o técnico já conseguiu unir vários jogadores de características parecidas, como Carlos Miguel e Arilson, no Grêmio, e a dupla Zinho e Alex, no próprio Palmeiras. Sem dizer do trio atacante da Copa de 2002, formado por Ronaldinho, Ronaldo e Rivaldo.

Num futebol tão carente de talentos, é primordial que os treinadores sempre descubram uma maneira de colocar o maior número possível de bons jogadores em campo.

Até a próxima.

Mais pitacos em: www.twitter.com/humbertoperon

DESTAQUE
O Cruzeiro, que fez a melhor campanha na fase de classificação da Copa Libertadores. O time consegue ter, ao mesmo tempo, um bom desempenho ofensivo e um sistema defensivo seguro, méritos para o bom trabalho do técnico Cuca. O Cruzeiro é o melhor time do país no momento e isso precisa ser tido.

ERA PARA SER DESTAQUE
Os dois times de Porto Alegre, que apostam em grandes ídolos para comandar seus times. O Grêmio acertou quando contratou Renato Gaúcho como treinador, no ano passado. E acho que o Internacional também fez a escolha certa ao colocar Falcão para treinar a equipe.

humberto luiz peron

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve às terças-feiras no site da Folha.

 

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