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juca kfouri

 

09/08/2012 - 03h22

O fim do paternalismo

Neymar para para bater o pênalti que vale a medalha de ouro inédita do futebol brasileiro e refuga. O estádio de Wembley fica perplexo, e o craque se justifica dizendo que não sabe o que deu nele.

Não tenha dúvida a rara leitora, e o raro leitor, de que o mundo virá abaixo e cairá implacavelmente sobre sua jovem cabeça feita em família humilde.

Porque ele ganha muito e já é uma estrela do futebol mundial.

A cena imaginária, e oxalá apenas ficcional, serve para duas ponderações:

1. A reforma ortográfica que cometeu o crime de tirar o acento em para do verbo parar não foi criativa a ponto de criar o sinal de ironia, velha reivindicação de certos escribas;

2. Houvesse o sinal de ironia, como o ponto de exclamação ou o ponto e vírgula, e pronto! Talvez não acontecesse a incompreensão gerada pela irônica coluna "Desculpe, não deu", de três dias atrás.

Não, a coluna não teve um atleta ou uma atleta em especial como alvo, como a referência ao vento sugeriu a alguns em relação ao fracasso, e à desculpa, de Fabiana Murer. Porque não foi apenas ela que se queixou do famoso vento londrino. Como não foi apenas Cesar Cielo que se queixou de cansaço ou Diego Hypólito de tremor nas pernas, porque também sua irmã disse ter ficado abalada com o seu insucesso. E Maurren Maggi nem tinha ainda causado igual frustração.

O alvo da coluna foi o paternalismo que há muito nos leva a desculpar fiascos com o superado argumento de que atleta olímpico no Brasil é um herói por si só, dada a falta de apoio ampla, geral e irrestrita.

O retrato ainda é verdadeiro numa porção de esportes, mas não vale para outra porção que, hoje em dia, entre salários, auxílios, incentivos e patrocínios, permite dedicação regiamente paga, e exclusiva, às especialidades de cada um.

O que ainda falta é exatamente a cobrança de resultados, a exigência do tal do custo/benefício.

Ora, é chover no molhado que a responsabilidade maior está na cartolagem, razão pela qual, às vezes, para não ser demasiadamente repetitivo (e como há repetição aqui --Silvio Santos tem inveja...), vale revelar a complacência que não ajuda, o passar a mão na cabeça, como se estivesse tudo bem.

Do mesmo modo que falar da responsabilidade do sistema educacional é sangrar em saúde e que, se faz sentido em 99% dos casos, não serve para atletas de classe média que não podem se eximir de suas responsabilidades ou serem tratados de maneira paternalista. Porque não é só o futebol que virou negócio --e quem não quiser viver sob pressão que escolha outra profissão.

Como o jornalismo, por exemplo.

(Nesta última linha você pode ver, ou não, um sinal de ironia).

juca kfouri

Juca Kfouri é formado em ciências sociais pela USP. Com mais de 40 anos de profissão, dirigiu as revistas 'Placar" e "Playboy'. Escreve às segundas, quintas e domingos.

 

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