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josé luiz portella

 

25/10/2012 - 03h00

O espírito da cidade

Nova York tem um plano de melhoria da cidade. E segue com o seu plano com obstinação e confiança. Bloomberg é hoje o melhor prefeito de uma grande metrópole.

Embora relevante, importa menos a relação dos projetos que Nova York está fazendo e muito mais o espírito da coisa.

O maior mérito de Bloomberg é ter idealizado um plano que se identifica com a cidade. E estar cumprindo-o com considerável sucesso.

A identidade provoca motivação. A realização garante a confiança. Nenhum plano emplaca sem a motivação e a confiança de seus beneficiários.

Um plano não é só um conjunto de metas quantitativas. Sobretudo, ele é uma forma de ver a cidade. Tem um conceito, ideias que o definem. Sem filosofia, não há ação que se sustente. Sem conceito não existe plano.

E o conceito deve estar envolvido pela paixão. A ausência de paixão, de uma visão arrebatada, deixa o conceito sem graça. Sem faísca motivadora. A falta de conceito torna o plano um calhamaço. Daqueles que ficam parados nas prateleiras das repartições públicas.

O segundo ponto que Nova York cumpre com louvor é o plano ter ações que falem entre si, que se complementem. Plano "espingarda de parquinho" - aquele que dá tiro para todo lado - misturando tudo, só para ter volume, não funciona.

Até aí, parece óbvio. Embora na administração pública o óbvio não seja nada simples. Mas, o segredo mesmo da coisa está na identificação com o movimento das pessoas. O movimento mental.

O que move o cidadão de cada lugar. Com o jeito de ser do coletivo e do indivíduo.

Reprodução
As pessoas estão curtindo andar de bicicleta
As pessoas estão curtindo andar de bicicleta

Outro bom exemplo é o Plano Estratégico do Rio de Janeiro. Se alguém o ler de modo formal verá que é ousado. Mas pode passar como um conjunto de metas que outra metrópole brasileira poderia copiar.

Se você entra no detalhe e observa empiricamente o que está acontecendo no Rio, vai sentir sua identificação com o carioca. A implementação daquelas metas mudou o humor da cidade.

Motivação é mais importante que dinheiro, repetem os compêndios sobre gestão de recursos humanos.

O erro de uma cidade é querer dar um aspecto meramente racional ao seu plano. Fica defensivo e desanimador.

Platão resumiu a alma humana em razão, raiva e emoção. Em São Paulo, somos tangidos pela raiva e pela razão. Tentar fazer isso por causa daquilo. Ou fazer por reação.

Falta a emoção. O domínio do sentimento.

Fazer ciclovia porque é legal andar de bicicleta; não para economizar tempo. Fazer o hidroanel para curtir, dar uma volta na cidade de barco; não simplesmente para transportar lixo.

Arrumar a calçada para passear; não só para não enfiar o pé em um buraco.

Enterrar fios para enxergar o horizonte; não apenas para evitar a interrupção de energia pela árvore caída.

Valores que brotam da natureza do povo da cidade, como a energia paulistana, o empreendedorismo, a vontade de vencer, precisam obrigatoriamente estar expressos em cada projeto. E no conjunto deles.

Viver bem é o negócio do ser humano. O espírito da cidade é a alma deste negócio.

josé luiz portella

José Luiz Portella Pereira, 60, é engenheiro civil especializado em gerenciamento de projetos, orçamento público, transportes e tráfego. Foi secretário-executivo dos Ministérios do Esporte e dos Transportes, secretário estadual dos Transportes Metropolitanos e de Serviços e Obras da Prefeitura de São Paulo e presidente da Fundação de Assistência ao Estudante. Formulou e implantou o Programa Alfabetização Solidária e implantou o 1º Programa Universidade Solidária. Escreve às quintas-feiras.

 

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