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josé luiz portella

 

30/08/2012 - 17h56

Avenida Brasil - Foco na solução

Nas grandes cidades do Brasil, o debate eleitoral continua com o foco nos problemas. Só nos problemas. As alternativas apresentadas pelos candidatos buscam mitigar os problemas existentes. Sem olhar nem combater as causas.

As cidades brasileiras continuam a ser feitas no improviso, tangidas por interesses pontuais, sem visão do todo.

O erro a ser combatido é a forma de se construir a cidade. Quando se pensa apenas em resolver a necessidade imediata, o carro e o mercado imobiliário são as metas prioritárias dos projetos. Agravando os equívocos. Depois, exigimos do poder público mais medidas para amenizar esses novos equívocos. O círculo vicioso terrível não tem fim.

É como tomar um remédio e depois outro para aplacar os efeitos colaterais do primeiro. E assim por diante. Logo, amanhecemos abraçados a um estojo de medicamentos. Cada um a nos defender do anterior, num estanho coquetel.

O foco deve ser na solução. Foco na solução é atacar a causa; não o efeito.

A causa histórica está na origem portuguesa de formação das cidades no Brasil. De que já falamos na coluna anterior. Sem organização racional. Os bairros se constituíram sem planejamento urbano.

O legado já é muito ruim. Soma-se a ele a causa atual. Que é a questão da escala humana. As cidades não são feitas para a escala humana.

Jan Gehl abordou isso com clareza e brilho na entrevista que deu à Veja ( 29 agosto-páginas amarelas).

O foco, equivocado, é nos prédios, no espaço para os carros, na arquitetura que pensa na forma e não no ambiente e em quem vai utilizá-la.

O maior símbolo disso é Brasília. A cidade é boa para quem vê de cima. Boa para imagem de filme ou novela. Ruim para quem caminha ou trabalha naqueles bonitos prédios não funcionais.

O certo é primeiro pensarmos nas pessoas. Em como elas se movimentam; que necessidades têm. Do que precisam na cidade para se realizarem como seres humanos.

Eduardo Knapp - 11.abr.12/Folhapress

Recentemente, anunciou-se outro pacote de ocupação da avenida Luiz Carlos Berrini. O sistema viário ali é péssimo. Não dá conta das dezenas e dezenas de prédios já construídos. Ergueram novo centro financeiro e de serviços altamente sofisticado na continuação da av. Faria Lima. Sem se pensar nas consequências.

Na melhor tradição, cria-se o problema e, depois, corre-se atrás da solução. O mesmo desenvolvimento predatório da colonização do país.

Vai-se levar mais gente, mais carros, mais prédios para um bairro onde o congestionamento, à tarde, começa na garagem. Levam-se até 15 minutos para se alcançar a rua e começar a longa aventura de voltar para casa.

Não haverá metrô ou corredor de ônibus que dê conta se continuarmos a colocar mais gente em locais com lotação e espaço público esgotados.

O mais grave é que soluções dirigidas para a construção de cidades baseadas na escala humana não aparecem nas propostas de centenas de candidatos. Significa que a sociedade ainda não se deu conta de que a cidade pode ser feita pensando-se primeiro no cidadão. Na nossa escala.

Nem os candidatos perceberam isso.

Dessa forma, eles não são exigidos.

A ficha que precisa cair é essa. A cidade deve ser feita para nós. Não para atacar os problemas criados anteriormente e a população ter que se adaptar ao remendo do remendo. Numa corrida maluca que está levando todos, cada vez mais, a sair das ruas para viverem enfurnados em prédios.

A rua que, na prática, é a cidade real, em vez de espaço de prazer e convivência, virou uma mísera esteira-rolante asfaltada a levar-nos de um prédio a outro.

A verdadeira novela cotidiana são várias "Avenidas Brasil" repletas de luzes vermelhas e amarelas, e impróprias para o cidadão.

josé luiz portella

José Luiz Portella Pereira, 60, é engenheiro civil especializado em gerenciamento de projetos, orçamento público, transportes e tráfego. Foi secretário-executivo dos Ministérios do Esporte e dos Transportes, secretário estadual dos Transportes Metropolitanos e de Serviços e Obras da Prefeitura de São Paulo e presidente da Fundação de Assistência ao Estudante. Formulou e implantou o Programa Alfabetização Solidária e implantou o 1º Programa Universidade Solidária. Escreve às quintas-feiras.

 

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