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manuel da costa pinto

 

21/10/2012 - 03h00

'Alfabetos' reúne artigos sobre literatura do italiano Claudio Magris

Existe uma lei implacável da criação literária: não há grande escritor que não seja grande leitor. Infelizmente, a recíproca não é verdadeira: nem sempre um leitor arguto e erudito consegue transpor sua imaginação crítica para o registro ficcional. Caso bastante singular é o de Claudio Magris, italiano cuja prosa ensaística supera em muito seus romances (como "Às Cegas" e "O Senhor Vai Entender").

Em "Danúbio" e "Microcosmos", por exemplo, o autor nascido em Trieste (nordeste da Itália) em 1939 faz relatos de viagens pela paisagem cultural da Mitteleuropa (a Europa central, confluência das culturas germânica e eslava), mesclando memórias e referências intelectuais para compor retratos intensos de lugares e pessoas.

O resultado é uma "prosa literária de não ficção" (na definição de Alexandre Eulalio para o gênero ensaio), uma forma de literatura que não precisa recorrer à invenção para provocar empatia semelhante à identificação que experimentamos com personagens romanescas.

É preciso levar isso em conta ao ler "Alfabetos", reunião de resenhas de livros e artigos publicados, na maioria, em coluna no jornal milanês "Corriere della Sera". De Heródoto a Kipling, são críticas cobrindo um espectro amplo, comum em articulistas da imprensa.

Nada comum é o ponto de vista desse germanista que não abandona a propensão de sistematizar a história literária, porém sabendo que esta "pressupõe um cânone (...) destinado a ser contestado, modificado e reassentado". Nascido numa cidade bifronte, entre a Itália mediterrânea e a ex-Iugoslávia, Magris reassenta suas leituras a partir de uma biblioteca em que o russo Fiodor Sologub aparece como precursor de Kafka e prepara terreno para o mais fascinante ensaio do volume, sobre a literatura de Praga.

"Alfabetos" nos apresenta autores desconhecidos, como o esloveno Boris Pahor (de "Necropoli"), mas é sobretudo uma coletânea em que Magris divide suas obsessões de grande leitor, gênese do grande ensaísta.

LIVRO
ALFABETOS: ENSAIOS DE LITERATURA
AUTOR: Claudio Magris
TRADUÇÃO: Maria Célia Martirani
EDITORA: Editora UFPR
(454 págs., R$ 58)

Carles Mercader/Divulgação
O autor italiano Claudio Magris
O autor italiano Claudio Magris

O CONDE CIANO, SOMBRA DE MUSSOLINI
Ray Moseley; tradução de Gleuber Vieira(Globo Livros, 408 págs., R$ 49,90)
Nessa biografia de Galeazzo Ciano, genro de Mussolini e homem forte na hierarquia do "Duce", vemos como os bastidores do fascismo -com manobras, tráfico de influências e traições- desmentem a ideia de que o regime assentava sobre a pureza ideológica e sobre a ruptura radical com os antigos estamentos da burguesia e da nobreza.

A/B
Vitor Araújo (independente, R$ 15)
Em seu segundo CD, o pianista e compositor pernambucano emula o vinil para demarcar territórios: no "lado A" está a suíte erudita "Solidão"; o "lado B" inclui baião e rock também de sua autoria e uma peça do nacionalismo modernista chacoalhada pela percussão de Naná Vasconcelos -um dos parceiros desse jovem músico de imaginação desgovernada, porém prodigiosa.

AS MULHERES DO 6º ANDAR
Philippe Le Guay (Paramount Home Entertainment, R$ 29,99)
Na Paris dos anos 1960, um financista
conservador descobre que sua nova e encantadora criada pertence à comunidade de empregadas espanholas que trabalham em seu prédio. O ator Fabrice Luchini injeta patética ingenuidade nessa fábula de 2011, em que assimetrias atuais da Europa são abordadas (e resolvidas) pelo viés sentimental.

LIVROS
MICROCOSMOS
A bacia do Adriático é o cenário para Magris compilar memórias que se retraem diante das conflagrações da Europa central.

AUTOR: Claudio Magris
TRADUÇÃO: Roberta Barni
EDITORA: Companhia das Letras (2011, 296 págs., R$ 46)

DANÚBIO **
O rio Danúbio é o fio condutor dessa narrativa que tem nomes da história centro-europeia, como o filósofo Wittgenstein e algozes nazistas.

AUTOR: Claudio Magris
TRADUÇÃO: Elena Grechi e Jussara de Fátima Mainardes Ribeiro
EDITORA: Companhia das Letras (2008, 448 págs., R$ 29, ed. de bolso)

manuel da costa pinto

Manuel da Costa Pinto é jornalista e mestre em teoria literária e literatura comparada pela USP. É editor do 'Guia Folha - Livros, Discos, Filmes' é também do programa 'Entrelinhas', da TV Cultura. Escreve aos domingos.

 

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