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josé luiz portella

 

23/08/2012 - 03h00

Tensão desnecessária de São Paulo

São Paulo tem uma tensão além da natural. Desnecessária. Mas que aceitamos por conformismo. Por acharmos que faz parte do passivo da cidade. Não faz não.

Mesmo que você não esteja premido pelo tempo ao executar a atividade que deseja, enfrenta uma tensão que diminui o prazer do que se está fazendo. Toda grande cidade possui uma carga de tensão fruto dos conflitos normais do dia a dia. As pessoas buscam objetivos conflitantes, como no trânsito. Quanto mais gente, mais interações, mais objetivos, mais conflitos.

Mas São Paulo potencializa a tensão envolvida nesses desencontros. Porque continua a ser feita de forma improvisada, pontual, imediatista e de acordo com interesses do momento.

Falta uma visão do todo. Falta pensar na forma que as pessoas se movimentam e nos desejos da população em um dia comum, para atender essas necessidades do modo mais agradável possível. Toda cidade tem vantagens e desvantagens de toda natureza.

Minimizar as desvantagens e ressaltar o que há de bom é o segredo concreto para uma qualidade de vida melhor.O maior obstáculo para isso é a falta de uma visão do todo. Não só geograficamente. Mas da vida das pessoas.

Continuamos a insistir no modelo português de urbanização das cidades: ao acaso, de acordo com o interesse imediato. Caio Prado Júnior, no consagrado livro "Evolução Política do Brasil", fala da formação da cidade: "Bairros que nasceram em sua grande maioria, ao acaso, sem plano conjunto; frutos da especulação de terrenos em 'lotes ou prestações'- o maior veio de ouro que se descobriu nesta São Paulo de Piratininga".

Era a especulação imobiliária a conduzir a urbanização da cidade.

Fernando Donasci/Folhapress

Continuamos assim. Sempre haverá um vetor de interesse econômico a querer definir como será a cidade. Cabe ter um projeto bem claro da cidade que desejamos e um plano integrado para impor limites. Que é, atualmente, o Plano-Diretor, que não aparece nem no pé de página dos debates da eleição municipal.

Não saberemos aonde vamos se insistirmos a andar caso a caso.

O preço do improviso é essa sobretensão. Que desgasta ainda mais.

O ponto crucial não é discutir a vocação da cidade como alguns dizem. A vocação de São Paulo já está dada. O ponto central é como exercer essa vocação com a melhor qualidade de vida.

O ritmo da cidade é dado pela forma de acesso das pessoas às suas necessidades e vontades. Quando se defende uma infraestrutura cicloviária não se visa apenas ao ganho de um novo modo de transporte e à sua conexão com os já existentes. Almeja-se também um movimento mais lento de viver São Paulo, mais condizente com a natureza humana. Por isso, as calçadas são fundamentais. Andar é melhor.

São Paulo precisa escolher um jeito de ser. Não aceitar ser construída pedaço a pedaço, parte a parte, sendo conduzida só pelo instinto econômico natural.

O lema de São Paulo é "Non Ducor Duco". Mas, afinal, conduzimos ou somos conduzidos?

josé luiz portella

José Luiz Portella Pereira, 60, é engenheiro civil especializado em gerenciamento de projetos, orçamento público, transportes e tráfego. Foi secretário-executivo dos Ministérios do Esporte e dos Transportes, secretário estadual dos Transportes Metropolitanos e de Serviços e Obras da Prefeitura de São Paulo e presidente da Fundação de Assistência ao Estudante. Formulou e implantou o Programa Alfabetização Solidária e implantou o 1º Programa Universidade Solidária. Escreve às quintas-feiras.

 

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