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luiz caversan

 

13/11/2010 - 13h29

Filhos para amar, mais e mais

Minha filha vai se casar. Ela está com mais de 20 anos, mas ainda é uma criança, claro!

Em meio a preparativos, planos e acertos para o enlace que ocorrerá no começo do próximo ano, desfruto da felicidade que é contemplar o amadurecimento de quem se criou, em quem se confiou, investiu, depositou afetos e estímulos, e ama-se profundamente.

A trajetória da infância à idade adulta de um filho consiste, para o progenitor, na experiência mais rica que a vida pode proporcionar.

Há tempos, quando a menina era de fato uma menina, compartilhei aqui os sentimentos instigantes que a relação efetiva entre pai e filha proporciona. Diante da nova e deliciosa etapa que a vida nos contempla, sinto que é hora de reviver aqueles momentos tão marcantes. Daí reproduzo um trecho de coluna de quase 10 anos atrás.

Porque talvez não exista nada contraditoriamente tão prazeroso e assustador ou gratificante e difícil do que estabelecer uma relação saudável com um filho ou uma filha, sobretudo os adolescentes.

É impressionante a capacidade que eles têm de nos surpreender, de nos instigar, provocar nossos fantasmas, nossos medos e ao mesmo tempo de se converter em fonte de prazer e realização.

Suas contradições, expectativas, ansiedades, todas as suas perguntas... Como respondê-las, como não sofrer quando elas, as perguntas, não nos são feitas?

É muito difícil ser pai, ainda que pai de uma adolescente "não-aborrecente". Eu já sabia que é um problema ser pai ou mãe de um adolescente razoavelmente complicado: assisti a meus pais vivenciando isso por anos seguidos...

Já há algum tempo convivo com uma mocinha encantadora, que, longe de ser uma "aborrecente", no entanto encerra em sua vidinha cheia de indagações, projetos ansiedades, desafios e, por que não?, prazeres e realizações todos os mistérios de uma existência que desabrocha para o bem e para o mal que estão aí em cada esquina.

Como protegê-la, se as certezas estão cada vez mais diluídas na fragmentação dos conceitos e dos costumes?

Como instruí-la, se as verdades estão permeadas de todas as fragilidades que séculos de hipocrisia humana nos impuseram?

Como dizer acerte, não erre, se muitas vezes descobrimos que o certo de prática antiga se tornou o erro de que nos envergonhamos?

Sexo, drogas, baladas, estresses vários turbinados por contingências com as quais eles vão ter que conviver, para os quais vão ter que dizer sim ou não: essa é a realidade das ruas e da vida que se estende à frente de nossos filhos, assim como se estendeu à nossa frente.

Eles saberão escolher? Nós soubemos?

O que foi bom pra mim será bom para ela ou para ele?

São perguntas demais para um artigo só...

Principalmente porque não há respostas, pelo menos as definitivas.

Apenas uma certeza razoável: solidariedade é a palavra.

Estar com, ainda que distante. Acolher, ainda que no momento da discordância. Apoiar, mesmo que a dúvida possa instigar a condenação.
Para tudo há limites, dirá o leitor ajuizado.

Claro, mas nenhum deles pode delimitar as incomensuráveis possibilidades de diálogo que existem entre pais e filhos.

Esse é o exercício que vale a pena na vida.

luiz caversan

Luiz Caversan é jornalista e consultor na área de comunicação corporativa. Foi repórter especial, diretor da sucursal do Rio da Folha, editor dos cadernos 'Cotidiano', 'Ilustrada' e 'Dinheiro', entre outras funções. Escreve aos sábados.

 

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