O futebol no nosso cotidiano

No início da década de 1970, era contada a história de que as pessoas evitavam comprar carros fabricados às segundas-feiras. A explicação para essa recusa teria ligação direta com o futebol.

Os consumidores achavam que, como a massa de metalúrgicos era corintiana, os automóveis fabricados no primeiro dia útil da semana teriam problemas de montagem, pois os envolvidos na montagem, em função da depressão por seu time ter perdido no fim de semana ou da euforia pela possibilidade do término do jejum de títulos, não estariam concentrados totalmente.

Não sei se o fato descrito é verdadeiro, mas a realidade é que o futebol tem influência direta no que acontece na vida dos torcedores.

Nos dias que sucedem os fins de semana de decisões dos campeonatos estaduais é muito fácil perceber quais são os torcedores dos times que foram campeões e os derrotados.

Os vencedores estão alegres, contam piadas de qualquer assunto, respondem qualquer pergunta de maneira rápida e estão muitos mais dispostos a fazer qualquer tarefa. Já os derrotados pouco querem falar. Quando precisam dizer algo, sempre o fazem de maneira agressiva, e ficam cabisbaixos, só esperando a hora de ir embora.

Falei acima de comportamentos em ambientes de trabalho, mas a derrota ou a vitória de um clube também tem influência no nosso cotidiano.

Uma bela vitória, no domingo, nos ajuda a levantar melhor disposto e a ter ideias para enfrentar os problemas, dar um beijo mais demorado na esposa e achar graça nas manhas do filho, que não quer acordar para ir à escola. Até parece que o metrô e o ônibus não estão lotados e que os sinais de trânsito estão todos verdes.

Já depois da derrota, parece que todas as segundas amanhecem cinza. Tudo que acontece parece que é uma grande conspiração do destino contra você, a começar pelo despertador, que não vai tocar cedo, fazendo você perder a hora.

Falo isso porque já passei por tudo isso. E ainda passo. Uma derrota ou vitória do meu time sempre me influenciou muito, principalmente na minha adolescência, quando o time insistia em machucar seus torcedores.

Perdi a conta de quantas vezes voltei do estádio e me tranquei no quarto por não suportar a dor de mais uma derrota e de como perdi amigos, torcedores do meu time, por discutir e tentar provar que "aquele perna-de-pau" era craque.

Por outro lado, uma vitória era capaz de refazer todas as amizades perdidas na última derrota e até de me dar mais confiança e motivação para fazer qualquer coisa da melhor maneira possível.

Hoje, o futebol influencia muito mais na minha vida pessoal. Por exemplo, acordo em alguns domingos angustiado, pensando na partida sobre a qual eu deverei escrever e, se depois do jogo, vou conseguir fazer isso direito e passar o que aconteceu no gramado. Também espero que surja sempre algum fato ou assunto que eu possa comentar neste espaço.

Vira e mexe aparece alguém dizendo que o futebol não tem importância nenhuma. Mas não dê ouvidos a isso, porque essas pessoas não têm ideia da paixão que nosso clube desperta. Que o futebol continue mexendo com o nosso cotidiano. Eu, por exemplo, sempre vou agradecer por isso.

Até a próxima.

Mais pitacos em: www.twitter.com/humbertoperon

DESTAQUE
Dou os parabéns a todos os torcedores dos times que conquistaram os torneios estaduais. Mas, o destaque especial vai para a torcida do Santa Cruz, que é um exemplo de como é amar um clube. Soltar o grito de campeão pernambucano é um prêmio para uma massa que não abandonou o clube em momento algum, mesmo quando o time chegou ao fundo do poço e foi rebaixado para a quarta divisão do futebol brasileiro.

ERA PARA SER DESTAQUE
Não parece, mas no próximo final de semana começa o Campeonato Brasileiro. Mais uma vez, o torneio inicia em clima de ressaca, sem nenhuma promoção. A competição vai terá vários times pensando em outros torneios, times desfalcados, reforços que só devem estrear em agosto e elencos que vão mudar muito até o final da maratona, em dezembro.