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humberto luiz peron

 

19/07/2011 - 12h59

Tática: palavra proibida

HUMBERTO PERON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O brasileiro tem medo de falar sobre táticas de futebol. Quando uso a palavra tática me refiro não só ao esquema escolhido, mas também à forma e ao estilo com que um time joga. Tememos falar sobre táticas porque durante muito tempo não precisamos dar importância a elas, pois sempre tivemos jogadores que, com talentos individuais, invariavelmente decidiam as partidas.

Também colabora para nosso pouco interesse pela armação das equipes o fato de que aqui, no Brasil, o planejamento tático ser constantemente ligado aos esquemas defensivos.

Fomos erroneamente acostumados a pensar que quem gosta de discutir esquemas táticos são sempre técnicos retranqueiros e defensivistas. Até a imprensa tem sua parte na culpa, pois criou a abominável expressão "nó tático" para dar totais méritos aos técnicos que conseguem parar outros times jogando só na defesa.

Bem, para aqueles que acham que um time bem estruturado taticamente é sempre um time que joga fechado, dou exemplos de equipes que se opõem a esse ideia: o Brasil de 1970 e a Holanda de 1974.

O time do tri contava com um padrão tático bem definido - que foi ofuscado pela quantidade de craques que tínhamos - com a equipe recuando quando perdia a bola e saindo muito rápido no contra-ataque.

A seleção de 1970 também se movimentava muito no setor ofensivo, com o centroavante Tostão abrindo espaço para as entradas de Pelé e Jairzinho no meio das defesas adversárias e a chegada dos homens de meio, como Clodoaldo, Gerson e Rivellino.

A seleção holandesa da Copa de 1974 também era bem armada taticamente. A movimentação constante era planejada e os jogadores sabiam o que fazer.

A tática da linha do impedimento, quando todos os jogadores partiam para cima do jogador que estava com a bola, também era um modelo ofensivo, ao contrário do que muitos pensam. Ao pressionar o adversário, os holandeses diminuíam o espaço do adversário e tomando a posse de bola tinham um bloco de jogadores para atacar.

O esquema tático é tão deixado de lado no Brasil que os times não cobiçam técnicos por seus conhecimentos teóricos.

Treinadores são contratados por terem um perfil "linha dura", conseguirem "falar" a mesma linguagem dos jogadores, serem grandes motivadores ou porque somam alguma conquista importante no currículo. Nada mais que isso. Quando um técnico tenta algo novo, fora do padrão, ele logo é ridicularizado e chamado de inventor.

É preciso dar mais importância à tática do jogo para podermos cobrar o trabalho dos treinadores. Hoje, por exemplo, é muito difícil termos um técnico que consegue fazer um time ter um padrão de jogo definido.

Também não há quem consiga fazer que um time tenha opções treinadas de fazer jogadas ofensivas e furar o mais simplório sistema defensivo do adversário.

É necessário também cobrar times mais compactos e mais bem posicionados no gramado. Chegou o momento de pararmos de achar revolucionárias a meras substituições de um lateral por um atacante ou meia quando um time está perdendo, ou a colocação de um volante, ou de um terceiro zagueiro no lugar de um atacante quando um time tenta segurar o resultado no final da partida.

Como não temos mais profusão de talentos, a parte tática vai ser primordial para que tenhamos times e seleções fortes e partidas de alto nível.

Até a próxima.

Mais pitacos em: www.twitter.com/humbertoperon

DESTAQUE
Muito ruim a participação do Brasil na Copa América. Mais do que a precoce eliminação nas quartas de final é preciso reconhecer que a seleção não jogou um bom futebol na Argentina. O time com muitos jogadores inexperientes sofreu contra adversários medianos e ficou evidente que precisamos suprir várias carências. Não temos um lateral-esquerdo, continuamos sem contar com jogadores que possam armar o jogo - só PH Ganso na função é muito pouco- e falta um grande definidor de jogadas que empurre para o fundo da rede as chances criadas.

ERA PARA SER DESTAQUE
Para Ponte Preta e Portuguesa, que fazem excelente campanha e lideram a Série B do Campeonato Brasileiro. Ambos montaram elencos fortes para a segunda divisão e estão sendo bem regulares. Mantendo o ritmo atual, as duas equipes tradicionais têm tudo para estarem entre as quatro mais bem colocadas no fim do torneio e, o que mais importa, na Série A em 2012.

humberto luiz peron

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve às terças-feiras no site da Folha.

 

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