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henrique meirelles

 

02/12/2012 - 03h30

O enigma do investimento

Uma série de medidas de estímulo à economia foi adotada no Brasil, mas os investimentos ocorrem em ritmo e forma inferiores ao desejado.

Nos EUA, após intensos estímulos, recuperação do sistema financeiro e do mercado imobiliário e forte lucro das empresas, os investimentos não reagem. É um fenômeno que ocorre em maior ou menor escala em alguns países. Por quê?

Apesar de bons estudos, muitas vezes não se compreende bem os motivos que levam o empresário a assumir risco, levantar capital e investir no negócio. As declarações de empresários tendem a não ajudar muito, pois é natural que usem essas oportunidades para influenciar decisão governamental na busca de benefícios para sua empresa ou setor.

Dirigi uma instituição financeira global que, no processo de avaliação de risco e perspectiva, monitorava criteriosamente os planos de empresas clientes e a evolução de seus investimentos. Além disso, tenho participado do conselho de organizações globais cuja função mais importante é analisar, aprovar e monitorar investimentos.

Nessa experiência, vejo que os investimentos de longo prazo são extremamente racionais e baseados em previsões objetivas. O famoso instinto animal do empresário existe na tomada do risco e no apetite pela expansão. Mas para o investimento ser bem-sucedido, o processo deve ser metódico e rigoroso. A decisão de investir é baseada em projeções de venda, custo, lucro, retorno do investimento. Simples assim.

Essa dificuldade de reação dos investimentos está ligada a uma questão fundamental e pouco falada: a previsibilidade. Não bastam projeções excelentes de vendas, por exemplo, se a confiança do empresário nas projeções é baixa.

Portanto os fatores fundamentais ao investimento são, nessa ordem: 1) projeções de demanda, custos e margens; 2) previsibilidade macroeconômica do país nos próximos anos; 3) previsibilidade das regras do jogo; 4) previsibilidade de volumes e de margem de lucro.

Nos EUA, a grande questão é a incerteza nas contas públicas, o chamado "abismo fiscal". Até que ele se defina com clareza para os próximos anos, os empresários não investirão o que se espera.

No Brasil, o grande avanço da economia, do crédito e dos investimentos nos últimos anos se deu em função do aumento da previsibilidade econômica e da consolidação das regras do jogo. É fundamental manter essa previsibilidade para dar confiança aos empresários pequenos, médios e grandes na trajetória futura de vendas.

A partir daí é questão de competência da empresa de analisar a conjuntura geral e específica e acertar as previsões para o seu mercado.

HENRIQUE MEIRELLES escreve aos domingos nesta coluna.

henrique meirelles

Henrique Meirelles é presidente do Conselho da J&F (holding brasileira que controla empresas como JBS, Flora e Eldorado) e chairman do Lazard Americas. Ele foi presidente do Banco Central do Brasil de 2003 a 2010 e, antes disso, presidente global do FleetBoston e do BankBoston.

 

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