Publicidade
Publicidade
josé luiz portella
Rio. de Janeiro
O Rio de Janeiro continua lindo. O Rio de Janeiro continua sendo. Sendo a cidade do Brasil que mais desperdiça seu potencial.
Indiscutivelmente, o Rio melhorou. A Zona Sul, sem dúvida, mais segura na percepção e na sensação. De fato. A população está mais alegre. Mais de alto astral.
O Rio está cheio de obras. Estará melhor depois da Olimpíada do que hoje. O ganho será real.
Mas, porém, todavia, contudo... o Rio desperdiça outra chance para se alçar ao patamar que merece. E que aquela beleza toda demanda. Parte das coisas não está se realizando. Coisas simples, de pouco custo, que poderiam estar no pacote de obras e serviços. Representariam pequeno acréscimo ao orçamento vultoso em curso.
Da boa parte em andamento, a qualidade não é a devida. No Brasil, em geral, esse é o drama. Faz-se sem a preocupação de fazer bem feito.
No singelo não efetuado, ressaltam-se as calçadas. Copacabana, a orla marítima mais famosa do mundo, está com as célebres calças de ondas destroçadas. Água empoçada nas depressões, buracos, falta de pedras. É um risco caminhar lá, para os mais velhos. É uma ofensa de lesa-patrimônio nacional.
É um local mítico e simbólico internacionalmente, com um horizonte marítimo espetacular. E as calçadas estão sujas. Bem sujas. Assim como a praia da "Princesinha do Mar".
Há um desperdício e desleixo surpreendentes. Não existem lixeiras. E as pessoas vão jogando os detritos, na maior cara de pau, areia afora.
Os gringos olham assustados. Alguns entram na farra.
Há mangueiras estendidas pelas praias - perigosamente largadas sobre a areia - para alimentarem chuveiros que ficam eternamente abertos. Ali, pelo jeito, não falta água. Não custava enterrar os tubos de alimentação e ter uma torneira que interrompesse o fluxo de água quando não há vivalma para utilizar os chuveiros.
Vitor Silva/Pedro Carrilho/Folhapress | ||
No Leblon, no setor de buchicho maior, à noite, as ruas são muito escuras. A iluminação é escassa. O ar é sombrio.
Junto ao Corcovado e ao Pão de Açúcar, ícones turísticos, há uma confusão geral e um assédio que afasta os turistas.
Sei lá quem introduziu essa jabuticaba carioca dos prédios geminados. Colados. Só há sol neles frontalmente.Junto com a maresia, isso os deteriora sobremaneira.
A av. Nossa Senhora de Copacabana, um quarteirão após a avenida da praia, a Atlântica, tem um visual e astral bem ruins. E podia ser bem diferente. Em 1923 , quando se inaugurou o Copacabana Palace, ali era areia e poucas casas. Negligenciou-se. Agora, não se faz, no mínimo, um retoque num visual tão importante para a cidade.
O corredor de ônibus expresso, o BRT, já está no buraco.
Os semáforos na avenida da praia têm tempo ínfimo para os pedestres. Em frente ao Copa, local de visitação pública de quase todos os turistas, o pedestre tem que atravessar em dois tempos, dois ciclos, por falta de quatro segundos a mais: da praia até o calçadão central; dele para a calçada do Copa.
Para o carro não esperar mais quatro segundos, o pedestre é sacrificado por dois tempos. A prioridade é do carro.
Na ciclovia pista de corrida, não há sinalização vertical.
As vans que fazem o transporte param em qualquer lugar. De preferência, sobre a faixa de pedestres, para pegarem mais gente. E, se preciso, param quatro vezes em menos de 100m. Tem gente, param.
O prefeito, sem dúvida, melhorou a ordem na cidade. Mas falta muito para ser um choque de ordem. Resta muita desordem.
Pena. O Rio de Janeiro continua maravilhoso. No Corcovado, é impossível, pela enésima vez, não ficar impressionado.
É uma cidade benta por Deus. Talvez, por isso, não se preocupem em ir ao detalhe da coisa bem feita.
Quem tem em abundância, desperdiça.
Em quaisquer condições, aquela orla é insuperável.
É inaceitável que desperdice, mais uma vez, a oportunidade que tem para ser a cidade mais "quase perfeita" em beleza no planeta.
O Rio , como já se disse, é o farol do Brasil. Uma cidade que a natureza fez para as pessoas. Deveria ser respeitada como tal.
Falta aquele abraço.
José Luiz Portella Pereira, 60, é engenheiro civil especializado em gerenciamento de projetos, orçamento público, transportes e tráfego. Foi secretário-executivo dos Ministérios do Esporte e dos Transportes, secretário estadual dos Transportes Metropolitanos e de Serviços e Obras da Prefeitura de São Paulo e presidente da Fundação de Assistência ao Estudante. Formulou e implantou o Programa Alfabetização Solidária e implantou o 1º Programa Universidade Solidária. Escreve às quintas-feiras.
As Últimas que Você não Leu
Publicidade