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josé luiz portella

 

11/04/2013 - 17h45

Thatcher e as políticas públicas

Não concordo com a louvação que se fez a Margaret Thatcher. É demasiada.

Também discordo da "demonização" à ex-primeira-ministra mais longeva da Inglaterra.

Óbvio que ela teve méritos e importância histórica. Além de qualidades pessoais inquestionáveis como coragem e determinação, Thatcher foi fiel às suas crenças, num mundo em que quase todo mundo vai "costeando o alambrado", como dizia Brizolla, saindo de fininho, escondendo pensamentos para manter o poder.

Contudo, em termos de políticas públicas, ela fez o caminho mais fácil. Claro que não o popular, e por isso tem o mérito aludido da coragem, contudo, o mais simples.

Fazer cortes no orçamento impondo uma política recessiva com alto desemprego é fácil quando se está por cima. Você banca o duro e não é afetado pelas consequências. Não fica desempregado, que é uma das piores humilhações, e não lhe faltam bens essenciais de consumo. Você não olha para a sua família e enxerga a tristeza, impotente.

É cômodo ser durão apeado no poder.

Também é incorreto, e fácil, se abrigar em políticas populistas ou no assistencialismo economicamente irresponsável. Semear o consumo sem medir as consequências. Melhor um equilíbrio.

O equilíbrio em políticas públicas está um tanto além do meio. Mais próximo das pessoas vulneráveis. Thatcher tinha que cortar, mas poderia ter feito diferente.

O desafio nas políticas públicas que atingem economicamente a população é exatamente este: proceder a economia necessária respeitando às pessoas.

Thatcher, pelos dados que se tem, meteu a fria faca do corte indiscriminadamente. Poderia ter ido mais fundo e fazê-lo no desperdício que sempre há em qualquer gestão, separando o joio do trigo.

Importante: não é só no setor público que há desperdício. No privado também há excessos e luxos escondidos pelo manto da privacidade. Não é um mar de rosas sob uma lupa, refulgiria a incoerência de muitos empresários que reclamam do governo.

É fácil falar do governo e gastar à farta. Vários, inclusive, beneficiados pelos financiamentos públicos em condições privilegiadas.

Thatcher fez estatizações necessárias, cortou gordura estatal, mas jogou fora a água da bacia, parte do bebê. Além de não ter avaliado qualitativamente os cortes, passou a faca em ritmo alucinante. O emprego desabou. Há alternativas.

Stephan Hird - 19.abr.02/Efe
Margaret Thatcher
Margaret Thatcher

Enquanto se corta, é possível criar não só um colchão social para os mais vulneráveis, como implantar políticas que permitam mais empregabilidade aos menos qualificados. Como financiar educação técnica e profissional, facilitando o reemprego.

Thatcher curtiu, mais do que a conta, em minha opinião, o papel de "mãe-madrasta". Que exige dos enteados muitos deveres e olvida direitos.

Há três tipos de cortes de grana. Valem para o público e para o privado. O "burro", que é aquele linear. Corta X% de todo o mundo, por exemplo, sem atentar para as peculiaridades. O equilibrado, que leva em conta especificidades. E o essencial, para a sobrevivência das pessoas e empresas. Corta com critérios.

E o corte virtuoso. Que elimina desperdícios, mas que, simultaneamente, garante o básico para que o essencial continue a funcionar bem.

E, sobretudo, que a ação de corte, corrija os erros administrativos e abra as condições para o futuro próspero. Que é o que todos almejamos.

Sem distinção de raça, cor, credo. E classe social. Todo mundo quer viver uma vida boa, como dizia Sócrates.

Thatcher tem seus méritos. Não foi uma DAMA do mal. Todavia, forçou demais a mão.

Há coisas dela a se captar. Mas Thatcher não é o melhor exemplo de gestão de políticas públicas.

A arte está em fazer. Com o mínimo de danos possíveis.

E dá para ser feito.

josé luiz portella

José Luiz Portella Pereira, 60, é engenheiro civil especializado em gerenciamento de projetos, orçamento público, transportes e tráfego. Foi secretário-executivo dos Ministérios do Esporte e dos Transportes, secretário estadual dos Transportes Metropolitanos e de Serviços e Obras da Prefeitura de São Paulo e presidente da Fundação de Assistência ao Estudante. Formulou e implantou o Programa Alfabetização Solidária e implantou o 1º Programa Universidade Solidária. Escreve às quintas-feiras.

 

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