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luiz caversan

 

28/02/2004 - 00h00

A depressão de cada um

_"Life is just what happens to you,
While your busy making other plans."

"A vida é o que está acontecendo com você
Enquanto você planeja outra coisa."_

A frase acima, de uma verdade singela, caiu nas minhas mãos duas vezes esta semana.

Primeiro num conto do excelente livro "Grande Sonho do Céu", do norte-americano Sam Shepard. Depois, no e-mail de uma amiga. Como não acredito em coincidências, acho que isso tem a ver com tudo o que está acontecendo, com os temas que tenho abordado nesta coluna, como a peremptoriedade da passagem do tempo e a paradoxal contingência devido à qual simplesmente "não temos tempo" de aproveitar bem justamente... esse tempo.

Tem a ver também com o crescimento das relações que estabelecemos com o nosso entorno, com o amadurecimento dos sentimentos que dedicamos aos outros e que generosamente deveríamos dedicar a nós mesmos.

Tem a ver, enfim, com felicidade e depressão, outro tema recente, abordado na coluna da semana passada e que, como era possível prever, teve enorme repercussão entre os leitores.

"Depressão e Carnaval" obteve repercussão não por mérito das minhas opiniões, claro, mas, sim, pelo tema em si, que é motivo de discussão cada vez mais ampla e salutar e que deve ser estimulada sempre, em nome do combate ao estigma e ao preconceito.

Por isso, tomo a liberdade de reproduzir abaixo alguns dos e-mails que recebi, para seja possível ter uma idéia do "andar da carruagem" no que se refere à depressão nos dias de hoje.

São opiniões, dicas, dúvidas e críticas proveniente de leitores cujos nomes completos omito porque não tenho autorização expressa dos mesmos para divulgá-los.

Em tempo: a frase lá de cima é de John Lennon e está na música "Beautiful Boy", um dos últimos trabalhos do compositor, dedicado a seu filho.

*

"Acabo de ler ''Depressão e Carnaval'' com uma alegria depressiva [risos], com certeza devo ser contado entre aqueles que não se divertem no Carnaval; e não só no Carnaval como em muitas outras situações em que pessoas da minha idade se divertem (eu tenho 20 anos). Tédio. Relendo esta semana, pela terceira vez, "Une Saison en Enfer", do Rimbaud, eu consigo me divertir mais, e até rir ao ler como pode alguém descrever estados de espírito tão parecidos comigo; é uma espécie de terapia.

'Ninguém parte. Percorramos novamente os caminhos daqui, carregado de meu vício que aprofundou sua raízes de sofrimento a meu lado, desde a idade da razão, que sobe ao céu, me golpeia, derruba, arrasta. A derradeira inocência e a derradeira timidez. Está dito. Não entregar ao mundo meus desgostos e minhas traições.Vamos! A marcha, o fardo, o deserto, o tédio e a cólera. A quem me alugar? Que besta é preciso adorar? Que santa imagem atacar? Que corações destruirei? Que mentira devo sustentar? Sobre que sangue caminhar? Mas é melhor evitar a justiça. A vida dura, o simples embrutecimento, levantar, o punho seco, a tampa do caixão, sentar-se, afogar. Assim desaparecem a velhice e os perigos: o terror não é francês. Ah! Sinto-me tão abandonado que estou oferecendo a qualquer divina imagem impulsos para a perfeição. Ó minha abnegação, ó maravilhosa caridade! aqui em baixo, embora! De profundis, Domine, que estúpido sou!'

Muito bom ler sobre isso essa semana, sobre essa ''impropriedade'' frente a algumas/muitas coisas do mundo."

Alexandre

"Com rara sensibilidade o sr. descreve a depressão e o depressivo...Esse processo de dor da alma, agonia, angústia, sofrimento intenso é algo indizível... Mas existe uma espécie de ''lenitivo'' para essa dor: pessoas que amam as outras!

O sr. é uma delas."

Luisa

"Boas recomendações, mas para o deprê tudo isso chega quando a casa já tá pra lá de carcomida.

O mais duro da depressão na minha opinião não é não conseguir sentir alegria de viver; o pior mesmo é não poder ir trabalhar porque os olhos não secam e o corpo não se move. O resto dá pra tirar de letra.

