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josé luiz portella

 

24/11/2011 - 07h01

A cidade é a rua

Tem ficha que não cai. De tão óbvias, certas realidades não são percebidas. Ou a gente tropeça na obviedade ou, pela falta de discussão, não enxerga o que o sentimento e a lógica nos mostra.

A cidade é a rua. Isso é tão claro!

A casa é o lar: lugar do cidadão, da família, do exercício da nossa individualidade. Habitat do núcleo familiar ou do indivíduo que escolheu estar consigo mesmo.

A rua é o lugar do coletivo. Da convivência, das relações sociais. Das necessidades do ser gregário que somos.

Claro, que, em linhas gerais. Há atividades do indivíduo nas ruas e do coletivo nas habitações, mas são exceções à regra.

Muitas vezes, precisa aparecer um técnico ou um professor como Paul Goldberger para alertar: "Numa cidade, a rua é mais importante do que os prédios" (reportagem de André Petry, "Veja" - 23/11 ).

Goldberger diz, na matéria: "A rua é uma ideia antiga que funciona perfeitamente. Não precisamos reinventá-la. Uma das razões pelas quais Nova York funciona tão bem é que a cidade se construiu voltada para a rua. É na rua que está a vida das cidades."

Qualquer coisa que tire a pessoa das ruas empobrece a cidade. Logo, quando construímos uma cidade baseada no carro, no medo e no refúgio dos prédios, estamos negando a sua própria identidade. A cidade perde o sentido. Transforma-se em um conjunto de prédios que nos abrigam.

Além do carro e do medo, hoje patologias da grande maioria das metrópoles, há o desafio do mundo virtual que, mal usado, é uma grande falácia; um autoengano grave.

Quanto mais em contato, menos relacionamento humano. A facilidade do clique que nos coloca em qualquer lugar do mundo, dialogando com qualquer cidadão, esconde a superficialidade da interação.

Alain de Botton, filósofo e escritor suíço, explicita a fragilidade humana. Temos falhas, limites, receios, inseguranças. Precisamos de ajuda.

A ajuda vem do outro. O ser humano é, por si só, insuficiente. O relacionamento nos completa, em grande parte.

A rua é o local onde a cidade se define. Por isso, ter calçadas decentes, parques, praças limpas, ciclovias que permitem curtir a cidade em ritmo humano, mesas nas calçadas, bancos são equipamentos fundamentais. A estética é fundamental: ter uma cidade bonita.

Contudo, mais do que a estética, eles valem pela funcionalidade. Reúnem as pessoas, permitem a fruição da vida.

É só ir a uma pequena e acanhada praça, na rua Jaú, após o número 55, pouco depois da esquina com a Brigadeiro Luiz Antônio. Um simples portão dá acesso a um espaço de cerca de 85 x 40 m, tomado em parte pela invasão de edificações. Lá, junto a um mar de prédios, há vida. Alguns bem conservados brinquedos para crianças, com bancos escassos e até muito cimento, são o suficiente para os pais levarem a molecada que vive espremida nos apartamentos. Quando bate o sol, a cidade vive.

Ter uma cidade voltada para a rua, e não para os prédios, não é caro. Absolutamente ao alcance do orçamento de São Paulo. Não precisa inventar nem se endividar. Precisa fazer.
Precisa ter essa consciência. É uma decisão simples. Mas parece carecer de um estadista. Um estadista de cidades.

Ou da exigência da maioria da população. Da nossa exigência.

josé luiz portella

José Luiz Portella Pereira, 60, é engenheiro civil especializado em gerenciamento de projetos, orçamento público, transportes e tráfego. Foi secretário-executivo dos Ministérios do Esporte e dos Transportes, secretário estadual dos Transportes Metropolitanos e de Serviços e Obras da Prefeitura de São Paulo e presidente da Fundação de Assistência ao Estudante. Formulou e implantou o Programa Alfabetização Solidária e implantou o 1º Programa Universidade Solidária. Escreve às quintas-feiras.

 

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