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henrique meirelles
A hora da verdade
O debate econômico, na maioria das vezes, é concentrado nos círculos especializados. Existem muitas razões para isso, e uma das mais benignas é tentar preservar a pureza técnica das discussões. O que é perigoso, já que o debate econômico envolve decisões que impactam a todos.
Deveria sempre haver embasamento técnico para a tomada de decisões econômicas, e o debate sobre elas precisa ser acessível a todos que são afetados pelas ações resultantes.
Um exemplo entre muitos: enquanto a distribuição dos recursos públicos é sempre objeto de um intenso debate político e ideológico, a distribuição dos custos das medidas econômicas para a sociedade como um todo, em grande parte das vezes, não é transparente nem abrangente.
Isso acontece porque o financiamento das despesas públicas pode ser feito por caminhos alternativos menos evidentes que o aumento do imposto sobre a renda das pessoas, por exemplo. São caminhos alternativos tão frequentes quanto destrutivos. E seus custos, como o aumento da dívida pública ou dos tributos indiretos que oneram a produção, não estão sujeitos à mesma amplitude de debate na maioria das vezes.
A crise no sul da Europa é um bom exemplo. O acesso ao euro viabilizou um substancial aumento da dívida pública e privada em alguns países. O problema é que, cedo ou tarde, as dívidas te- rão que ser pagas, e aí começa o drama.
A Grécia expõe essa situação de forma aguda. O país gastou à vontade durante anos, mas não foi esclarecido para a população grega quem pagaria pela farra.
A recessão e a deterioração do padrão de renda vividas hoje pelos cidadãos gregos ilustram bem as consequências de políticas econômicas adotadas sem transparência e sem debate amplo sobre a conta a ser paga.
O aumento do consumo da sociedade grega deu-se por meio do endividamento público e privado facilitado pela entrada do país na zona do euro. Agora, na hora da verdade, a Grécia está mergulhada numa profunda crise econômica, social e política, que poderia ter sido evitada, atenuada ou ao menos mais bem compreendida se o debate econômico tivesse ocorrido de forma transparente e abrangente.
Depois de experiências intensas e gratificantes que tive ao longo de minha trajetória na iniciativa privada e na gestão pública, é isso o que eu buscarei aqui, nes- te espaço: participar de um debate amplo sobre temas de interesse relevante, tendo a economia como um de seus principais focos, porém não o único.
HENRIQUE MEIRELLES, presidente do Banco Central de 2003 a 2010, passa a escrever aos domingos nesta coluna.
Henrique Meirelles é presidente do Conselho da J&F (holding brasileira que controla empresas como JBS, Flora e Eldorado) e chairman do Lazard Americas. Ele foi presidente do Banco Central do Brasil de 2003 a 2010 e, antes disso, presidente global do FleetBoston e do BankBoston.
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