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luiz caversan

 

22/09/2001 - 00h00

Passarinhos nada sabem da guerra

Em tempos de guerra, o melhor a fazer é contemplar profundamente a vida.

Pensei nisso andando pela minha rua, onde todas as manhãs um imenso sabiá teima em cantar, alto e bom som.

Canta alto mesmo, provavelmente para atrair um parceiro (não sei se o passarão é macho ou fêmea, mas é bem grande para a espécie).

Quem sabe o canto tem a ver com a chegada de novos membros da família?

Sim, porque no pinheiro do jardim do meu prédio há um ninho de bem-te-vi, com o casal tomando conta dos ovinhos o tempo todo. De vez em quando também se ouve o neste caso inconfundível canto das aves de peito amarelo.

Mas o que chama a atenção da vizinhança de verdade é o sabiá, dorso escuro, frente laranja quase ferrugem.

"Hoje ele está animado", comentou um porteiro, quando o bicho parecia que ia estourar de tanto estufar o peito, como que um Pavarotti penado na ponta da árvore.

O rapaz que trabalha por ali estranhou o pássaro e o canto: "Na minha terra, no sul da Bahia, tem mais passarinho não. Mata tem, mas, os passarinhos, caçaram todos. Aqui, neste monte de concreto, tem mais canto de passarinho do que lá", disse ele rindo.

Presto atenção no passarinho e em seu canto, agora, como se fosse uma obrigação.

É dele e de seus trinados que dependem minha vida, a continuidade da minha vida e da vida das pessoas que ainda podem parar um instante para ouvir um canto de passarinho.

É, na verdade, um contra-senso: não se trata de um canto de guerra, como todos os que somos obrigados a ouvir nestes dias tenebrosos e amedrontadores.

O horror, o horror, diz Joseph Conrad em "No Coração das Trevas", e repete Francis-Ford Coppola-Marlon Brando em "Apocalipse Now".

O horror, para nós outros, está no jornal, na TV, na internet, no rádio, no futuro incerto e assustador. O horror está na vida lá fora.

Ao explodir os prédios de Nova York, os terroristas desconhecidos acenderam o pavio da ira descomunal.

Agora, há de se punir, matar, jogar bomba, vingar.

O horror.

Navios gigantescos zarpam sem destino, jatos supersônicos cruzam os céus com seus potentes radares ao léu, inúteis.

Bilhões, muitos bilhões de dólares serão gastos para que a vingança ocorra e o Ocidente se sinta seguro.

Isso jamais acontecerá, e os bilhões serão queimados nos combustíveis dos veículos bélicos.

Com tanta boca para alimentar, bilhões viram fumaça...

A guerra já começou, e é por isso que deve-se ouvir o canto dos pássaros.

Não podemos perder de vista nossa condição ínfima e efêmera.

Dentro do Grande Mal em que se transformou a sociedade moderna globalizada e suas dissidências possíveis, somos, individualmente, apenas passarinhos que gostariam de ficar cantando na ponta de uma árvore.

Como se fosse um canto de esperança.

*********************

Agradeço a boa intenção dos colaboradores da sessão Besteirol da Internet, mas peço encarecidamente que não mandem mais piadas sobre atentado, Bush, Bin Laden, Nova York etc. Simplesmente porque, creio eu, a coisa nessa área não está para brincadeira.
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Mas, sim, ainda é possível (e necessário até!) relaxar um pouco. Então, aí vai mais uma leva de besteiróis que rolam nos e-mails da vida. Clique e veja o Besteirol da Internet - Melhores Momentos.

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luiz caversan

Luiz Caversan é jornalista e consultor na área de comunicação corporativa. Foi repórter especial, diretor da sucursal do Rio da Folha, editor dos cadernos 'Cotidiano', 'Ilustrada' e 'Dinheiro', entre outras funções. Escreve aos sábados.

 

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