Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 

luiz caversan

 

17/09/2011 - 12h38

O que o povo quer?

Certa vez, o falecido humorista Bussunda, à época no auge da fama por conta do programa de TV "Casseta e Planeta Urgente", foi abordado por um homem desconhecido no saguão do aeroporto Santos Dumont, no Rio. Deu-se o seguinte diálogo:

- Fala Bussunda!

- Olá...

- E aí, Bussunda, vai pra São Paulo?

- Sim...

- Então conta uma piada aí, Bussunda!

- Ok. Então vamos fazer o seguinte: qual é a sua profissão?

- Engenheiro...

- Então constrói uma ponte aí que eu conto uma piada...

- Pô, Bussunda, que cara mau humorado!

Não sei se foi exatamente assim, porque não o presencie, mas este diálogo aconteceu de fato, de acordo com relato do próprio Bussunda numa conversa em que ele ilustrava a constatação de que certas pessoas acham que o que os outros fazem sempre é muito fácil.

- Tirar uma foto? Basta apertar o botão!

- Escrever um bom texto? Ué, é só saber digitar direitinho...

Quem dera, quem dera...

Um texto bom, bem "amarrado", com uma boa "pegada" no começo, um bom ritmo para manter o leitor e um final decente que o satisfaça, ah, meu amigo, é um
sofrimento.

Pelo menos para mim. Para mim e para um monte de gente que vive das palavras, que podem parecer perfeitamente domináveis, moldáveis, dóceis, mas que têm uma rebeldia surpreendente, às vezes incontrolável, a ponto de deixar o autor na mão quando menos ele espera.

E mesmo aqui neste espaço, ou talvez por isso mesmo, em que o tema é livre e o objetivo é a chamada "crônica de costumes'', que deliberadamente pretende passar ao largo das questões políticas, econômicas, atendo-se aos relacionamentos, afetos, sofrimentos da alma e alegrias do coração...

Ontem mesmo aconteceu isso: hora de escrever a crônica da semana, e cadê que a coisa rola?

Tinha decidido escrever sobre sonhos e mulheres, dois temas bacanas, não? Mulheres são sempre um bom mote, recorrente aqui e de audiência garantida, ainda mais quando se é conceitualmente a favor das mulheres, o que é o caso deste cronista.

E sonhos pelo seguinte: uma pesquisa revelou que as mulheres têm sonhos muito mais coloridos, reais, emocionantes do que os homens, veja só.

Beleza, taí uma coluna pronta...

Mas que nada: tenta daqui, tenta dali, começa, apaga, e cadê de o texto engrenar, sem graça e sem rumo...

Como o Facebook já virou para mim aquele amigo de todas as horas, recorri à rede social: "Cadê a inspiração para a coluna desta semana, caramba?"
Pronto, foi o que bastou para em poucas horas choverem sugestões, palpites e desabafos.

Pode até parecer subterfúgio de cronista encafifado com o texto (e é um pouco...), mas vou dedicar o texto desta semana a esses comentários. Mesmo porque trata-se de uma amostra bem bacana daquilo que desperta a atenção de gente de variados matizes, um pouco de sociologia-de-botequim não faz mal a ninguém...

São trechos e cada um tem seu autor, cuja identidade não tenho autorização para revelar...

- Que tal comentar as escolhas do Sarney para ocupar o Ministério do Turismo. Por que tem que ser sempre um deputado do Maranhão e não um profissional que entenda do setor?

- Fala sobre o tal deputado baiano chamado Jutahy Magalhães, do PSDB da Bahia, que é o autor de um projeto de lei que legaliza a corrupção em nosso país. O projeto proíbe o Ministério Público de investigar atos de corrupção de Presidente da República, Governadores de Estados, Senadores, Deputados Federais, Deputados Estaduais e Prefeitos.

- Precisa ser sobre política? Que tal falar sobre civilidade? Sobre a noção, ou falta de noção, de que a cidade pertence ao pedestre e não aos carros, que o cumprimento de regras básicas de civilidade traria segurança e conforto a todos. Estou agora em Vancouver e é espantosa a diferença que isso faz.

