Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 

luiz caversan

 

21/07/2012 - 12h16

Distimia nas redes sociais

Certamente o caro leitor conhece alguém que resmunga. Não estou falando daquela resmungada trivial, justificada, que ocorre diante de um contratempo, um revés, mas sim daquele resmungão crônico, que nunca está satisfeito com nada, tudo é uma droga, uma chatice, uma aporrinhação, um saco, sabe?

Tive um amigo que respondia assim quando pela manhã você o cumprimentava com um bom dia: "O que te leva a crer que hoje será um bom dia?"

E para ele nunca era mesmo, qualquer tarefa trivial, necessidade básica, esforço mínimo vinha revestido de um sofrimento atroz.
E sofre muito, mesmo, aquele que reúne estes sintomas, e alguns outros mais, sob o diagnóstico de distimia.

Distimia, ensinam os especialistas, é uma variável da depressão, mas que mantém os demais sintomas desta doença (insônia, falta de apetite, inapetência sexual por exemplo...) mais ou menos ocultos, ressaltando prolongadamente apenas uma tristeza devastadora manifesta em um pessimismo insuportável. Insuportável para quem sente e para seus interlocutores --amigos, colegas, familiares.

Pode ser apenas impressão minha, mas tem aumentado muito os candidatos a distímicos espalhados por aí. Gente que só consegue enxergar o lado ruim das coisas, que parece desfrutar de um prazer perverso ao elaborar previsões catastróficas; aquele que enxerga desgraça para todo lado.

E mais uma vez eis que as redes sociais surgem como co-protagonista de uma tendência, facilitando neste caso a vida dos que parecem exercitar o que chamo de "síndrome de Hardy Ha Ha", uma referência àquele personagem dos desenhos animados que contrapunha ao eterno e poliânico bom humor do leão Lippy seu pessimismo e seu baixo astral chorominguento, sempre acompanhado de uma frase mais ou menos assim: "Oh, vida, oh, azar, isto não vai dar certo..."

Não tenho dúvida de que o mundo não seria o mundo e permaneceria na estagnação da ignorância não fosse a insistência de pessimistas e mal humorados em ver o lado ruim das coisas, questionando, polemizando, contrapondo ideias. E que muita desgraça já foi perpetuada pelos que apenas vêm o lado rosinha da vida, sim.

Mas a distimia em tempos de Facebook está alcançando patamares exagerados até mesmo para quem tem uma certa simpatia pela hiena Hardy.

luiz caversan

Luiz Caversan é jornalista e consultor na área de comunicação corporativa. Foi repórter especial, diretor da sucursal do Rio da Folha, editor dos cadernos 'Cotidiano', 'Ilustrada' e 'Dinheiro', entre outras funções. Escreve aos sábados.

 

As Últimas que Você não Leu

  1.  

Publicidade

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página