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gilberto dimenstein

 

26/11/2012 - 07h16

Irritação contra ciclistas é justa?

Reportagem publicada hoje pela Folha revela a irritação dos motoristas com as ciclofaixas aos domingos. Compreensível. Pelo menos aos domingos o trânsito fluía com menos dificuldade. O problema, porém, é mais complexo: as ciclofaixas atiçam os ânimos de uma cidade carro-dependente, onde são despejados milhares de carros novos por mês. É uma briga de futuro - e nela vai se redefinir a paisagem da cidade.

As cidades mais civilizadas estão impondo cada vez mais restrições aos carros, encarados como uma epidemia urbana. Mas, ao contrário de São Paulo, elas oferecem melhor transporte público. O esforço é oferecer mais e mais espaço aos pedestres e ciclistas - e o melhor exemplo hoje é Nova York, onde a prefeitura topou a briga e percebeu que, depois de algum tempo, a cidade, enfrentando a resistência, adapta-se e fica melhor. Foi um escândalo quando decidiram fechar a Times Square - e hoje quase todos comemoram. Bogotá mudou aos domingos ao fechar algumas de suas ruas aos pedestres.

Na cidade carro-dependente, as pessoas usam mais o carro do que deveriam. Isso porque, além do transporte público ser ruim, é uma questão de status. Ou, em alguns casos, simples falta de costume de andar a pé alguns quarteirões. Nem se fala em eventualmente compartilhar o carro e racionalizar seu uso.

Em São Paulo, onde os carros dominam todos os dias, abriu-se um único dia da semana de respiro para a convivência - e isso tem mudado a paisagem paulistana. Lugares que ficavam abandonados no centro ganham vida.

Mas, pelo jeito, nem isso a cidade carro-dependente está disposta a tolerar em nome da fluidez do trânsito. Ocorre que as ciclofaixas, mínimas, são apenas um sinal da briga maior para os próximos prefeitos: mesmo com mais transporte público, haverá necessidade mais cedo ou mais tarde de crescentes restrições ao carro.

Antes que tudo pare- com ou sem ciclistas nas ruas.

gilberto dimenstein

Gilberto Dimenstein ganhou os principais prêmios destinados a jornalistas e escritores. Integra uma incubadora de projetos de Harvard (Advanced Leadership Initiative). Desenvolve o Catraca Livre, eleito o melhor blog de cidadania em língua portuguesa pela Deutsche Welle. É morador da Vila Madalena.

 

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