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julia sweig

 

29/08/2012 - 03h00

Armas e política

Que conclusões é possível tirar de sete massacres cometidos por atiradores nos últimos 19 meses? Sim, os Estados Unidos ainda tem uma cultura de "velho oeste" ligada histórica e politicamente à segunda emenda constitucional, que prevê: "Sendo uma milícia bem regulada necessária à segurança de um Estado livre, o direito do Povo de possuir e portar armas não será infringido".

Mesmo assim, há certa mitologia em torno das armas e da política. De acordo com a Associação Nacional de Rifles (NRA), segundo políticos e a mídia o mais assustador e poderoso lobby do país, existem aproximadamente 300 milhões de armas de fogo em mãos de particulares nos EUA, incluindo 100 milhões de pistolas, e esse número cresce em 4 milhões a cada ano. Temos entre 70 milhões e 80 milhões de proprietários de armas de fogo, metade dos quais possui pistolas. Cerca de 40%-45% das famílias americanas possuem armas de fogo, e 14,5 milhões de licenças de caça são emitidos por ano.

As leis que regem as armas são notoriamente permissivas nos EUA, comparadas ao Brasil, México, Reino Unido, Alemanha e Japão, por exemplo. A opinião pública nos EUA é a favor de leis mais rígidas, e é esse o caso também de governadores e prefeitos em todo o país. O mais importante destes, Michael Bloomberg, de Nova York, expressou-se eloquentemente após Aurora e novamente após o tiroteio no edifício Empire State na semana passada, criticando forte e inequivocamente as "palavras simpáticas", mas ausência de liderança nacional por parte do presidente Obama e do candidato Romney. Aderindo à visão convencional de que a NRA vai lançar dinheiro, eleitores e anúncios de campanha contra eles e seus potenciais aliados no Congresso, eles temem uma reação eleitoral negativa.

Mas será a NRA realmente tão temível assim? Segundo um grupo de monitoramento da mídia, Media Matters, a revista "The American Prospect" analisou os gastos da NRA e seus endossos políticos nas últimas quatro eleições federais, concluindo que "a NRA é um tigre de papel" que exerce "virtualmente nenhum impacto sobre eleições parlamentares". Uma constatação chave: a maior parte do dinheiro e do apoio da NRA vai para republicanos, e apenas para candidatos que tenham a probabilidade de vencer. Outra: a própria mídia inflaciona o suposto poder político da NRA.

Os últimos dois presidentes americanos que exerceram liderança no controle de armas foram Lyndon Johnson em 1968, após uma onda de turbulência racial e assassinatos políticos, e em 1994 Bill Clinton, assinando a Proibição das Armas de Assalto e a lei Brady, que exige a verificação dos antecedentes de potenciais donos de armas --ambas subprodutos políticos da tentativa de assassinato de Ronald Reagan por John Hinckley em 1981.

O presidente Obama prometeu apoiar o restabelecimento da Proibição de Armas de Assalto. Uma nova conspiração para assassinar Obama emergiu esta semana, quando promotores federais indiciaram dois ex-soldados, milicianos de direita que tinham armazenado US$ 87 mil em armas. A passividade de Obama talvez reflita o desejo dele e de Michele de não inflamar potencialmente essa violência política baseada em questões raciais contra ele. Seja qual for o resultado da eleição de novembro, esses fatos exigem uma nova discussão e uma nova coalizão política sobre o controle de armas. O público americano quer liderança e está morrendo por falta dela.

Tradução de CLARA ALLAIN

julia sweig

Julia Sweig é diretora do programa de América Latina e do Programa Brasil do Council on Foreign Relations, centro de estudos da política internacional dos EUA. Escreve às quartas-feiras, a cada duas semanas.

 

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