Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 

luiz caversan

 

26/11/2010 - 12h08

É hora de ser carioca

O Rio de Janeiro é minha segunda cidade, ali morei durante todos os anos 90, dirigindo a equipe de jornalistas que atua na sucursal desta Folha. E para lá retorno sempre que posso, para matar saudades, rever amigos e desfrutar de uma das cidades mais bonitas do mundo.

Essa vivência permitiu conhecer muitas nuances desta cidade partida entre o bem e o mal, entre os bandidos e mocinhos, entre o certo e o errado.

Nem tudo ali é tão claramente do bem ou do mal, totalmente certo ou completamente errado, tampouco os mocinhos são sempre mocinho e os bandidos os fora da lei.
Uma vez, o grande jornalista Janio de Freitas, eu recém chegado ao Rio, disse o seguinte: "Qualquer noite dessas, repara numa favela. Você vai ver que quando começa a chegar 10, 11 horas da noite, as luzes vão se apagando e à meia noite quase todas as casas estão às escuras. Sabe por quê? Porque a maioria dos moradores precisa acordar cedo no dia seguinte para trabalhar..."

Era e ainda é o óbvio de que se esquece: que a imensa maioria dos moradores das favelas é composta de trabalhadores, sem os quais a cidade "do asfalto" não funciona.

Essa proximidade e essa convivência tem suas vantagens e seus defeitos. O Rio talvez seja a cidade mais miscigenada do Brasil, se é que se pode chamar assim a mistura não apenas entre raças, mas entre pessoas de condições sociais distintas. Porém, essa convivência, ao longo dos anos, produziu também muitas excrescências, uma tolerância que deveria ser apenas do bem (entre as classes sociais distintas) tornou-se perniciosa (a tolerância ao crime).

O crime que começou pequenininho, com todo mundo achando normal ter uma banca de jogo de bicho ali ao lado, um caça níqueis no boteco da esquina, camelôs na calçada da frente de casa, flanelinhas praticamente morando no seu portão... Daí a boca-de-fumo na entrada da favela, que passou a vender o papelote de cocaína, que começou a ostentar o homem armado, que foi dominada pelo bando de outra favela, que tornou-se caso de segurança pública.

Do garoto da favela que vendia fumo chegou-se rapidamente ao "movimento" armado, violento, sem cara e sem nada a perder.

Claro que nada foi tão simples e veloz, mas aconteceu mais ou menos assim, e aconteceu sob o nariz da população, contando com sua conivência, apatia ou medo.

Portanto, neste momento em que a polícia ocupa um importante território que era dos bandidos, é hora de os cariocas se mobilizarem para reocupar os espaços que são seus. É preciso ser carioca de fato e de direito e exercer essa cidadania tão bacana e invejável, proporcionada, ainda e sempre, por uma cidade ímpar, deslumbrante, musical, acolhedora, com uma vocação inigualável para a felicidade e que tantas coisas boas já proporcionou a este país.

A cantora Claudinha Telles, em seu perfil do Facebook, conclama: "Chega de passividade Rio de Janeiro, vamos segurar o tranco, cariocada linda!".

É isso aí.

Esta não é a primeira e provavelmente não será a última vez em que o Rio tenta reagir ao crime que se instalou feito um câncer em suas colinas.

Mas algo me diz que agora é um excelente momento para se começar uma mobilização de verdade que permita ao Rio voltar a ser a cidade que aprendemos a amar.

luiz caversan

Luiz Caversan é jornalista e consultor na área de comunicação corporativa. Foi repórter especial, diretor da sucursal do Rio da Folha, editor dos cadernos 'Cotidiano', 'Ilustrada' e 'Dinheiro', entre outras funções. Escreve aos sábados.

 

As Últimas que Você não Leu

  1.  

Publicidade

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página