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julia sweig

 

24/04/2013 - 03h07

Consequências de Boston

A semana passada foi uma das piores na memória recente aqui nos EUA. Bombas feitas de coisas que qualquer pessoa pode comprar numa loja mataram três pessoas na maratona de Boston.

Antes das 24 horas finais de tiroteio, busca e prisão do irmão Tsarnaev sobrevivente, o Senado americano derrotou um projeto de lei muito modesto que exigiria verificações de antecedentes e algumas outras medidas de bom senso no controle de armas. E então uma fábrica de fertilizantes no Texas explodiu, deixando 14 mortos e 200 feridos.

No final da semana, um presidente Obama exausto, triste e revoltado discursou para o país, depois de a polícia ter capturado o Tsarnaev mais jovem. Antes de a rede de TV ter passado de Watertown para a Casa Branca, o âncora mencionou um provável aumento das medidas de segurança pública em nome da segurança nacional.

Um amigo brasileiro em visita a Washington estava em casa e assistiu ao noticiário conosco. Ele cresceu sob a ditadura, quando os militares evocavam a ameaça de terrorismo para justificar a repressão, a tortura e os desaparecimentos. Ouvindo a cobertura, ele se voltou para mim e disse: "Sempre que ouço a frase 'segurança nacional' sou levado de volta a um período muito sombrio no Brasil".

Os EUA são uma democracia, não um regime militar. Torturamos combatentes inimigos, não cidadãos americanos. A administração Obama vem levando essa prática adiante, só que agora não é preciso matar civis num grande evento esportivo para correr o risco de receber tratamento que as leis internacionais consideram ser tortura.

Alguns migrantes sem documentos que vão parar no sistema de detenção deste país, embora não sejam submetidos à tortura do falso afogamento, são mantidos em prisão solitária por semanas ou até meses a fio.

Desde o 11 de Setembro os americanos abriram mão de privacidade considerável em nome da segurança. Entre imagens de vídeo feitas por câmeras públicas aparentemente onipresentes e o tsunami de imagens feitas por smartphones, o reino do verdadeiramente privado encolheu. A contribuição de muitas pessoas nos beneficiou, na medida em que ajudou a identificar os irmãos Tsarnaev.

E há pouco a Prefeitura de Boston realizou um exercício para ajudar socorristas a responder a emergências e se preparar para uma quebra de segurança de grandes proporções, para que a polícia, o FBI, os bombeiros e outras agências estaduais, locais e federais soubessem trabalhar em conjunto. Os resultados do exercício foram visíveis.

E há a imigração. A relevância política futura do Partido Republicano depende em grande medida dos votos hispânicos, razão pela qual uma coalizão bipartidária está discutindo a reforma da imigração pela primeira vez em 25 anos. Mas alguns republicanos estão usando a tragédia de Boston para fazer o processo se arrastar. Estas são as consequências imediatas dos ataques na maratona de Boston. Há razões para pensar que os eleitores americanos vão moderar o extremismo no mais longo prazo.

Tradução de CLARA ALLAIN

julia sweig

Julia Sweig é diretora do programa de América Latina e do Programa Brasil do Council on Foreign Relations, centro de estudos da política internacional dos EUA. Escreve às quartas-feiras, a cada duas semanas.

 

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