Para quem está numa fase boa e já consegue prestar atenção em alguma coisa, recomendo muita muita muita verdura fresca e frutas, os filmes "What About Bob?" ("Meu Querido Bob"), "Melhor é Impossível" (Melhor?? Impossível) e "Família Adams 2"; na música, Vivaldi, se não conseguir, Zeca Pagodinho ("Deixa a vida me levar"), "I Feel Good", "Stand by me" e "Vermelho" com a Fafá de Belém... Em caso de urgência, torta de limão ou de maracujá. E nas emergências, chocolate _ o que são 30 ou 40 quilos a mais?? O importante é sobreviver, depois a gente vê.

Tentar tomar banho também ajuda. Se não conseguir, paciência. Outro dia tenta-se de novo. A verdade é que cada um é como é, e a vida não volta pra trás, graças a Deus. Um dia tudo chega ao fim e ninguém garante nada. Quem sabe se amanhã alguém descobre que saçaricar no Carnaval aumenta o buraco de ozônio, hã? Pelo menos os deprimidos não se sentirão culpados por isso também....he-he.

Baby steps.

Baby steps."

Alda

"Talvez possa contribuir um pouco contigo. A depressão é uma doença química. Não confundir com tristeza, a qual todos corremos o risco.

No Pólo Norte, escuridão e gelo, vivem os esquimós. Que lugar propício, hem?

No entanto, inexiste a doença.

Atribui-se a isso a alimentação obtida com animais que fazem o ciclo da alga, repletos de ômega-3.

No Rio Grande do Sul temos uma das maiores autoridades do país em depressão. Chama-se Pedro Lima. É médico psiquiatra em Porto Alegre."

Alexander

"Skepp ligger tryggast i hamn.

Men det är inte det de är byggda för."

("O barco está mais seguro no porto, mas não é para isso que ele foi construído.")

Sandra

"Depressão não é estresse."

Carmona

"Cuidar de nossa casa, naquilo que depender de nós...

Grande verdade! Ajudou a lançar luz nas nossa casas e no nosso jeito de cuidar desta casa...

Lindo!"

Dayse

"Quero parabenizá-lo pela simplicidade e verdade que você transmitiu neste texto.

Posso te dizer que sofrer de depressão é isto mesmo e que na minha opinião além de estar alerta para perceber estes sinais temos que contar com amigos/familiares que saibam nos apoiar e ajudar neste momento e não que nos olhem desconfiados e façam com que nos sintamos piores por estarmos nesta situação e não conseguirmos reagir."

Luciano

"Maravilhoso o vosso texto. É isso aí. A depressão é uma doença de convivência e não, até agora infelizmente, cura. Só faço um adendo. Instala-se em pessoas sensíveis e de visão social. Pelo menos é o que reparo. Nos que pretendem questionar relações. Como o Carnaval indicado por você. Imagina se você escreve que: como podem estar brasileiros pulando e brincando pela aí, se o país vive o pior desemprego e o dinheiro anda curto até pra banqueiro? É isso amigo. Melhor é ler quadrinhos e ver o quanto é lindo um jardim florido."

Rogério

"Li seu artigo ''Depressão e Carnaval'' e gostaria de dizer-lhe que concordo com tudo o que você escreveu. É assim mesmo. Enquanto a casa está trancada e mal arrumada, a doença parece que se instala irremediavelmente. Basta, porém, criarmos coragem (não é fácil, pois quando estamos por demais deprimidos, não queremos sequer levantar da cama) e abrirmos a casa toda, deixando o Sol e a luminosidade tomar conta de tudo, inclusive de nós."

Isabela

"Esta matéria é simplesmente genial. Conexões apropriadas, metáforas inteligentes, alerta oportuno para aquele depressivo patológico. Eu, particularmente, tenho horror de estar depressiva. Imediatamente faço algo para sair desse estado trágico."

Guida

"Por Que Gritar?

Um dia, o Mestre perguntou aos seus discípulos o seguinte:

- Por que as pessoas gritam quando estão aborrecidas?

Os homens pensaram por alguns momentos...

- Porque perdemos a calma, disse um deles. Por isso gritamos.

- Mas, por que gritar quando a outra pessoa está ao teu lado? Perguntou o Mestre. Não é possível falar-lhe em voz baixa? Por que gritas a uma pessoa quando estás aborrecido?

Os homens deram algumas respostas, mas nenhuma delas satisfazia ao Mestre.

