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luiz caversan

 

04/04/2009 - 00h16

A privacidade que nunca teremos

Duas notícias recentes trazem de volta (como se ela tivesse ido embora...) a questão da privacidade.

A primeira notícia poderia se chamar "a vingança do olho grande": uma inglesa foi xeretar a vida de uma amiga por meio dessa nova ferramenta do Google que permite ver uma cidade, um bairro, uma rua, uma casa da rua, os carros que estão na rua e até quem está atravessando a rua como se a gente estivesse ali, bisbilhotando in loco.

Pois bem, a curiosidade que já matou vários gatos quase matou de susto a tal inglesa quando ela viu, estacionado na frente da casa da muy-amiga, nada menos que o carro do marido, que deveria estar longe dali, em viagem de "negócios".

A mulher, cujo nome omitiu-se, já constituiu advogado e quer o divórcio.

Noutro caso, também envolvendo a novidade que está sendo lançada no Reino Unido e se chama Google Street View, o britânico Paul Jacobs, 43, arregimentou vizinhos para impedir que o carro do Google que colhe essas fotos 360º para diversão dos voyeurs em geral percorresse as ruas de seu bairro na localidade de Buckinghamshire.

Na base do "unidos venceremos", o pessoal fez com que o motorista do Google desse meia volta e se mandasse rapidinho. "Estamos defendendo nossa privacidade", afirmou, bravo, Jacobs, complementando: "Não quero ninguém tirando fotos da minha casa."

Muito justo.

O Google se defendeu, dizendo que age dentro da lei e que esconde o rosto das pessoas e as placas dos carros cujas imagens são captadas. Mas, fora isso, o resto está tudo lá. Tanto que a inglesa de quem falei aí acima identificou o carro do marido pelas "calotas personalizadas", seja lá o que for isso...

Se a questão resvala aqui nos aspectos legais, a origem de tudo é basicamente moral e ética, artigos tão em falta ultimamente.

Parece até bizarro discutir privacidade quando você é frequentemente compelido a participar da vida alheia em situações como: aqueles malucos que vão aos programas populares de TV lavar a roupa suja, muito suja; aquelas pseudo celebridades que vão lavar roupa suja, tomar banho, encher a cara e fazer um monte de outras coisas, algumas indescritíveis, nos realities shows da moda; e aqueles infelizes que dizem tudo o que pensam do ou da ex ao celular, dentro do elevador lotado. Ai, ai, que medo...

Mas nem tudo está perdido, admita-se, embora acredito que nunca estaremos totalmente blindados contra as investidas à legítima decisão de ficarmos quietinhos aqui no nosso canto.

De qualquer maneira, o UOL Notícias informou na última sexta que a lista dos cidadãos que se cadastraram no Procon de São Paulo para nunca mais receberem ligações de telemarketing ultrapassou a marca dos 200 mil em uma semana de funcionamento do serviço.

Maravilha!

E aí, você está entre os que "não vão estar querendo" nunca mais ouvir gente ligando pra você, na privacidade do seu lar, 10 da noite de sábado, para "estar oferecendo" uma coisa que não tem a menor utilidade?

Eu estou.

Mas há que se avançar mais, e logo.

Não é possível que possa continuar acontecendo o que ocorreu recentemente com um amigo. Ele foi a uma loja, se interessou por um produto e buscou informações sobre pagamento parcelado. Na hora de fazer o cadastro para ter direito ao financiamento, levou um baita susto: bastou ele dar o número do CPF para descobrir que a loja, na qual ele nunca tinha posto o pé, sabia tudo dele: nome, endereço, telefone, cartões de crédito, tudo...

O rapaz deixou o estabelecimento rapidinho, sem levar nada, temendo, aliás, que lhes tirassem fotos, colhessem o tipo de sangue, medissem sua pressão, número do sapato e sabe-se lá o que mais...

*

A propósito de moral e ética, confira o recém lançado livro "Ética, Jornalismo e Nova Mídia - Uma Moral Provisória", de Caio Túlio Costa.

Como poucos que atuam na área, Caio sabe exatamente do que está falando.

luiz caversan

Luiz Caversan é jornalista e consultor na área de comunicação corporativa. Foi repórter especial, diretor da sucursal do Rio da Folha, editor dos cadernos 'Cotidiano', 'Ilustrada' e 'Dinheiro', entre outras funções. Escreve aos sábados.

 

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