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josé luiz portella

 

01/12/2011 - 07h01

On-line

Deu na Folha, domingo: Brasileiros estão mais estressados por conta de mensagens por e-mail e celular. Na reportagem de Érica Fraga, a publicitária Júlia Eboli diz: "Eu olho e-mail em casa, na rua, no restaurante. O trabalho não me deixa".

Não é só trabalho. Estamos vidrados pelo on-line. É o tempo todo no ar. Ainda estamos, no momento, à montante da internet. Todo mundo maravilhado com a facilidade de comunicação, que é real, e com os números estratosféricos.

Pessoas com alguma fama têm seus nomes buscados por centenas de milhares de internautas por dia. Os números de visitas, mesmo visitas únicas, assombram. A base de contato de muita gente era a dezena, a centena. A revolução dos números encanta o ego.

A internet é uma transformação tão alucinante que o mundo ainda está curtindo a "destruição criadora" schumpeteriana (Joseph Schumpeter) efetuada pela entrada em vigor dessa nova tecnologia.

A "destruição criadora" deve ser uma nova tecnologia para facilitar nossas vidas. Não para nos destruir.

Não se deu conta do outro lado. A moeda tem duas faces. A vida é sempre um perde-ganha, um "trade off", como pregam na língua universal. Ao se ganhar algo, perde-se outro.

Pouco se debruçou sobre as consequências negativas de "se estar ligado o tempo todo". Ninguém sabe responder, ao certo, por que a internet consegue tanta interação, tanto relacionamento. Um clique nos coloca do outro lado do mundo ou na privacidade de qualquer um, mas, por muitas vezes, não logra mobilizar meia-dúzia de pessoas para um ato nobre e saudável.

Há mistérios insondáveis, por enquanto, porque o momento da festa ainda não fez com que nos preocupássemos com a ressaca.

Publicou-se pouca pesquisa acadêmica sobre os efeitos nocivos dessa ampla exposição a que nos dispomos. Só que ela vicia e provoca tendinites na turma do mouse.

Na realidade, não temos condições de estar sempre ligados. A vida urbana hoje já é um tremendo desgaste: trânsito, tensão, medo, frustrações, tudo girando a mil. O ser humano exige de si mesmo mais do que dá conta. É uma "overdose" constante.

Filosofia, conceitos, profundidade nas coisas ficam à beira da estrada. Resvalam abismo abaixo. Em vez de procurarmos entender nossos limites, a tecnologia infla nossos egos e perdemos a noção dos limites.

Hoje, quase todo o mundo está exposto 24 horas. O sono é superficial; à base de remédios e intranquilo. Há um meio termo que não se consegue achar entre usufruir toda essa tecnologia e respeitar reflexão e preservação do indivíduo.

Sair da frente do computador para raciocinar um pouco é mais do que saudável. Refletir, conversar, ler, faz parte da existência.

Não podemos nos deixar escravizar por nosso sucesso científico. Falar com alguém que não fique olhando desesperadamente para o celular a cada 5 minutos virou uma façanha. Alguém sem iPod, iPad, notebook e celular é bicho raro, esquisito. A juventude, "rebelde sem causa", virou a turma "vítima da internet".

Não estamos perdendo só a nossa privacidade. Estamos perdendo a paz. Que já é um produto tão escasso. Tudo por nossa própria conta.

Há vida inteligente off-line.

josé luiz portella

José Luiz Portella Pereira, 60, é engenheiro civil especializado em gerenciamento de projetos, orçamento público, transportes e tráfego. Foi secretário-executivo dos Ministérios do Esporte e dos Transportes, secretário estadual dos Transportes Metropolitanos e de Serviços e Obras da Prefeitura de São Paulo e presidente da Fundação de Assistência ao Estudante. Formulou e implantou o Programa Alfabetização Solidária e implantou o 1º Programa Universidade Solidária. Escreve às quintas-feiras.

 

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