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luli radfahrer

 

17/09/2012 - 07h00

O que aprender para encarar os novos tempos

Alfabetizados e socializados online, os jovens que cresceram com a internet (ou melhor, na internet) veem o mundo em completa transformação.

Eles não "surfam" na rede, a web para eles não é um "espaço virtual", nem mesmo é externa à realidade. Invisível e constante, ela é complementar ao mundo físico. Mais do que uma tecnologia, ela é uma linguagem. Novos aparelhos aparecem e desaparecem, a Internet persiste.

Ela, que já esteve restrita a mainframes e browsers, hoje começa a deixar os celulares e invadir eletrodomésticos e roupas.

Esse contexto interativo e conectado estimula um novo modo de pensar. Entre os mais jovens a informação é viva, maleável, distribuída em vários lugares, cada um com diferentes níveis de credibilidade. Como em um jogo, a resposta à cada pergunta é conquistada à base de interesse, tempo e esforço. Cabe a cada um filtrar o que encontra e tirar suas próprias conclusões. E elas não são definitivas, podem ser mudadas quando surgirem respostas melhores ou mais convenientes.

Quando comparada com aquela verdade monolítica, dogmática, perene e universal com que se convivia até o fim do século passado, a evolução é clara. A prova de seu sucesso está no volume de pesquisas e no interesse pela educação continuada.

Em nenhuma época da história foram feitas tantas perguntas quanto as que se faz a cada minuto no Google. Nenhuma enciclopédia foi mais folheada do que a Wikipédia. Não há biblioteca tão consultada quanto o volume de informação que trafega livremente hoje. Por mais que ainda se desperdice muito tempo na rede, não tardará para que descuidar do conhecimento seja tão mal-visto quanto descuidar da vestimenta ou da saúde.

Mas o que se deve aprender quando não há ideia vem por aí? Não sou pedagogo nem psicólogo, mas com base nas transformações que acompanho nas últimas três décadas, fiz uma lista de sugestões por idade.

Para começar, os pais. Eles precisam deixar de lado a ansiedade e compreender que seus filhos crescerão e serão moldados em um contexto desconhecido e imprevisível, bem diferente do que sustentou a sociedade do passado. Algo que "sempre foi feito assim" não é mais necessariamente válido. A melhor época para descobrir novas hipóteses é aquela passada em família que, em princípio, tem por seus rebentos grande amor, compreensão e tolerância.

Crianças com mais de cinco anos de idade precisam ser estimuladas a perguntar, a questionar como o filósofo Sócrates propôs. Talvez por medo de subversão em um mundo corporativo e competitivo, é surpreendente a quantidade de adultos que desencorajam o questionamento, limitando a criatividade daqueles que mais tarde precisarão inovar.

Adolescentes por volta dos 15 anos precisam experimentar. Esta é a melhor época para ser desfocado, errar muitas vezes, ter o máximo de contato possível com o que há de mais variado.

O desafio, bem sabem os videogames, estimula o raciocínio. Mas há outros jogos, tão ou mais interessantes do que os jogados em um PlayStation ou XBox. Linguagens de programação, eletrônica, biologia, economia e outras áreas de conhecimento podem, se bem apresentadas, gerar fascínio.

De todos os projetos o mais importante é escolher o que estudar dali para a frente. A educação superior precisa ser um enorme debate, não um conjunto de reuniões passivas, em que se aprende a escutar, aceitar e trapacear, usando o smartphone para matar o tédio. É nessa idade que eles precisam descobrir se a vocação que tem é verdadeiramente deles ou se está para satisfazer os outros.

Recém-formados, jovens de 25 anos tem as últimas novidades e são incansáveis. Suas ideias, apesar de ainda cruas, são ótimas. Essa geração não tem mais a resignação humilde com que seus pais tratavam o trabalho como uma religião, em que problemas administrativos eram de importância fundamental e que o desemprego era uma forma de ostracismo, uma excomunhão.

Mas chefes, professores e pais, em um misto de insegurança e superproteção, os desencorajam. Talvez por isso esteja nessa faixa etária o maior conflito de gerações.

Acima dos 35 anos parece difícil aprender, mas é a época mais fácil. Muitas indústrias levarão um bom tempo para serem completamente transformadas, é uma boa época para se especializar. Se você ainda não está a par das particularidades de segmentos como Comércio Eletrônico e Computação em Nuvem é uma boa época para analisar esses segmentos que tendem a mudar bastante sua carreira, ainda longa, pela frente.

Depois dos 45 é preciso aprender a administrar recursos cada vez mais escassos, equipes remotas, logística e conflitos de todos os tipos. As ferramentas de análise de métricas criam bases de dados cada vez mais detalhadas, mas quem procura boas respostas precisa saber fazer perguntas relevantes.

Com mais de 55 anos há maturidade para analisar seu conhecimento e sistematizar sua produção. Criar blogs, escrever análises, produzir e-books e podcasts é uma boa forma de manter o conhecimento reciclado, ao mesmo tempo que ajuda a debater sua experiência com novas gerações. É também uma boa época para participar de Fóruns e associações diversas, como redes de especialistas e grupos dedicados. Um bom ponto de partida pode estar na análise de quanto mudou a profissão desde a sua formação universitária.

Acima dos 65 é uma boa época para se dedicar a compreender melhor a Arte e a Filosofia (não que sejam desimportantes em outras épocasl). Não se preocupe com os filósofos recentes, que ainda se debatem tentando negar ou rotular o que acontece. Leia Nietzsche, que provavelmente se divertiria com a Internet. Pitágoras, Aristóteles e Epicuro são de uma época parecida com a nossa. Picasso e Duchamp também. Lembre-se de contribuir, sempre que possível, para a Wikipédia.

Depois dos 75, que eu espero ser a meia-idade do Futuro próximo, há muita diversão. A Fotografia, cada vez mais popular, é uma boa forma de manter o cérebro ativo e dinâmico. A partir dessa idade, e videogames estão liberados.

luli radfahrer

Luli Radfahrer é professor-doutor de Comunicação Digital da ECA (Escola de Comunicações e Artes) da USP há 19 anos. Trabalha com internet desde 1994 e já foi diretor de algumas das maiores agências de publicidade do país. Hoje é consultor em inovação digital, com clientes no Brasil, EUA, Europa e Oriente Médio. Autor do livro 'Enciclopédia da Nuvem', em que analisa 550 ferramentas e serviços digitais para empresas. Mantém o blog www.luli.com.br, em que discute e analisa as principais tendências da tecnologia. Escreve a cada duas semanas.

 

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