Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 

luiz caversan

 

01/03/2003 - 00h00

Vingança carioca

Levam as circunstâncias a que eu retome este espaço, depois de um período de recolhimento, justamente em meio à loucura do Carnaval.

O tema da coluna de retorno, portanto, deveria ser folia, animação, alalaô.

Mas, antes disso, vale contar uma historinha.

Tarde muito quente do verão carioca. Vou estacionar o carro numa rua tranquila do Leblon, a menos de dois quilômetros de onde, no dia anterior, bombas foram jogadas pela bandidagem local, na ação concatenada que incluiu queima de ônibus, tiros e intimidações em geral. Um morto no final.

A mulher que toma conta dos carros daquele pedaço de rua logo me informa: "Não dá para parar aqui, não. Está reservado pra Globo".

Quero saber detalhes.

Ela aponta o edifício de luxo e diz: "Aqui mora uma das peruas da novela "Mulheres Apaixonadas" e eles vêm gravar quase todo dia. O pedaço aqui é deles."

"Poderosa, essa Globo, não?", brinco com a mulher queimadíssima do sol e suando debaixo de um jaleco verde.

"Meu filho, aqui nesta cidade é o seguinte: quem manda é a Globo e o Fernandinho Beira-Mar."

Certamente um ingênuo exagero da gentil flanelinha. Fernandinho Beira Mar manda muito mais que a Globo. Há anos existe uma piadinha por aqui que diz o seguinte: quando a Globo sair do Rio, a cidade fecha. Pode ser, "tudo" gira em torno da emissora.

No caso de Fernandinho Beira-Mar, no entanto, foi o contrário: tiveram que "sair" com ele do Rio para a cidade não fechar.

Fico na dúvida em concluir que se trata de um evidente fracasso das autoridades do Rio (Dona Rosinha e seu garotinho) em não conseguir controlar minimamente o homem mesmo no presídio de segurança máxima (ha ha ha!), ou se o fato de mandar o meliante para São Paulo foi uma espécie
de "vingadinha", mais um round na eterna disputa entre as duas facções rivais, paulistas e cariocas.

Imagino, no entanto, que essas firulas (quem se deu melhor, Rosinha se livrando do estorvo, ou Alckmin, dando uma de deixa que eu seguro?) ficarão para depois de quarta-feira, porque não há Beira-Mar, guerra do Iraque ou quetais que tirem, para roubar um jargão típico de locutor da Globo, o brilho da festa do povo na avenida _sinceramente vou passar o
Carnaval longe dela porque haverá sempre coisas boas a se fazer no Rio de Janeiro.

Para encerrar, apenas uma divagação: será que essa explosão social do Rio, as de que pouco se sabe em São Paulo, Belo Horizonte, Recife etc., e todas as outras que virão, têm alguma coisa a ver com o medonho desemprego que se abate sobre o país.

Será?

Pura coincidência: enquanto Beira Mar é levado para São Paulo, deixando seu reino, e Bush vacila na sua sanha bélica para conquistar o Iraque, Romário invade o Qatar e vai ganhar, pelos próximos 100 dias, a bagatela de R$ 2.200 por hora.

luiz caversan

Luiz Caversan é jornalista e consultor na área de comunicação corporativa. Foi repórter especial, diretor da sucursal do Rio da Folha, editor dos cadernos 'Cotidiano', 'Ilustrada' e 'Dinheiro', entre outras funções. Escreve aos sábados.

 

As Últimas que Você não Leu

  1.  

Publicidade

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página