- Você pode também falar sobre a alegria --finalmente-- de quem mora no Butantã e trabalha no Bom Retiro (como eu). Agora demoro 12 minutos de metrô. Antes gastava 1h20 no mínimo para me deslocar.

- Fale sobre que, com a idade, precisamos desaprender. Por ex: eu preciso desaprender a associar comida e afeto - porque minha mãe, com 10 irmãos, naturalmente nunca tinha tempo pra mim. Mas quando me via tristinha caprichava na comida que eu mais gostava. Resultado: relação de amor e raiva com comida e quilos a mais!

- Que tal escrever algo sobre o desassossego?

- Outra sugestão é contar as sugestões tão díspares dos amigos...

- Fala sobre o projeto de ecologia desse sábado para limpeza da avenida paulista: http://zpb.org.br/

- Acho que vale: criado há 40 anos em Vancouver, o Greenpeace virou principal organização ambiental do planeta. A ONG começou com um protesto contra testes nucleares realizados pelos Estados Unidos no Alaska. Hoje, o Greenpeace é considerado a principal organização ambiental do planeta. São três milhões de colaboradores em todo o mundo, 40 mil deles no Brasil.

- Acho legal falar sobre o desvio de caráter de algumas pessoas --políticos ou não. O que se passa na cabeça de gente como Jutahy ou mesmo da de Pedro Novais e de sua mulher? Será que eles têm um chip diferente do nosso? Para mim e para muitos dos que me cercam, é tão claro o que é certo e o que é errado!

- É impressionante o crescimento do número de voluntários do Greenpeace em SP. a gente anda no centro ou perto do shopping e há sempre grupos de jovens convidando os pedestres a aderirem a causa.

- Outro dia um outro grupo me abordou pedindo contribuição para ajudar as crianças brasileiras. Eu disse: já faço a minha parte: sou professora.

- Tá aí um bom tema: a necessidade de desabafar. por que é tão difícil manter o silêncio sobre as coisas? Meditar ao invés de falar, falar e falar até enjoar? Eu queria muito aprender a silenciar.

- Tá vendo...assunto num falta, quisera nois ter uma coluna pra "desabar"!

- Os 1000 dias pra copa

- E a necessidade do paulistano de ir pra praia?

- Fala do poder da vulnerabilidade! Adorei a pesquisa da Brené Brown que, tentando entender e medir (ela é aficcionada por métricas) a habilidade humana de sentir empatia, pertencer e amar, chegou à vulnerabilidade, coragem, autenticidade e vergonha. (veja aqui)

- Ou fala do que a Sophia e mais 199 voluntários estarão fazendo neste fim de semana: construindo casas em favelas. o link da ONG "Um Teto para meu País" é www.umtetoparameupais.org.br

- O movimento de desromerobritização

- Transpiração

- A festa pela liberação da maconha que ia ter na PUC.

- Escreva a favor de alguma coisa e não contra alguma coisa. Ilumine o lado positivo, independente do tema.

- Fala do bullyng virtual, minha filha foi vítima só porque "perguntava durante a aula e participava demais"...

- Escreve o que vier na cabeça.

- Ouvi dizer que essa é a semana das filhas, você escreve lindamente sobre pais. Quem sabe não nos premia com uma bela coluna sobre filhas?

- Honestidade é sempre uma boa inspiração. Tem amplo espectro. Implica em caráter, altruísmo, aceitação, visão de futuro, felicidade, e equilíbrio. Honestidade é vida. O resto é corrupção. Faça uma coluna sobre nosso bisavós, imigrantes que atravessaram o oceano em busca de oportunidades, e ajudaram a construir o Brasil. E pra quê?

luiz caversan

Luiz Caversan é jornalista e consultor na área de comunicação corporativa. Foi repórter especial, diretor da sucursal do Rio da Folha, editor dos cadernos 'Cotidiano', 'Ilustrada' e 'Dinheiro', entre outras funções. Escreve aos sábados.

 

As Últimas que Você não Leu

  1.  

Publicidade

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página