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humberto luiz peron

 

27/07/2011 - 00h13

Caso Kleber: retrato de nosso profissionalismo

HUMBERTO PERON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Durante quase um mês, o nome do atacante Kleber, do Palmeiras, esteve em evidência. No imbróglio, que começou com uma proposta do Flamengo para adquirir o jogador, não faltaram acusações de simulação de contusão, troca de ofensas entre o jogador e diretores, relacionamento nada ético entre os clubes e empresários de jogadores tratados como celebridade. No final, como todos sabem, o atacante continuou no Palmeiras e recebeu uma multa de 10% de seu salário.

Esse episódio ilustra muito bem a situação do futebol profissional no Brasil. Nos últimos anos, casos como os de Kleber têm ocorrido frequentemente. A relação caótica entre jogadores e clubes, as brigas entre diretorias, os conflitos entre companheiros de profissão e a cobrança exagerada dos torcedores sobre os profissionais acontecem pelos seguintes motivos:

Valorização excessiva dos atletas - Com a falta de craques atuando no futebol brasileiro, qualquer jogador médio já é considerado um gênio. Vamos pegar como exemplo Kleber. Ele é bom no que faz, mas está longe de ser o grande jogador que muitos apontam. Falta no seu currículo uma grande atuação num jogo decisivo. Nas partidas mais importantes do Palmeiras desde sua volta --contra o Goiás, na Copa Sul-Americana, e na semifinal do Paulista, diante do Corinthians-- ele não marcou presença e não fez a diferença. Também é bom lembrar que o time não sentiu o desfalque do atacante no período em que ficou afastado e teve um aproveitamento de pontos muito bom. Ídolos forjados geram sempre mais frustrações que alegrias.

Clubes são reféns de jogadores - Os atletas são espertos e já descobriram que conseguem fazer o que querem com os dirigentes. Eles sabem que os torcedores não vão perdoar os diretores se o ídolo do time sair da equipe e jogar em um rival. Assim, jogadores usam de todas as artimanhas, que passam por uma simples folga num dia de treinamento a pedidos constantes de aumento de salário.

Amor à camisa - Torcedor sempre quer que o jogador se transforme, sempre que veste a camisa de seu clube, em exemplo de amor ao time. Isso até acontece algumas vezes, mas é raro. O que deve ser exigido do profissional é que ele cumpra suas obrigações, como olhar a programação de treinamentos, respeitar horários e entrar em campo para fazer sempre o melhor --ou seja, o que qualquer trabalhador comum em dia útil. Portanto, não exija que o jogador de seu clube beije o escudo e jure amor eterno.

Fair play - Sempre foi praxe o adversário jogar a bola para fora quando um jogador do oponente está machucado. Mas desde que a prática ganhou o pomposo nome de fair play -- que é muito mais do que jogar a bola para fora, é também respeitar o adversário e não o acertar com uma entrada desleal ou tentar enganar a arbitragem -- se tornou obrigação chutar a bola para fora do campo. Mas, o que acontece é que os jogadores estão se aproveitando disso para se atirarem ao chão para que a partida seja interrompida, principalmente quando começam os contra-ataques do inimigo. O pior é que a devolução da "gentileza" é sempre feita da pior maneira possível. Quase sempre o time do jogador que foi atendido joga a bola o mais longe possível de onde a jogada foi paralisada.

Relação entre os clubes - Pobre do dirigente que pensa ter uma relação cordial com outro clube. Diretores de clubes não pensam duas vezes para passar a perna num rival e levar vantagem. Não são respeitados contratos assinados e, no vale tudo, são feitas até associações com inimigos declarados para colocarem mais dinheiro no bolso ou mais uma taça na sala de troféus. Os dirigentes adoram acertar a contratação de jogadores sem falar com o clube que detém os direitos deles e, por isso, já estamos cansados de ouvir: "Está tudo certo com o atleta, só falta a liberação do clube".

Empresários e procuradores - Empresários adoram dizer que querem o melhor para seus clientes. Na verdade, eles querem o melhor para os próprios bolsos. Empresários plantam fofocas, revelam salários de companheiros e oferecem jogadores com contratos vigentes. Para colocarem mais jogadores em clubes, os empresários investem em relações com dirigentes, técnicos e, infelizmente, com alguns jornalistas que tratam esses intermediários como estrelas de nosso futebol.

No futebol brasileiro os valores arrecadados aumentam a cada ano, mas estamos muito longe dessa modalidade ser realmente profissional.

Mais pitacos em: www.twitter.com/humbertoperon

DESTAQUE
Aqueles que defendem torneios disputados com vários jogos eliminatórios ficaram frustrados com a conquista do Uruguai --melhor time da competição-- na Copa América. Para eles, o vencedor deveria ser o Paraguai, de preferência com cinco empates com o pífio aproveitamento de 33,3% --índice de time que vai ser rebaixado no Campeonato Brasileiro jogado em pontos corridos.

ERA PARA SER DESTAQUE
Para o Cruzeiro, que melhorou muito após a chegada do treinador Joel Santana e acabou com a invencibilidade do Corinthians no Campeonato Brasileiro. Apesar de ter perdido muitos pontos no início, agora é esperado que o bom time do Cruzeiro fique na parte de cima da tabela de classificação.

humberto luiz peron

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve às terças-feiras no site da Folha.

 

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