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josé luiz portella

 

21/03/2013 - 03h00

Manicômio paulistano

Domenico de Masi, no Teatro Folha, não deixou por menos: "São Paulo é um grande manicômio". Ele não entende como milhões de paulistanos passam horas no trânsito, a caminho do escritório, com tanta ferramenta tecnológica disponível para trabalhar em casa.

Embora o professor da Universidade La Sapienza, em Roma, não apresente exemplos concretos de lugares ou instituições que tenham resolvido em boa escala seus problemas através da sua famosa tese do "ócio criativo", nesse caso ele tem razão incontestável.

Falta a São Paulo uma administração que pense grande. Pense fora da "caixa", como se diz. Pense fora dos padrões habituais e corriqueiros.

Os problemas da cidade não se resolverão com soluções recorrentes e nem com a adorável desculpa de muitos administradores: o viés matemático.

Construir X escolas, Y hospitais, N creches. Sempre prometendo um número acima da gestão anterior. Quase sempre sem apontar a origem das receitas ou criando um mundo de Polyana com receitas imaginárias vindas de estratégias de plantão: parcerias público-privadas, repasses dos governos estadual e federal. Não é por aí. Está provado.

São Paulo também não tem dinheiro para investimentos na dimensão dos seus principais problemas. Começando pela mobilidade, que é o caso abordado por De Masi.

O que mais amenizará o trânsito é colocar o emprego ao lado da moradia. Sendo mais importante criar emprego na periferia do que adensar o centro. Isso é bom, porém tem mais efeitos colaterais. Não deve ser desprezado. Contudo impregnar a periferia de emprego é prioritário.

Só se fará isso com rapidez por meio da economia criativa. A criação de trabalho nos setores de arte, cultura, produção tecnológica.

Depois disso vem metrô e corredores de ônibus em larga escala.

Enquanto isso é implantado. E vai demorar um tempo para efetivação, cabe pensar no que De Masi disse.

Gabriela Carvalho
Esse trabalho não poderia ser feito em casa?
Esse trabalho não poderia ser feito em casa?

Precisamos de administradores e cidadãos com coragem de uma nova atitude.

A tecnologia de fato está nos dominando. Nos prende mais do que deve, e nos serve menos do que deveria.

Pontos de ônibus não mostram quando os coletivos vão passar, nos celulares não há informação integrada de metrô, trem, ônibus e táxis oferecendo as melhores opções a cada momento.
Por outro lado, tudo o que poderia ser feito em casa é feito no escritório. Com 2 a 4 horas de martírio entre a ida e a volta.

Quanta gente poderia ir ao trabalho só duas ou três vezes por semana e cumprir o resto das tarefas em casa?

Quanto se perde nos escritórios de enrolação, cafezinho, fumódromo?

Quantos poderiam ir ao escritório horas por dia, fora do pico, e completar o trabalho em casa ou em pequenas salas mais baratas próximas de onde moram?

Estruturar isso dá trabalho. Mas dá resultado impactante.

Cabe a prefeitura muito mais essa tarefa organizadora do que ficar perdida em detalhes e bobagens da burocracia.

São Paulo, de fato, é um manicômio. Criado pelo comodismo, pela falta de visão arrojada e pela aceitação submissa de um calvário desnecessário para muitos no trânsito.

Mas tem cura.

Basta ser louco de vontade para mudá-la. Os empresários poderiam ter a iniciativa. Não precisa deixar comodamente tudo para o poder público.

Mais do que louco, é preciso ter vontade de trabalhar para resolver os grandes desafios. Para ficar menos no trânsito, dar conta do serviço e curtir mais a vida na cidade. É mais saudável.

josé luiz portella

José Luiz Portella Pereira, 60, é engenheiro civil especializado em gerenciamento de projetos, orçamento público, transportes e tráfego. Foi secretário-executivo dos Ministérios do Esporte e dos Transportes, secretário estadual dos Transportes Metropolitanos e de Serviços e Obras da Prefeitura de São Paulo e presidente da Fundação de Assistência ao Estudante. Formulou e implantou o Programa Alfabetização Solidária e implantou o 1º Programa Universidade Solidária. Escreve às quintas-feiras.

 

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