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luiz caversan

 

24/04/2010 - 15h20

Figurinhas e brigadeiros

Incrível a febre que tomou conta de São Paulo. Não, não se trata da gripe H1N1, não, Estou falando da febre das figurinhas da copa.

Gente, até assaltaram uma distribuidora para roubar figurinhas, já viram uma coisa dessas?

E o que no passado era coisa de criança ou adolescentes, virou mania de homens, mulheres, idosos e até de crianças e adolescentes.

Uma onde nostálgica tomou conta de gente que nem é tão ligada assim em futebol. O importante, na verdade, é colecionar, trocar figurinhas repetidas, viver a emoção de encontrar num pacotinho o cromo que faltava para completar a página.

O importante, na verdade, é reviver emoções simples e materiais, surpreendentes para uma época, e envolvendo pessoas, em que se vive grande parte do tempo no mundo virtual.

Uma explicação que ouvi outro dia para o fenômeno da multiplicação das figurinhas de futebol é que o colecionismo teria sido estimulado, e por esse motivo estaria bombando, justamente pela facilidade de comunicação via redes sociais virtuais, sobretudo Facebook, Twitter e o "velho" Orkut.

Mais ou menos, acho.

Porque hoje mesmo estava eu ali na lanchonete perto de casa, comendo e, como todo xereta compulsivo, prestando atenção na conversa alheia - se bem que a conversa, entre a meia dúzia de atendentes da lanchonete, acontecia aos gritos, não tinha como não ouvir.

Bem, o papo era o mesmo: figurinhas, figurinhas, figurinhas.

E o que permeava a conversa eram as recordações do passado, aquele álbum de não sei quando em que ficaram faltando apenas três cromos, o tempo em que se colavam as figurinhas com cola tenaz, como era mesmo o nome daquele jogador "galã"?

Não me pareceu, longe disso, que aqueles funcionários de lanchonete, gente bem simples, fossem participantes ativos de comunidades virtuais.

Não, era coisa do mundo material, mesmo, assim como o são a Copa e seus jogadores.

Mas, na verdade, parece-me que os protagonistas das figurinhas de hoje em dia têm importância muito relativa. Porque convenhamos que os "astros" da seleção de Dunga deixam muito a desejar, em termos de celebridade ou de impacto no imaginário dos aficionados, comparados com um Romário, um Ronaldo no auge da carreira, e, mais longe, um Zico, Sócrates ou até mesmo um Pelé, entre outros.

A conclusão a que chego é que na verdade o futebol e a intensidade do brilho dos seus astros pouco importam, o que vale mesmo é a recuperação de um hábito, é a vontade de reviver um tempo que parece ter sido melhor, mais encantador, mais agradável do que hoje.

E como as pessoas precisam disso...

Senão, vejamos.

De volta ao Facebook, este botequim cibernético, esta esquina em que amigos se encontram, ou, como disse o jornalista Mathew Shirts, este "jornal de bairro" em que interesses comuns de pessoas próximas circulam com dinamismo próprio.

Outro dia, a amiga Rosana Miziara postou uma foto de quitutes de uma festinha de aniversário de anos atrás, lembrando do tempo em que as mesas eram arrumadas com docinhos coloridos, picles e salsicha em palitos espetados num abacaxi, quando havia carne louca desfiada com pão, pão Pulmann com patê, balas de coco e gelatina de copinho. E também que a mesa era decorada com garrafinhas de vidro de guaraná Antarctica cobertas com imagens de papelão com temas infantis, tipo sete anões e quetais.

Pronto, foi o suficiente para que uma legião de amigos entrasse na conversa, toda ela extremamente saudosista, cada qual recordando detalhes de um passado encantador, gostoso, que faz falta.

Um lembrou do mini-cachorro quente com molho de tomate, outra do enroladinho assado de salsicha, outro do bolo recheado com leite condensado, ameixa e abacaxi, da bronca que levou da mãe por ter comido o enfeite do bolo, do cheiro da festa que impregnava a casa o dia todo, da passada de dedo no glacê...

Sem falar nos presentes, que ficavam expostos em cima da cama no quarto do aniversariante.

Uma delícia, bons tempos, todos concordaram.

Será que tempos tão melhores assim do que as festinhas de hoje em dia, plenas de bufês, animadores, super-heróis, dezenas de brinquedos, hambúrgueres e mashmallows?

Será que uma criança de hoje iria preferir a festinha de antigamente?
Pedacinhos de salsicha no palito espetado numa melancia?!

Tenho dúvidas...

O certo é que muito pouca coisa mobiliza, agrega tanto as pessoas como as boas lembranças.

Principalmente essas lembraças inocentes, descompromissadas, felizes,.

Sejam elas de craques de futebol em figurinhas repetidas ou de brigadeiros recobertos de bolinhas coloridas, nas festinhas dos 7, 8 anos de cada um.

luiz caversan

Luiz Caversan é jornalista e consultor na área de comunicação corporativa. Foi repórter especial, diretor da sucursal do Rio da Folha, editor dos cadernos 'Cotidiano', 'Ilustrada' e 'Dinheiro', entre outras funções. Escreve aos sábados.

 

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