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manuel da costa pinto

 

11/11/2012 - 02h30

Livro reconstitui 70 anos da Magnum por meio das "folhas de contatos"

"Magnum - Contatos" reúne 435 imagens de 69 fotógrafos da mítica agência fundada em 1947 por Henri Cartier-Bresson e Robert Capa, entre outros mestres da fotografia do século 20.

Além de registros históricos, como da Guerra Civil Espanhola e do desembarque dos aliados na Normandia na Segunda Guerra Mundial (anteriores à Magnum, porém integrados pelos autores ao acervo da cooperativa), o livro inclui 139 folhas de contatos.

Para quem cresceu na era digital, vale explicar que "contato" era a folha em que se imprimiam todos os negativos do filme fotográfico, com as marcas dentadas que prendiam a bobina à máquina. De posse da "folha de contato", o fotógrafo escolhia as imagens que mereciam ampliação e, em geral, conservava o registro da sequência original.

Hoje, com máquinas que disparam cliques como metralhadoras e armazenam milhares de imagens captadas pelo sensor, não faz sentido conservar tal sequência. Numa época em que a película limitava o número de fotografias, porém, o contato traduzia a habilidade e o "timing" do fotógrafo na escolha de cada enquadramento --especialmente no fotojornalismo, caso dos profissionais da Magnum.

Robert Capa/International Center of Photography
Desembarque dos aliados na Normandia, em junho de 1944
Desembarque dos aliados na Normandia, em junho de 1944

Ver contatos e ampliações, lado a lado, é como assistir a uma cena e, em seguida, contemplar a imagem que a resume e eterniza. Pode ser uma sequência da pesca de atum na Espanha, cujos contatos revelam o turbilhão do qual Jean Gaumy extraiu a plasticidade de seu instantâneo, ou cenas de um pacífico protesto político que derivam para uma batalha campal, como ocorre na imagem do Domingo Sangrento feita por Gilles Peress em 1972.

Aliás, o registro desse massacre de ativistas católicos por militares britânicos, em Belfast, acabou sendo requisitado pelas autoridades --o que leva a uma questão discutida por Kristen Lubben, organizadora do livro.

Pois, se o volume representa o "epitáfio da folha de contato", indica ainda como seu fim enfraqueceu o lastro de realidade da imagem: na ausência da "folha de prova" (como também era chamado o contato), fica mais difícil provar que o que provoca emoção estética possui também sentido ético.

LIVROS

MAGNUM - CONTATOS * * * *
ORGANIZAÇÃO: Kristen Lubben
TRADUÇÃO: Jorio Dauster
EDITORA: Instituto Moreira Salles (508 págs., R$ 190)

CARTIER-BRESSON: O OLHAR DO SÉCULO * * * *
A partir de entrevistas com Cartier-Bresson, Assouline mostra como o fundador da Magnum conquistou dimensão autoral para a fotografia.
AUTOR: Pierre Assouline
TRADUÇÃO: Julia da Rosa Simões
EDITORA: L&PM Pocket (2012, 400 págs., R$ 22)

EXPOSIÇÃO
MAGNUM - CONTATOS
A mostra com 39 imagens da publicação homônima permite ver a reprodução de contatos e imagens de Cartier-Bresson, Capa, Rene Burri e Josef Koudelka, entre outros.

*

LIVRO
A MÁQUINA DA LAMA * * *
Roberto Saviano; tradução de Joana Angélica d'Avila Melo (Cia. das Letras, 160 págs., R$ 29,50)
Em 2006, Saviano lançou "Gomorra", que dissecava a mecânica da Camorra (máfia napolitana). Obrigado a viver sob proteção policial, o escritor e jornalista italiano persiste no tom Eloquente para denunciar os conluios entre organizações criminosas e lideranças políticas --sobretudo a máquina midiática de difamação de quem expõe a lama da vida pública de seu País.

DISCO
DIVA, DIVO * * * *
Joyce DiDonato (Virgin Classics/EMI Music, R$ 29,90)
A meio-soprano norte-americana explora uma extensão de voz que permite incluir papéis masculinos em seu repertório. A partir de duas óperas intituladas "A Clemência de Tito", canta árias da anti-heroína Vittelia (da versão de Mozart) e de seu amante Sesto (da versão de Gluck), numa alternância de gêneros que inclui trechos de Massenet, Berlioz e Rossini, com destaque para o ardor juvenil de seu Cherubino ("Le Nozze de Figaro", de Mozart).

FILME
TRABALHAR CANSA * * *
Juliana Rojas e Marco Dutra (Lume, R$ 49,90)
Enquanto o marido executivo (Marat Descartes) passa por bizarras entrevistas de emprego, a mulher (Helena Albergaria) abre um mercadinho onde ocorrem situações fantasmagóricas. Entre o mundo corporativo e a falta de perspectiva, predomina o registro melancólico de uma classe média que desvela, no limite do "nonsense", a selvageria reprimida no cotidiano do trabalho.

manuel da costa pinto

Manuel da Costa Pinto é jornalista e mestre em teoria literária e literatura comparada pela USP. É editor do 'Guia Folha - Livros, Discos, Filmes' é também do programa 'Entrelinhas', da TV Cultura. Escreve aos domingos.

 

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