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luli radfahrer

 

02/04/2012 - 07h00

iOS é o novo Windows

O título desta coluna pode levar a imaginá-la como um daqueles textos amargurados, reacionários e enviesados, fichas técnicas por extenso, predispostos a denegrir a Macieira de Cupertino, seus produtos e o fanatismo de seus usuários. Mas, acredite, seu objetivo é o contrário.

Sou consumidor da marca Apple desde 1980, época em que o sobrenome "Computer" ainda tinha ares de modernidade. Tenho Mac há 25 anos, iPad desde que foi lançado e já fui usuário de alguns fracassos retumbantes, como o Newton e sua tentativa de fazer uma câmara fotográfica. Nesse longo casamento, pude experimentar vários aspectos da dor e delícia de ser uma minoria, nem sempre privilegiada. Como eu, boa parte dos donos de iMacs e PowerBooks deve se sentir um pouco melindrada ao ver o que era considerado especial ser transformado em algo comum. Sensação, acredito, parecida com a dos jogadores de massivos multiplayer ao ver muita gente autointitulada "gamer" após meia dúzia de sessões de Wii.

Não há dúvida que o iPhone protagonizou uma transformação sem precedentes. De um brinquedo da Apple, trambolho sem foco, sentido, sinal ou bateria que prestasse, ovelha negra em um mundo de Nokias e Motorolas, o azarão foi passando a concorrência, tomou a ponta e abriu uma distância tão grande de seus competidores que passou a ser considerado outra categoria de dispositivo.

Em menos de 5 anos o aparelho se tornou unanimidade. No Canadá, terra do Blackberry, é um dos prediletos. Nos EUA, em que 50% da população usa smartphones, representa quase metade dos aparelhos adquiridos nos últimos três meses. Como celulares costumam trocar de mão ao serem atualizados, o número de usuários tende a crescer nos próximos anos, à medida que iPhones 3GS, 4 e 4S, um dia tão caros e antecipados, são doados ou vendidos a preços que beiram o simbólico.

Isso tudo apenas para falar de iPhone. Quando levados em conta os iPads e iPods, o sistema operacional da Apple parece imbatível, maioria inquestionável como Twitter, Google, Linkedin e Facebook, tão sólida que surpreende o fato de ter surgido tão rápido.

Mas, como bem o sabem os canhotos, falantes de português e usuários de Linux, nem mesmo 99% é uma unanimidade. Para quem está do lado de fora da curva, a frustração de ser excluído gera revolta e resistência, a ponto de uma simples comparação ser considerada um insulto. São exatamente esses indignados que resistem à propaganda de marca, questionam as conquistas e reforçam a oposição a uma maioria que, de tão consolidada, parece a única verdade possível.

Os movimentos recentes do mercado digital mostram que nenhuma empresa é grande demais para quebrar (Motorola) ou pequena demais para vingar (Zynga). Unanimidades, mesmo que não sejam burras, tendem a ser extremamente preguiçosas. Seus processos industriais e gerenciais, mastodônticos, pouco se parecem com as startups inovadoras que um dia foram e, como Yahoo!, Sony e AOL, correm o risco de tomar grandes tombos sem aviso.

Em um de seus discursos mais populares, Steve Jobs defendia a necessidade de permanecer faminto, levemente tolo, questionador. É o que se vê em nomes pouco conhecidos como WolframAlpha, Blekko, DuckDuckGo e tantas outras que se recusam a aceitar a dominação do Google, forçando-o a inovar para conservar o cinturão de líder.

O sistema operacional da Apple, que está a caminho de ter uma penetração tão grande quanto a que teve um dia o Windows, tem várias qualidades. Ele é, sem dúvida, superior a todos que o precederam e provavelmente o melhor da concorrência. Mas isso não significa que seja perfeito, pelo contrário. Agora que suas características tornaram-se o padrão, o que vem depois? O que será usado daqui a cinco anos a ponto de considerarmos o iOS primário? Mal posso esperar.

Nunca imaginei que um dia torceria pela Microsoft como empresa minoritária, mas não vejo a hora do Windows 8, auxiliado pela Nokia, venha chacoalhar o mercado com a força que o Android do Google não teve. E como um bom clássico de futebol ou debate político, tirar do ambiente dos smartphones a aura de fanatismo religioso em que hoje se vive.

luli radfahrer

Luli Radfahrer é professor-doutor de Comunicação Digital da ECA (Escola de Comunicações e Artes) da USP há 19 anos. Trabalha com internet desde 1994 e já foi diretor de algumas das maiores agências de publicidade do país. Hoje é consultor em inovação digital, com clientes no Brasil, EUA, Europa e Oriente Médio. Autor do livro 'Enciclopédia da Nuvem', em que analisa 550 ferramentas e serviços digitais para empresas. Mantém o blog www.luli.com.br, em que discute e analisa as principais tendências da tecnologia. Escreve a cada duas semanas.

 

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