Finalmente ele explicou:

- Quando duas pessoas estão aborrecidas, seus corações se afastam muito. Para cobrir essa distância, precisam gritar para poder escutar-se. Quanto mais aborrecidas estiverem, mais forte terão que gritar para escutar um ao outro através desta grande distância. O que sucede quando duas pessoas se enamoram? Elas não gritam, mas, sim, se falam suavemente. Por quê? Porque seus corações estão muito perto. A distância entre elas é pequena.

O Mestre continuou:

- Quando se enamoram, acontece mais alguma coisa? Não falam, somente sussurram e ficam mais perto ainda de seu amor. Finalmente, não necessitam sequer sussurrar, somente se olham e isto é tudo. Assim é quando duas pessoas que se amam estão próximas.

E então o Mestre concluiu:

- Quando discutirem, não deixem que seus corações se afastem. Não digam palavras que os distanciem mais. Chegará um dia em que a distância será tanta que não mais encontrarão o caminho de volta."

Fábia

"Tenho achado muito interessante os artigos que você escreve.

Sobre depressão, bem, concordo com você. Precisamos sempre estar atentos, principalmente nos dias de hoje, onde, embora o contato com pessoas esteja muito próximo, paradoxalmente também está distante.

Trabalho diariamente com ''seres humanos'' e percebo o quanto as pessoas, de um modo geral, andam carentes por um pouco de atenção. Talvez daí surja já o primeiro sintoma (ou talvez causa) deste mal que aflige tanta gente hoje em dia."

Luciane

"Com relação à depressão, queria salientar que nosso organismo tem defesa rápida contra a depressão. Nós não sabemos.

O desbalance da produção de seratonin no cérebro se dá devido à falta de água no organismo. Se um ser humano tomar 8 copos de água por dia, com certeza poderá eliminar todos os vestígios de depressão.

O café, o chá e os refrigerantes contêm cafeína, que somente se dilui com a água. Se não bebemos água, acabaremos usando nossa água própria, causando assim um desbalance em nosso organismo em todas as áreas."

Milton

"Adorei seu texto "Depressão e Carnaval'', achei a associação com cupim bárbara.

Vem chegando bem de mansinho messssssssssmo e quando nos damos conta chegou... E a maior raiva que me dá de tudo isso é que vem muitas vezes sem motivo, pelo menos aparente.

E outra coisa que me deixou bastante chateada quando tive é o fato das pessoas que estão a nossa volta não entenderem, não terem idéia do horror que é nas nossas vidas e pensam muitas vezes que é ''pura frescura''."

Márcia

"Reconfortante saber que não sou apenas eu que não consegue entrar nesse clima carnavalesco e me cobro por não me sentir bem o suficiente para me divertir como os outros. Porém, fiquei preocupada com essa história de depressão. Será que eu posso ser considerada depressiva por isso?"

Lívia

"Desculpe-me por invadir seu espaço... Mas, sou da opinião que vozes "midiáticas'' mais potentes devem se fazer ouvir em certos casos.

Você lembra do "Bem-te-vi e o Mogno"?... ''Eu já havia me acostumado com o barulho deles.''

Pois é, eu sou contra "se acostumar" com os carnavais de nossa barbárie diária... Isso sim nos leva à depressão verdadeira. Não à depressão por estar sozinho na festa da carne, mas o se sentir só em meio a bárbaros de todos os tipos procurando ser "celebridades"."

Vince

"Sinto uma completa solidariedade com a sua ''depressão carnavalesca" porque são quase quatro da tarde da terça feira e eu ainda não consegui tirar meu pijama nem pentear meu cabelo. Simplesmente não tenho vontade ou coragem. Olho pela janela e só vejo chuva, aí quero mais é voltar pra cama outra vez. Comentei com um amigo do msn messenger que eu sentia que o colchão começava a fazer parte do meu corpo e da minha alma. Ele riu, mas eu falava sério. Sei que na quinta isso passa e que a vida vai lentamente voltando ao normal, mas, até lá, é bravo."

Márcia

"Bonito seu texto, lembre-se que a depressão também é produtiva, não que ela seja justa, mas sobreviva e a explore em vez de deixar-se refém da dita cuja."

Zilda

luiz caversan

Luiz Caversan é jornalista e consultor na área de comunicação corporativa. Foi repórter especial, diretor da sucursal do Rio da Folha, editor dos cadernos 'Cotidiano', 'Ilustrada' e 'Dinheiro', entre outras funções. Escreve aos sábados.

 

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