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luiz caversan

 

10/09/2005 - 00h00

Dois Irmãos

A temperatura é amena, o sol brilha no céu sem nuvens e a praia está lotada. O Rio de Janeiro, como sempre o foi, está fulgurante neste pleno inverno, depois de muitos dias de chuva que, dizem, embolorava as almas.

Os tiroteios nas bocas dos túneis? Ah, isso foi na semana passada. Assim como a chacina de Vigário Geral, a morte das crianças da Candelária e tantas outras tragédias desta cidade de Deus são coisas do passado. Do século passado...

O Rio de Janeiro tem uma capacidade inesgotável de se renovar em suas utopias. E o morro Dois Irmãos, que domina a paisagem da orla maravilhosa, é como que o ícone sólido e definitivo, pelo menos na minha imaginação, dessa permanente revolução em curso.

Uma revolução em que, a rigor, nada acontece, só se repete. Mas não dá para atribuir outro predicado a esta capacidade da cidade e de seus cidadãos de sobreviverem às intempéries e brilharem insistentemente na paisagem inigualável: é uma revolução de sobrevivência e beleza natural.

Os gringos estão em todo canto. Fogem do verão Europeu ou americano para a amenidade dos trópicos, temperatura e preços baixos. Aqui se encantam com a manemolência e com o caráter acolhedor. São roubados, mas ninguém liga, porque eles têm muito mesmo.

E o que é perder uns trocados diante da possibilidade de ganhar a vida por essas ruas e essas praias e essas gentes douradas?

O guaraná é R$ 2,50, um assalto a mais, mas apenas um dólar. E ficam todos felizes, gringos, barraqueiros, garotas de programas. Os traficantes que se matem, desde que seja lá em cima do morro.

Porque agora, bem são três da tarde e ainda dá para aproveitar o sol e o mar antes que o fim de semana termine e a realidade da vida na outra metrópole se imponha como o castigo inevitável.

É preciso sobreviver.

Por aqui é um pouco mais fácil.

Pelo menos para nossotros, que temos dinheiro para a ponte aérea e não precisamos subir as vielas tortas das favelas atrás do futuro incerto...

luiz caversan

Luiz Caversan é jornalista e consultor na área de comunicação corporativa. Foi repórter especial, diretor da sucursal do Rio da Folha, editor dos cadernos 'Cotidiano', 'Ilustrada' e 'Dinheiro', entre outras funções. Escreve aos sábados.

 

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