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luli radfahrer

 

17/12/2012 - 03h35

Os novos velhos vícios

Hoje em dia é comum entre pais de adolescentes uma grande preocupação quanto aos hábitos de seus filhos. As queixas quanto a maconha, pornografia, jogos e consumismo parecem saídas da década de 1960.

Será que depois de anos de conquistas e liberdades estaríamos frente a uma nova geração de reacionários, repetindo as críticas de que tanto reclamavam quando vindas de seus pais? Ou será que, camufladas sob nomes usados há mais de meio século, novas ameaças se aproveitam de velhos termos?

A maconha, por exemplo, não é a mesma ganja do Bob Marley. Anabolizada pela engenharia genética, a cannabis tem hoje um princípio ativo mais potente e atordoante, estimulando a dependência.

Sua forma de ação, mais eficaz entre usuários frequentes do que entre iniciantes, dá à droga uma aura inofensiva, enquanto seus efeitos bestificantes só acabam percebidos a médio prazo.
Por mais que eventuais marchas e passeatas deem a impressão de que a erva é injustamente maldita, é bom lembrar que o verdadeiro maconheiro não marcha, mas fica sentado na arquibancada com o olhar meio perdido e o sorriso fácil.

A luta pela descriminalização de uma droga cuja potência cresce a cada apreensão pode levar a uma discussão quanto a eventuais interesses em sua legalização, mas isso fugiria ao tema desta coluna.

Outro mal subestimado é a pornografia. Ela não remete mais à liberdade de expressão ou ao erotismo. Pelo contrário, é uma indústria pioneira e obscura, uma das primeiras a testar comércio eletrônico, streaming de vídeo, webcams, geolocalização e tantas outras novidades. Hoje atende a cerca de 30 mil pessoas por segundo e compõe mais de 12% do conteúdo da rede, acessado com a mesma facilidade que se pirateiam filmes e músicas.

Quando comparada às revistas de sacanagem e filmes de inferninhos, o voyeurismo sexual de hoje é tão intenso e fácil que entorpece e compromete relações com pessoas normais, difíceis e monótonas quando comparadas às ferramentas à disposição do sexo individual.

Até mesmo os games, com efeitos especiais e roteiros detalhados, podem ser nocivos se usados sem moderação. Muito distantes de "Tetris" e "Pac-Man", os jogos de hoje são superproduções que utilizam todo tipo de pesquisa para gerar recompensas psicológicas e podem, principalmente entre aqueles cujas emoções estão em desenvolvimento, criar uma forte dependência.

Por último, o comércio se transformou. Estimulado pela publicidade onipresente e pela cultura do consumo para diminuir frustrações e buscar compensações, ele se manifesta em lojas que nunca fecham, ofertas em todo lugar, compras em um clique e débitos infinitos.

O mundo está mais complexo, é preciso uma mudança de atitude. Largado à própria sorte o pobre adolescente pode ser mimado por uma propaganda mentirosa e se tornar frustrado com o mundo que não se rende às suas expectativas.

Em casos extremos, a situação pode levar ao isolamento social e à depressão. É um problema grande o suficiente para chamar a atenção dos pais. A solução, rápida e indolor, pode estar no estímulo a boas conversas. Se isso, é claro, não for pedir demais.

luli radfahrer

Luli Radfahrer é professor-doutor de Comunicação Digital da ECA (Escola de Comunicações e Artes) da USP há 19 anos. Trabalha com internet desde 1994 e já foi diretor de algumas das maiores agências de publicidade do país. Hoje é consultor em inovação digital, com clientes no Brasil, EUA, Europa e Oriente Médio. Autor do livro 'Enciclopédia da Nuvem', em que analisa 550 ferramentas e serviços digitais para empresas. Mantém o blog www.luli.com.br, em que discute e analisa as principais tendências da tecnologia. Escreve a cada duas semanas.

 

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