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jaime spitzcovsky

 

07/10/2012 - 03h00

Sexo pelo correio

Nunca gostei da ideia de pássaros em gaiolas. Pouco tempo atrás, no entanto, um amigo, estrangeiro a trabalho no Brasil, pediu socorro por, após ter comprado duas calopsitas para apaziguar a solidão da mulher, perceber que as saudades femininas exigiam outra solução. Sugeriu que eu as levasse para o meu sítio. Resolveria parte da pendenga doméstica com a certeza de que os plumados estariam em boas mãos.

Guito e Guto chegaram numa quitinete para aves. Algum tempo depois, mudaram-se para uma mansão. Transformei todo o galinheiro, até então desativado, em novo lar para os psitacídeos tão charmosos, com seus penachos estilo "fantasia carnavalesca" e as bochechas ruborizadas, como num rasgo de vergonha. Tímidas, no entanto, não são.

Se amansadas e treinadas, calopsitas viram um redemoinho de interatividade. Adoram o ombro do dono, comem na mão, imitam músicas e sons e fazem estrepolias no playground de poleiros com pequenos sinos e até espelhos.

No espaçoso galinheiro, gosto de me refestelar numa cadeira para ver a dupla em ação. Guito e Guto não vieram "adestrados", mas tampouco se estressam com a proximidade a humanos. Continuam quebrando as sementes de girassol e bicando a barra de cereais, mesmo vigiados.

Minha filha e eu decidimos pesquisar um pouco mais sobre o mundo dessa ave de origem australiana. E, pais de primeira viagem, descobrimos a dificuldade em determinar o sexo do animal. Somente um exame de DNA permite a certeza absoluta. E imaginamos que Guito e Guto nunca haviam passado pelo teste.

Encontramos numa pet shop um kit de exame via correio. Penas do animal são retiradas, colocadas no envelope e enviadas para, em poucos dias, receber o resultado, um certificado e uma anilha. Já cumprimos a fase inicial e depositamos o material na caixa postal. A ansiedade pelo resultado é grande. E, se devido à sexagem, tivermos de mudar o nome do Guito ou do Guto?

Ilustração Tiago Elcerdo
jaime spitzcovsky

Jaime Spitzcovsky, jornalista, foi correspondente da Folha em Moscou e em Pequim. Escreve sobre animais de estimação aos domingos, a cada duas semanas.

 

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