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luli radfahrer

 

12/11/2012 - 03h23

Muito barulho por cinco invenções

Boa parte das transformações econômicas e sociais vividas desde o final da década de 1970 deve-se à invenção de cinco tipos de produtos eletrônicos de consumo, apoiados e acelerados pela Internet. Só cinco? Essencialmente sim. Por mais que o número pareça minúsculo, ele é bastante significativo quando comparado ao histórico de outras categorias. O transporte, por exemplo, também foi profundamente afetado por cinco invenções no século 20: automóvel, ônibus, motocicleta, caminhão e avião.

No que diz respeito aos tamagotchis eletrônicos, a primeira invenção de impacto foi o microcomputador. Graças a esse brinquedo despretensioso, surgido em garagens que pareciam os antigos laboratórios de Alquimia, o cálculo e armazenamento de grandes volumes de informação deixava as grandes máquinas de processamento de dados e chegava às casas das pessoas comuns.

Décadas mais tarde, o notebook levou a computação para a praia, restaurantes e salas de reunião. Mal deu tempo para seus usuários comemorarem a emancipação que tal equipamento parecia trazer, liberando-os das antigas escrivaninhas, quando se chegou à conclusão que o que tinha acontecido era o contrário. Não era o espaço pessoal que tinha invadido o ambiente de trabalho, mas o oposto. Os olhos que viam com desdém a ostentação dos primeiros usuários de notebooks em mesas de cafés e restaurantes passaram a ver os mesmos coitados com a pena reservada a quem não conseguia se livrar do trabalho nem para comer.

Consoles de videogames, frequentemente ignorados quando o assunto é computação pessoal, levaram o processamento gráfico e a capacidade de reproduzir sons e vídeos para ambientes inexplorados: as salas de TV. O entretenimento pessoal transformava em experiências imersivas jogos que até há pouco tempo eram versões empobrecidas de tabuleiros. Pouco depois smartphones levaram a conexão, a computação, a interação social e o entretenimento para os bolsos. Mensagens, notícias, documentos, filmes e jogos em todos os lugares mudaram o trabalho, o consumo e boa parte do comportamento social. Tablets multiplicaram as telas, simplificaram a computação e transportaram a experiência televisiva para colos e camas. Hoje produzimos e consumimos conteúdo o tempo todo, e boa parte dessa experiência é social.

Tudo isso em cerca de quatro décadas. Hoje não é mais preciso um grande esforço criativo para imaginar como era limitada a vida no século passado. No emblemático ano 2000, que antes marcava o "futuro", não existiam Facebook, Wikipedia, YouTube, Twitter ou AngryBirds e até mesmo o Google era pouco mais do que um experimento. Para a Geração Facebook nada disso é inovação, apenas pré-requisito.

Há quem ainda teime em classificar a época em que vivemos como um período de turbulência, que eventualmente será assimilado pela sociedade. Mas há grandes indícios do contrário. A inovação tende a ser cada vez mais pulverizada, distribuída, colaborativa e democrática, com sistemas de código aberto, APIs e kits de hardware levando as novas ideias às garagens de todos. É certo que boa parte dessas novas invenções não sobreviverá ao darwinismo tecnológico, mas em um ambiente repleto de inventores é bastante provável que algumas ideias verdadeiramente brilhantes surjam dos locais menos esperados, promovendo com elas uma revolução sem precedentes.

Pela primeira vez não é mais necessário esperar a bênção de uma grande corporação ou investidor para que um novo produto materialize o sonho de uma nova interação. Se a sua geladeira, fogão, vaso de plantas, chuveiro, tapete ou cinto de segurança (ainda) não se conectam à rede é só uma questão de tempo para que você ou algum desconhecido invente um novo acessório que o faça. E com ele altere boa parte da Economia que se considera normal hoje, cheia de supermercados, cartórios, jardineiros, zeladores, salas de espera, depósitos e garagens. O Futuro, afinal, é parecido com o presente, tiradas dele as coisas que não fazem sentido.

Estamos apenas no começo. Os próximos anos deverão trazer descobertas nunca imaginadas nos campos de Robótica, Inteligência artificial, Biologia sintética, Nanotecnologia e tantas outras, pulverizadas e incrementadas por inventores anônimos, em uma nova revolução industrial sem precedentes. Nem fim.

luli radfahrer

Luli Radfahrer é professor-doutor de Comunicação Digital da ECA (Escola de Comunicações e Artes) da USP há 19 anos. Trabalha com internet desde 1994 e já foi diretor de algumas das maiores agências de publicidade do país. Hoje é consultor em inovação digital, com clientes no Brasil, EUA, Europa e Oriente Médio. Autor do livro 'Enciclopédia da Nuvem', em que analisa 550 ferramentas e serviços digitais para empresas. Mantém o blog www.luli.com.br, em que discute e analisa as principais tendências da tecnologia. Escreve a cada duas semanas.

 

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